O fogo queima intensamente o Pantanal sul-mato-grossense desde junho e a destruição gera prejuízos para a saúde das espécies que habitam o Pantanal e também das que vivem fora dele. Nesta semana, a fumaça voltou a tomar conta de Corumbá.
A fumaça atinge a população local e animais com poluentes pelo ar, pela água e pela terra em curto, médio e longo prazo. “Para os poluentes não há fronteiras”, afirma Sandra Hacon, do DENSP/ENSP (Departamento de Endemias Samuel Pessoa), ao comentar o alcance dos problemas de saúde causados pelas queimadas.
A depender da direção, da velocidade dos ventos, de outras condições meteorológicas e do tamanho das partículas geradas pela queima, a poluição pode chegar a cruzar municípios e estados.
“Partículas de poluentes podem penetrar profundamente nos pulmões, chegando à corrente sanguínea, com efeitos sistêmicos para o organismo humano. Esses poluentes são responsáveis por cerca de um terço das mortes por AVC, doença pulmonar obstrutiva crônica, asma e câncer de pulmão. Além de um quarto das doenças do sistema circulatório”, cita Hacon, que é bióloga e pesquisadora.
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Contaminação das águas
Coordenadora da Pibss/Fiocruz (Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre) e pesquisadora da ENSP, Marcia Chame também apontou a contaminação pela poluição atmosférica ao elencar problemas enfrentados por quem vive no Pantanal durante as queimadas.
Ela destacou ainda que a contaminação ambiental também torna a água imprópria para consumo, elevando a frequência de infecções intestinais. Nesse contexto, ela explica que há um aumento de doenças de pele desconhecidas.
“A fumaça e o material particulado no ar geram contaminação por mercúrio e outros elementos químicos tóxicos. As cinzas brancas, resultantes da queima de toda a matéria orgânica, também são compostas de elementos que geram contaminação, intoxicação e doenças degenerativas como câncer, que só aparecerá tempos depois”, diz.
“Com a chegada das chuvas, toda a cinza deságua nos corixos, poluindo os rios, as baías e matando peixes e alevinos – iscas que são fonte de renda de muitas comunidades. Não há mais água potável para beber”, detalha Marcia.
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Pantaneiros
Outros danos listados por Marcia Chame atingem todos os aspectos da vida, da saúde física e mental à economia, ampliando a dimensão do estrago. “As pessoas pantaneiras sofrem os mesmos impactos que animais e plantas. Respiram o mesmo ar e sentem o mesmo calor, sofrem queimaduras quando tentam apagar o fogo e são alcançadas ou contaminadas por ele”, lamentou a pesquisadora.
“Perdem suas lavouras, seus animais de criação e estimação, a pesca, o turismo e formas alternativas de viver. Perdem a palha e a madeira com as quais constroem suas casas nas aldeias. Além disso, perdem a referência dos lugares onde nasceram e vivem”, acrescenta.
Ao listar os prejuízos, Marcia também chama a atenção para a saúde mental dos atingidos. “Os níveis de suicídios são grandes. Há depressão entre idosos e jovens, que não sabem por onde começar e não possuem recursos para um recomeço”, revela Chame.
Na mesma linha, Sandra Hacon reforça que as queimadas prejudicam a saúde humana desproporcionalmente, pois os determinantes sociais da saúde, como local e condições de moradia, nível de acesso a serviços de saúde e falta de saneamento, tendem a exacerbar os efeitos da exposição aos poluentes.
“Em geral, os impactos são mais acentuados nas populações de menor renda per capita, que vivem condições de moradia precárias”, afirma. A poluição do ar, das águas, dos alimentos, do solo, atinge os expostos de diferentes maneiras, intensidades e magnitudes.
“Os mais vulneráveis, como crianças menores de 5 anos, gestantes, idosos e pessoas com comorbidades, são as mais afetadas”, explica Sandra.
Incêndios no Pantanal
A terça-feira marca o 113º dia de operação no Pantanal sul-mato-grossense. As equipes de bombeiros localizadas na região das proximidades do Porto da Manga realizaram o combate direto, linha de controle e rescaldo.
Há outra linha de fogo que segue paralela aos focos já combatidos e desloca-se em direção ao Porto da Manga, margeando em flancos o Rio Paraguai e a rodovia MS-228. Devido à gravidade e à extensão do incêndio, permanece a intervenção dos bombeiros in loco para acompanhamento e gestão das ações de combate.
Ao nordeste do Pantanal sul-mato-grossense, na região do Rabicho, mantém-se a atuação de combate à propagação das chamas. Após a extinção do fogo, a equipe permanece no local para realização de um monitoramento contínuo.
A equipe atuante em Maracangalha deslocou-se para uma ação de combate nos pontos de calor detectados na região.