Fumaça se espalha, população de cidades irmãs sofre junta e vive na esperança de chuva no Pantanal

Somadas as populações, Corumbá e Ladário abrigam 117,8 mil moradores

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Fumaça faz parte do horizonte da cidade (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Separadas por apenas uma rua, Corumbá e Ladário compartilham muito mais que as águas do Rio Paraguai e semelhanças culturais entre seus povos. Toda vez que o fogo avança no Pantanal, as cidades vizinhas se unem a um único desejo: chuva forte o bastante para devolver o alagado da planície e mandar embora a fumaça.

“Nessa hora Corumbá e Ladário são uma só”, comenta Diego de Jesus, de 49 anos. O pensamento do mecânico é quase unânime entre os mais de 110 mil habitantes das duas cidades. E também por quem circula “lá e cá”.

Este é o caso da servidora pública Kely Baná, de 39 anos, nascida e criada em Ladário, mas que atualmente mora em Corumbá. “Quando a fumaça chega, as duas cidades sentem, porque afeta por igual. Todo mundo sofre”, afirma.

E o sofrimento dos moradores durante os incêndios, a servidora pública conhece de perto. “Eu sou da área da saúde e o que a gente vê são pessoas com doenças respiratórias, vômito e diarreia lotando as UPAs e o Pronto Socorro. Por meses essa vira a realidade das duas cidades”, relata.

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Fumaça em Corumbá (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

População compartilha sofrimento e tradição

De todos os lados, a quilômetros de distância, é possível ver a cortina de fumaça que encobre a área onde estão os municípios. Somadas as populações, Corumbá e Ladário abrigam 117,8 mil moradores. Pessoas que diariamente se veem expostas à fuligem, fumaça e ao calor extremo.

“É horrível, acordo todos os dias rouca, meu neto fica doente e tudo isso indigna a gente. É uma situação pela qual passamos e sofremos igualmente todos os anos, seja em Corumbá ou em Ladário”, acrescenta a professora Simone Moraes da Silva, de 54 anos.

A fumaça é tradição no inverno, mas o Arraial de São João também. As duas cidades realizam nesta semana a festa junina com banho do santo, consideradas Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Para os moradores, comemorar a data é uma oportunidade de aliviar a tensão dos dias difíceis e também conscientizar a população sobre os perigos dos incêndios florestais.

Rio Paraguai em estado crítico

O nível do Rio Paraguai também preocupa os moradores por estar muito abaixo do normal.
Com a festa de São João, os corumbaense ganharam um espaço extra.

Segundo os moradores, em outros anos as pessoas não conseguiam descer a escadaria do Porto Geral e se aproximar por conta do nível do rio. Porém, em 2024, além de descer a escadaria, a população pode aproveitar os bancos de areia que surgiram.

O Rio Paraguai já chegou a marca de 3 metros abaixo da média histórica para o período. A estiagem e baixa umidade relativa do ar agravam o cenário. Dados do Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai mostram que praticamente toda a bacia está em nível mínimo. Em Ladário, por exemplo, o nível do Rio Paraguai está em 1,31 metros, sendo que o esperado para a época é de 4,41 metros.

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Fumaça no Rio Paraguai, em Corumbá (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

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