Passar um tempo no meio do mato, curtindo a natureza, longe de telas, da poluição e dos problemas da cidade. A prática não é unanimidade, mas funciona como terapia para muita gente. É, inclusive, uma das vitrines turísticas de Mato Grosso do Sul, conhecido como um dos epicentros do ecoturismo.
Mas o lance é que muitas pesquisas já reforçam que, sim, estar em contato com a natureza tem um papel terapêutico – a ciência já definiu que pessoas podem desenvolver um transtorno chamado de déficit de natureza, que impacta diretamente na saúde.
Esse tema, a propósito, é o ponto central da pesquisa do biólogo e educador ambiental Luiz Henrique Ortelhado Valverde, que desenvolve, em Campo Grande, técnicas para minimizar os problemas gerados pela vida agitada nas cidades.
Durante seus estudos de doutorado, o pesquisador abordou uma perspectiva da ecologia chamada de ecologia profunda. “Ela busca reconectar o ser humano com a sua integralidade, com a natureza, de reconhecer como parte da natureza. Uma parte da ecologia profunda propõe-se a desenvolver técnicas de reconexão”, explica Valverde.
Origem da técnica do “banho de floresta”
Para isso, passaram a existir os “banhos de floresta”, uma metodologia de reconexão que começou no Japão na década de 1980. Era uma política de saúde pública e que desde então impacta bastante na saúde da população.
![banho de floresta](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2024/06/19185244/WhatsApp-Image-2024-06-17-at-16.05.21-1024x768.jpeg)
Valverde reforça que, aqui no Brasil, o IBE (Instituto Brasileiro de Ecopsicologia) e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) assinaram um acordo de parceria para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. O objetivo era desenvolver, entre 2021 e 2026, a prática como uma política pública dentro das PICs (Práticas Integrativas e Complementares) oferecidas pelo SUS.
“Antes de ser uma técnica japonesa estudada por pesquisadores da ciência moderna, já é realizada entre os povos indígenas do Brasil. A natureza e o ser humano não estão separados em sua cosmologia, algo que é bem compreendido pelos povos indígenas”, pontua o ecologista.
Urgência de contato com a natureza
“Essa prática é mais que necessária e urgente devido ao caos que vivemos atualmente, seja de ordem social e até patológica. A reconexão com a natureza gera muitos benefícios, não só para a saúde física, mas mental e espiritual também, principalmente em crianças e adolescentes que estão distantes do contato genuíno com a natureza. E esse transtorno traz muitos efeitos negativos também”, detalha o pesquisador.
De acordo com o biólogo, pessoas de todas as idades podem participar. Inclusive, em alguns países onde o tratamento do assunto é mais amplo, médicos e terapeutas receitam pacientes a vivenciarem momentos em meio à natureza.
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Em Campo Grande, os “banhos de floresta” acontecem na cidade. Já houve 3 edições e todas aconteceram no Parque Estadual Matas do Segredo, mas há planos de ampliar o projeto e realizá-los em outros parques da cidade.
“A ideia atualmente é ampliar a rede com aqueles que sentem a necessidade de fomentar a prática em suas vidas e quiçá, levar a discussão como política pública no Estado para escolas, universidades, estabelecimentos penais e outros”, explica Valverde.
Como funcionam os “banhos”
A iniciativa de imersão acontece de forma tranquila, com atividades de contemplação e atenção plena durante a visitação ao parque, o que inclui pés no chão, momentos de caminhada em silêncio, respiração consciente e olhar atento com o objetivo de aguçar os sentidos humanos.
Durante a visita, os participantes são convidados a buscar conexão consigo mesmos e com o mundo, entrando em sintonia com a natureza, desacelerando a rotina e também desenvolvendo consciência ecológica.
A experiência
A educadora Luciene Borges Ortega, de 53 anos, participou de um dos banhos promovidos por Valverde e viu na atividade uma oportunidade para se desestressar.
“Gosto do contato com a natureza e tenho minhas convicções que a Mãe Natureza nos traz muitos benefícios. Gostei da experiência, fazia um tempo que eu precisava pisar na terra, respirar o ar da mata e ouvir o silêncio da natureza”, conta Luciene.
Para ela, o “banho de natureza” gerou vários benefícios. “Respirar um ar mais puro, traz o tempo pra mim, pisar na terra alivia o stress, acalma”, completa.
O próximo “banho de floresta” está programado para ocorrer em julho. Interessados em participar, podem entrar em contato com o pesquisador no e-mail: luiz.valverde@ufms.br.