Pastor demitido da Aliançados poderia usar Arena para cursos ao custo de R$ 40 mil a diária

Segundo denúncia, pelo menos 40 pastores da Aliançados foram demitidos em circunstâncias de humilhação

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Pastor Paulo Lemos – (Foto: Ana Laura Menegat)

Acusações contra o líder da Comunidade Cristã Aliançados em Mato Grosso do Sul, o pastor Denilson Fonseca, ganharam repercussão midiática nacional, após o pastor Paulo Lemos publicar uma nota oficial sobre seu desligamento da comunidade, que foi acompanhado de assédio moral e destruição de sua imagem. A nota foi publicada no domingo (25), por meio de vídeo em rede social, mobilizando centenas de comentários na postagem, dos quais muitos são de relatos de pessoas que teriam sofrido o mesmo tipo de desmoralização.

Segundo Lemos, nos últimos anos, pelo menos 40 pastores foram demitidos sob o mesmo “modus operandi”. Os afastamentos seriam sempre acompanhados de destruição da imagem do pastor alvo do momento. O motivo? Eles seriam pessoas que ‘sabiam demais’ ou que ganhavam ‘mais visibilidade e fama’ do que deveriam.

Além disso, conforme os relatos de Paulo Lemos e de outros ex-integrantes que ainda preferem não ser identificados, os escândalos e demissões em público aconteceriam em meio a momentos de crises financeiras da Aliançados, e, alguns deles, já foram culpabilizados pelo “sumiço” de dinheiro da igreja.

A partir desse acontecimento, o nome do líder da Aliançados voltou a ganhar destaque midiático, principalmente após ficar conhecido por impor metas de arrecadação financeiras nas igrejas pertencentes a Aliançados. Além disso, seu nome foi citado por expor pastores e ofendê-los ao ponto de afirmar que seria um erro “manter fiéis pobres” na comunidade.

“O que ele fez comigo, fez com um, fez com dois, com três, com quatro, com cinco, com trinta, com quarenta, e ficava por isso mesmo. Isso seria meio que uma forma dele manter a imagem dele, essa estabilidade. Quando os fiéis começam a desconfiar, por exemplo, de um sumiço de algum dinheiro, alguma obra injustificada, ele encontra um culpado”, disse Paulo Lemos em entrevista ao Midiamax.

Diária de R$ 40 mil para ministrar curso na Arena Aliançados

Fachada da Arena Aliançados – Ana Laura Menegat

Em razão dos acontecimentos a que Paulo foi exposto, ele diz ter perdido a esposa, ter sua fonte de sustento reduzida pela metade e ainda ter a imagem atacada. Em meio aos altos e baixos, ainda como integrante da Aliançados e sem ter salário, ele afirma que foi-lhe ofertado o espaço da Arena Aliançados na Avenida Mato Grosso. Os salários de Paulo e de outros pastores passaram de R$ 4,8 mil para R$ 2 mil, em dezembro de 2023.

Com a redução salarial em 50%, Paulo ministrava cursos em prédio na Vila Bandeirantes, onde ele coordenava uma escola de ensinamentos cristãos. Entretanto, o prédio foi fechado. Após isso, um dos pastores do alto escalão da Aliançados teria informado que Paulo poderia usar a Arena ou um anexo do local.

Contudo, ele conta que a contrapartida surpreendeu e o fez desistir do projeto. “Se você quiser usar a anexo, a diária é R$ 2,5 mil. Ou se você quiser usar o templo principal, a diária é R$ 40 mil”, relatou Paulo sobre a oferta recebida. O curso duraria dois dias, ao custo de R$ 197, tornando-se inviável para o pastor.

Dezenas comentam terem sofrido algo semelhante

Pastor Paulo Cesar Lemos – Foto: Ana Laura Menegat

“Se você der uma olhadinha ali, você vai ver quantas pessoas passaram pela mesma situação, mas não tiveram a coragem. Eu não tenho mais nada a perder. Não tenho parente, ninguém aqui, meus filhos moram em outro estado, estão todos grandes, casados, enfim”, explicou o pastor Paulo Lemos, ao falar sobre a repercussão de seu vídeo.

Entre os que comentaram, estão pastores conhecidos nacionalmente, com mais de 300 mil seguidores no Instagram. Todas as identidades foram omitidas, para preservar a individualidade daqueles que podem não querer ser identificados na reportagem.

Nos comentários destacados abaixo, um pastor chama a liderança da Aliançados de “seita”, enquanto outra pessoa fala sobre ter sido testemunha de “absurdos”.

Captura de tela realizada no dia 30 de agosto de 2024.

Em outro comentário, outros pastores relatam terem sofrido represálias e humilhações semelhantes. “Minha saída não foi nada ao contrário do que estão falando”. Confira abaixo:

Captura de tela realizada no dia 30 de agosto de 2024.

Ao rolar a página entre centenas de comentários, não é difícil encontrar relatos que se assemelham ao do pastor Paulo Lemos. Em um desses, é destacada a seguinte afirmação: “Assim como todos, na nossa saída pra eles e pra maioria que frequentam a igreja, nós ficamos como rebeldes e desleiais. Foram ditas mentiras, calúnias a nosso respeito pelo atual pastor”, escreveu.

Captura de tela realizada no dia 30 de agosto de 2024.

