A comunidade Guarani e Kaiowá da retomada Guaaroka recebeu a visita de um oficial de Justiça com o aviso de despejo na manhã desta sexta-feira (2), na Terra Indígena (TI) Panambi – Lagoa Rica, em Douradina.

Com base na liminar de reintegração de posse, publicada na semana passada, os indígenas receberam um prazo para a saída da área sem o uso de força policial. Conforme o advogado da comunidade, Anderson dos Santos, a Procuradoria Especializada da Funai (Fundação Nacional do Índio) recorreu da decisão.

Guaaroka é uma das sete ‘retomadas de Douradina’, município onde está a Terra Indígena, e fica ao lado da retomada Yvy Ajere. É neste local que se concentra fazendeiros armados estabelecidos em um acampamento a poucos metros dos barracos Guarani e Kaiowá.

A Força Nacional segue no local e nesta quinta-feira (1) prendeu um casal fortemente armado que com uma camionete invadiu outras duas retomadas: Kurupa’yty e Pikyxyin. Um Guarani e Kaiowá acabou ferido sem gravidade.

Imbróglio

“Queremos saber que tipo de diálogo querem fazer com o nosso povo nessa pressão de despejo. Tem ameaça aqui de jagunço, tem ameaça que vem da Justiça. Como querem conversar assim, ameaçando a gente? Inclusive tinha uma proposta de colocar a comunidade das outras retomadas nesta área. Se a gente tivesse aceitado, todo mundo seria despejado agora. Tudo uma mentira! Não vamos desistir da nossa terra do jeito que é certo”, diz um Guarani e Kaiowá da TI Lagoa Panambi presente na retomada Guaaroka.

Conforme o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ele se refere a uma proposta surgida durante as duas reuniões de mediação no Ministério Público Federal (MPF), que ocorreram nesta e na semana passada.

Conforme os relatos de parlamentares e da defesa da comunidade, a proprietária dos 150 hectares em que está a retomada decidiu não patrocinar investidas de atiradores contra a comunidade, preferindo o caminho da Justiça. Além disso, topou negociar a sua área em permuta por terras em outra localidade.

Retomada dos indígenas

Ocorre que a postura desagradou a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul). Entendendo como uma desistência por parte da proprietária, o grupo ruralista propôs que os indígenas se retirassem das outras retomadas em troca destes 150 hectares.

Além dos indígenas não terem aceitado a ideia, lembraram da reintegração de posse, ação judicial que os advogados da proprietária afirmaram que não iriam abdicar.

A retomada Guaaroka inaugurou este último período de retorno aos territórios ainda em posse de terceiros, da Lagoa Panambi, cuja demarcação foi publicado em 2011, garantindo 12 mil hectares.

No dia 13 de julho, os indígenas retomaram Guaaroka e sofreram um primeiro ataque. Um indígena acabou baleado na perna e outros feridos por tiros de bala de borracha disparados por policiais militares. Em resposta à violência sofrida, os Guarani e Kaiowá decidiram retomar Yvy Ajere.