A morte repentina do sertanejo João Carreiro, aos 41 anos, expõe a doença que mais mata pessoas no mundo: problemas cardiovasculares. Entenda o que é o sopro e a troca de válvula no coração, além da importância da prevenção.

João Carreiro morreu durante uma cirurgia cardíaca no do Coração, em Campo Grande. Ele foi velado na Capital e o corpo seguiu para Cuiabá, no Mato Grosso, onde será sepultado nesta sexta-feira (5).

A cardiologista e presidente da SBC-MS (Sociedade Brasileira de Cardiologia de Mato Grosso do Sul), Amanda Ferreira Ben Fatti, explica que o sopro leva esse nome pela característica do som emitido pela irregularidade no coração. O diagnóstico é essencial para as medidas que o profissional irá sugerir ao paciente.

Segundo a médica especialista, cada caso irá exigir um tipo de tratamento, por exemplo, a troca do órgão é sugerida em duas possibilidades, como em caso de refluxo ou obstrução. Em ambos os casos, a circulação do sangue prejudica o funcionamento do órgão vital.

“Quando tem que operar esse paciente? Quando a válvula está com problema importante, além de outras alterações no coração, como o tamanho do coração, ter sintomas… Por isso, tem que fazer uma avaliação clínica de rotina, às vezes, diz ‘ai, não tem sintomas', mas se pede para fazer um exame na esteira, cansa mais do que deveria. Temos que aliar os dados clínicos relacionados aos sintomas, sinais e a anatomia, assim, propor um tratamento cirúrgico. Não existe remédio para problemas de válvula grave, o tratamento é reparo cirúrgico, pode ser feito com uma plástica dessa válvula, dependendo do tipo do problema e dependendo da válvula, ou a troca da válvula. Depende muito do procedimento, às vezes, você vai para cirurgia achando que vai fazer um reparo, mas não consegue, porque o coração do paciente o cirurgião só vai saber na hora como vai se comportar no procedimento”.

Cardiologista e presidente da SBC-MS (Sociedade Brasileira de Cardiologia de Mato Grosso do Sul), Amanda Ferreira Ben Fatti
Cardiologista e presidente da SBC-MS, Amanda Ferreira Ben Fatti (Alicce Rodrigues, Midiamax)

O paciente diagnosticado para a troca de válvula enfrentará duas possibilidades, a válvula biológica ou mecânica. A primeira alternativa é feita com material biológico e na segunda há necessidade de ingestão de anticoagulantes, segundo a cardiologista.

“As válvulas não têm uma durabilidade muito grande, então, os pacientes que usam válvulas biológicas, muitas vezes, evoluem para nova troca porque pode causar uma disfunção. Por isso, é preciso fazer uma avaliação, um diagnóstico precoce para evitar a evolução, que, às vezes, a gente não consegue evitar, mas o que a gente consegue é fazer um diagnóstico dentro de uma janela que o resultado cirúrgico vai ser melhor”.

A especialista frisa que cada caso depende da condição física do paciente, por exemplo, quando o coração está grande demais ou muito dilatado, o que resulta no procedimento da cirurgia. Doenças associadas também estão relacionadas ao pré e pós-operatório, como a pressão alta, diabete, e colesterol alto.

“Tudo é individualizado, o resultado também. Às vezes, se faz um procedimento, como a troca da válvula, o coração do paciente tem que reagir com aquilo. Antes ele não estava nesse estado e depois que você troca mudou tudo. A cirurgia cardíaca é um procedimento extremamente complexo; por isso, pode levar muitas intercorrências. Hoje, as cirurgias estão muito mais seguras, a gente tem protocolos antes, durante e pós-operatório. A medicina não é de fins, mas de meios. A gente não tem garantia absoluta de que o resultado seja o melhor, obvio que tudo que é feito que para o resultado seja melhor possível, mas, infelizmente, às vezes, foge do esperado”.

Doenças do coração estão ligadas a consequências que mais matam no Brasil, o ou AVC (Acidente Vascular Cerebral). Essas doenças estão acometidas pela gordura que se acumula na parede das artérias, progressivamente, agravando o estado de saúde.

“[Com] esse depósito pode, após um estresse físico ou emocional, se romper a parede da artéria e o coágulo fechar todo o vaso. No infarto falta sangue para onde tinha que ir, se faltar a circulação o músculo morre”.

Prevenção pode salvar

Qualquer dor no peito é um sinal urgente para se procurar atendimento médico, apesar de não desconfiar de problemas relacionados ao coração. A especialista reforça que a prevenção é o melhor “remédio” para evitar consequências mais sérias.

“Hábitos de vida são essenciais, é o principal e o mais difícil, mas é possível com alteração comportamental. Ter bons hábitos de vida é o que faz a diferente na evolução, tanto para quem já tem [problemas cardíacos], como para quem não tem. Não é virar ‘fitness' de um dia para o outro, mas mudar os hábitos no dia a dia, ser saudável. Pessoas que tem propensão genética para ter problemas cardíacos deve ficar atento e fazer uma avaliação de rotina”.

Dicas de prevenção

  • Atividades físicas regulares, de pelo menos 150 minutos por semana;
  • Ter alimentação equilibrada, rica em vegetais e fibras;
  • Reduzir alimentos com gordura saturada;
  • Ter sono de qualidade, de sete a nove horas por noite. Estar descansado é importante;
  • Evitar estresse;
  • Reduzir ou cortar vícios, como o cigarro, álcool e drogas.

Texto: Karina Campos e Clayton Neves