Fenômeno fogo de turfa: Terra devastada por incêndio ‘ferve’ no Pantanal de MS

Corpo de Bombeiros e funcionários de fazenda atuam em Aquidauana, entretanto, condições meteorológicas favorecem incêndios

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Fogo subterrâneo é desafio no Pantanal (Fala Povo Midiamax)

Há seis dias, o Corpo de Bombeiros, brigadistas e funcionários das fazendas Maria, Santa Emília e Veneza, no Pantanal de Aquidauana, combatem um incêndio florestal que devastou cerca de 600 hectares. O desafio alcança um fenômeno complexo: fogo de turfa. Imagens registradas na região indicam que a terra “ferve”, condição propícia para combustão.

Turfa é um tipo de material orgânico resultante da decomposição da vegetação no solo. O capitão, Pedroso, especialista em prevenção e combate a incêndios florestais do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul, explica que é comum no bioma Pantanal.

“Nos combates, principalmente na região do Pantanal, a gente encontra bastante ocorrências de incêndios de turfa, também conhecidos como incêndios subterrâneos, o que nada mais é do que um incêndio, que é uma queima bastante lenta que ocorre abaixo do solo em material que está ali sedimentado, misturado com o solo”.

Por que acontece no Pantanal?

O Pantanal tem a maior planície alagada do mundo. Durante o período de cheia, são criadas muitas baías, corixos. Ou seja, as áreas registram volume elevado de água, que abriga resíduos, incluindo resíduos de material combustível.

“Esses resíduos são depositados ali, no fundo dessa baía. No momento em que o período de estiagem, essas baias vão secar, a água vai sair daquele local ou vai ser absorvida pelo solo, enfim, restando apenas os resíduos que vão se misturar com a terra, o solo. A cada ano esse ciclo se repete, então, vão criando várias camadas de material combustível, com material do solo, a terra do solo ali e vão criando essas camadas”.

Portanto, no período de incêndios, quando chega nessa localidade, as chamas vão começar a queimar o material combustível, lentamente, se misturando com o solo, com pouca ou quase nenhuma presença de comburente, um dos ingredientes necessários à combustão, no caso do Pantanal, o oxigênio.

“Durante os períodos de mudança de vento ou rajada de vento, onde existe uma ventilação maior naquele ponto, a gente vai verificar que vai existir presença de uma fumaça maior ou até de chamas naquele local. Em determinados locais, se esse incêndio subterrâneo, o fogo de turfa, chegar até um material combustível ou mais leve, que no caso pode ser um capim ou até as folhas que a gente chama de serrapilheira. Então, vai se iniciar a partir dali um novo incêndio. Isso é um ponto de atenção, principalmente na área do Pantanal e outras áreas aí que em algum período do ano elas ficam alagadas. A gente pode verificar isso também na região do Parque Estadual das Várzeas do Rio e Ivinhema”.

‘Não apaga’

As imagens impressionam, uma equipe realiza o combate e finaliza aceiros. Uma viatura do Corpo de Bombeiros despeja água para tentar amenizar, entretanto, há necessidade de chuva volumosa em todos os biomas de Mato Grosso do Sul.

O funcionário de uma das fazendas atingidas e onde o fenômeno foi registrado, Gilson Nunes, conta que aceiros foram abertos e foi despejado água em alguns pontos, entretanto, o fogo de turfa persiste preocupando.

“Tem aqui no meu vizinho de cerca já está com um (fogo de turfa) queimando a terra. Já fizemos de tudo para apagar, não conseguimos até hoje”, detalha.

Só na área em que trabalha foram 300 hectares destruídos pelo fogo. “Graças a Deus, animal não perdemos nenhum e nós batemos atento também que se desse problema nós íamos tirar o gado. Não entendo fogo desse tipo aí. Nesse vizinho meu, que é na divisa (da fazenda), esse fogo está há mais de ano. Já jogamos água e não consegue apagar. Tem que estar cuidando, pois ele ‘brota’ lá na frente, sai no capim, aí a gente consegue controlar”.

Confira o vídeo:

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