Chefe da Aliançados pedia mais dinheiro para pagar dívidas

Recentemente, a aquisição de um terreno ao lado da Arena Aliançados, na Avenida Mato Grosso, o qual pertencia à empresa Tim S.A., foi motivo de briga na Justiça. Conforme as informações que constam em processo aberto, o terreno de 7,5 mil m² havia sido vendido por R$ 13,5 milhões.

Entretanto, a comunidade pediu devolução do terreno, sob justificativa de não conseguir arcar com o valor prometido. Na Justiça, a Tim alegou ter sido lesada por perder oportunidade de fazer outros negócios com a venda do terreno.

Em alguns apelos à comunidade, há relatos na denúncia sobre o pastor levantar recursos para tentar arcar com os custos da compra. Ocorre que, em meio a esse imbróglio, não fica claro onde foi parar o dinheiro arrecadado, bem como parte do dinheiro que deveria ter sigo pago para a empresa dona do imóvel.

Entre os apelos estavam incluídos também pedido de dinheiro para pagar a folha de funcionários, parcela do consórcio responsável por financiar a compra do terreno da Tim, entre outros.

“A pedição era tão forte que, vinha com os jargões de que quem tinha dinheiro na poupança deveria deixar na igreja. Deus daria três vezes mais e se tivesse dinheiro reservado para viagens, deveria deixar também, porque em 2024 Deus daria três vezes mais viagens para quem ajudasse a pagar o terreno do Tim”, afirma o material do GDS.

Entretanto, em meio à “miséria da igreja”, as afirmações são de que o pastor Denilson andaria de Range Rover, morando no Alphaville 1, em casa avaliada em R$ 4 milhões.

Caso da escola de “cura gay”

O nome de Denilson ganhou os holofotes de Campo Grande ainda em 2019, quando foi alvo de investigação do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por vender um “curso de cura gay”. À época, o caso foi investigado como discriminação contra pessoas LGBTQI+.

O curso contava com uma colaboração na quantia de aproximadamente R$ 1 mil por participante. Denominado como “Escola de Cura”, prometia a libertação da “doença” depois de três dias de acompanhamento. Por fim, a investigação foi arquivada.

Posicionamento do pastor Denilson Fonseca

Em nota enviada ao Jornal Midiamax após ser questionado sobre as denúncias do portal e do pastor desligado, Denilson Fonseca negou todas as acusações feitas contra ele no exercício de chefe da Comunidade Cristã Aliançados. Segue a nota na íntegra:

1º NÃO existe nenhuma acusação de desvio de recursos da Comunidade Cristã Aliançados, envolvendo a pessoas de seu presidente Denilson Fonseca esse fato assim como outros não passa de fake News, com o objetivo de manchar a honra e conduta do Apóstolo Denilson Fonseca.

2º O Pastor Paulo Lemos, não foi expulso da Comunidade Cristã Aliançados, ele foi destituído dos cargos que exercia de forma voluntária, por má conduta, nos termos do Estatuto de Ética da instituição, sendo que após esta medida de afastamento dos cargos, este achou por bem sair desta igreja, jamais sendo expulso. Referidas afirmações de expulsão são meras ilações.

3º Quanto a propagação de fake News, infelizmente não podemos dizer quem é o autor, vez que existe um inquérito policial em trâmite para investigação de sua autoria, por tanto não podemos atribuir a qualquer pessoa tal prática até o presente momento.

4º Quanto às acusações do GDS News, podemos dizer que existe um processo em trâmite no Judiciário de Mato Grosso do Sul, onde busca apurar as fontes e esclarecimentos de todos os fatos imputados a Comunidade Cristã Aliançados, bem como a pessoa de seu presidente Denilson, e que tal processo corre em segredo de justiça, fato que nos limita a falar sobre este.

5º Sobre questões salariais de Pastores, começamos deixando claro que não temos Pastores contratados em nosso quadro de funcionários, e que todos os que servem neste ministério são de forma voluntária, e nos termos da Lei do Voluntariado. A fim de auxiliar o trabalho voluntário de pastoreio, alguns pastores recebem ajuda de custo para despesas realizadas no exercício deste ofício voluntário. Neste sentido, as ajudas de custos estão, necessariamente, atreladas a gastos comprovadamente realizados por este voluntário.

6º Quanto aos questionamentos de páginas da internet de como os recursos seriam aplicados, cumpre esclarecer que existe uma diretoria que determina a aplicação de recursos, além de ser informada e declarada à Receita Federal todas as entradas e saídas de recursos mensais; Quanto a fiéis, desde que sejam integrantes deste ministério, todos tem livre acesso aos relatórios, tanto de receitas, quanto de despesas, não havendo o que declarar sobre tal assunto.

7º Quanto às alegações de dificuldades financeiras, a igreja, acompanha o cenária nacional, passando por todas as crises e dificuldades que atingem a todos os Brasileiros, porém fazemos uma gestão financeira rigorosa, para que todas as nossas despesas continuem equacionadas e possamos manter nossas despesas rigorosamente em dia, assim como esta nos dias atuais.

8º Ainda quanto ao valor de doação de fiéis, através de dízimos e ofertas, caso não seja uma oferta anônima, todas são devidamente declaradas conforme acima descrito. Assim, não há que se falar em recebimentos mensais por parte de fiéis, a não ser os tributos que este voluntariamente doa para cumprimento de princípios bíblicos. Sendo estes os esclarecimentos que temos a fazer sobre os assuntos, nos colocamos à disposição para quaisquer outros esclarecimentos que julgarem necessários”.

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