Em trecho da Bandeirantes com histórico de mortes, empresários cobram redutor de velocidade

Crianças e funcionária de escola já foram atropeladas no local. Recentemente, dois motociclistas faleceram após colisão no trecho

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Acidentes recentes envolvendo motociclistas na Bandeirantes (Nathalia Alcântara, Reprodução)

Palco de acidentes constantes, a maioria das vítimas sendo motociclistas, a Avenida Bandeirantes, em Campo Grande, é coleciona histórias trágicas. Na última semana, dois homens morreram e um está em estado grave na Santa Casa após colisão na via, em intervalo menor que 7 dias.

Os dois casos aconteceram no mesmo trecho, entre as Ruas Itália e José Paes de Farias. Com a situação cada vez mais frequente, quem trabalha na região se questiona: quantas outras pessoas precisarão perder suas vidas para que algo efetivo seja feito?

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Esta é a principal preocupação de Elisangela Hora, diretora de uma escola particular localizada na Avenida Bandeirantes, por exemplo. À reportagem ela explica que até 2020, bem em frente ao portão principal da escola, havia um quebra-molas. Embora não fosse a melhor das soluções, ele garantia que os condutores de veículos reduzissem a velocidade, propiciando segurança a todos durante travessia da via, principalmente de pais e alunos.

No entanto, desde que o obstáculo foi removido para continuidade das obras do corredor de ônibus na avenida, o número de acidentes disparou, visto que a via se tornou “uma pista de corrida”.

Pedido de faixa elevada

Assim que o quebra-molas foi removido, percebendo que ninguém respeitava a velocidade máxima da via, que é de 50 km/h, Elisângela entrou num imbróglio, encaminhando diversas solicitações para a Agetran. O pedido inicial era de que a Agência instalasse um obstáculo novamente, dessa vez, uma faixa elevada para travessia de pedestres, um direito garantido em lei.

Isso porque, conforme a Lei Municipal n° 5.024 de 22 de dezembro de 2011, “a Agetran é obrigada a disponibilizar faixas elevadas de pedestres em frente às escolas públicas e privadas do município” e que “a prioridade de instalação e colocação será para as instituições de ensino com maior número de crianças, que apresentem riscos aos pedestres, por conta do fluxo maior de veículos”.

No entanto, a resposta que recebeu foi de que, por uma questão de mobilidade urbana, nada que implique como obstáculo pode ser instalado na via. A solução, então, seria estabelecer uma sinalização horizontal e vertical de velocidade máxima de 30 km/h no perímetro da escola. É claro que a medida não surtiu efeito. Basta o semáforo abrir que todos os condutores cortam a via muito acima da velocidade.

“Acontece que eles vêm correndo muito, nem observam que aqui na frente muda de 50 km/h para 30 km/h. Outro problema é que nesta quadra, ali pra frente, tem um terminal. Não existe sinalização indicando esse obstáculo. Quando os condutores chegam lá na frente, se deparam com a obra e desviam em alta velocidade. Quem vem atrás não tem tempo para desviar ou reduzir, é então que ocorrem os acidentes”, explica.

Avenida Bandeirante é palco de inúmeros acidentes (Helder Carvalho, Jornal Midiamax)

Pedido de redutor de velocidade

Neste cenário, a diretora decidiu solicitar um redutor de velocidade. Para ela, só assim os condutores respeitariam o que já é determinado na via. A Agetran respondeu, em reunião realizada há mais de um ano, que o pedido já estava em pauta, mas a licitação da empresa que prestava o serviço na época havia vencido. Assim que a licitação fosse realizada novamente, o redutor seria instalado.

“Já tive uma funcionária atropelada aqui na frente do colégio em 2022. Nossa preocupação se estende aos alunos, que mesmo atravessando na faixa de pedestre, como não tem semáforo na faixa, os motociclistas e condutores de veículos, não respeitam. Já tivemos crianças de escolas arredores atropeladas ali na faixa”, lamenta.

“A gente necessita de um redutor de velocidade, porque nós já temos a legislação. No entanto, não é cumprida e a gente precisa de uma punição, uma consequência, pra que os condutores possam, de fato, cumprir essa velocidade que é de 30 km”.

Instalação de semáforo

Outra tentativa foi a de instalação de semáforo na esquina que antecede a rua da escola e a quebra da onda verde, que corroboraria para diminuição do “corre-corre” na via. Embora cogitada pela Agência, a proposta também não foi atendida.

“Ficamos muito tristes com isso. É uma sensação de impunidade, né? Porque aqui eu tenho crianças muito pequenas. Na tentativa de ajudar, de solucionar parte desse problema, viabilizamos uma entrada e saída pelos fundos, para acesso das crianças maiores. Mas, infelizmente, eu não tenho como mudar o fluxo do meu berçário, do meu maternal, por ser a entrada bem pequena e por serem crianças bem pequenas”, explica.

Uma faixa de pedestres também foi cogitada. Sobre isso, a Agetran afirmou que, como já havia faixas nas duas esquinas da quadra em que a escola está, não haveria a possibilidade de instalar uma no meio.

“Não ficamos muito satisfeitos com essa devolutiva. Uma das poucas coisas que conseguimos foi a minha faixa amarela de embarque e desembarque, mas até ela é sempre desrespeitada, porque as pessoas estacionam ali. A gente também sofre com ciclistas de bicicleta elétrica e até motociclistas invadindo a calçada pra poder fugir do trânsito aqui, colocando em risco não só a minha comunidade, mas também quem passa pela Avenida Bandeirantes”, pontua.

O que diz a Agetran?

A reportagem procurou a Agetran para esclarecimentos. Em resposta ao questionamento sobre a instalação de um redutor de velocidade, a Agência afirmou que “estuda a instalação de radares ao longo da Avenida Bandeirantes”, especialmente nos trechos em que há escolas próximas, e que estão “aguardando apenas as medidas legais para execução”. Não há um prazo estimado.

A nota também pontua que “a via está completamente sinalizada, com sinalização vertical e horizontal renovadas” e que houve reforço de sinalização “na área escolar após conversa com a diretora da instituição”. “A partir da próxima semana, incluirá a escola em uma rota de fiscalização fixa, visando garantir o cumprimento das normas de trânsito”.

A reportagem questionou, ainda, como a lei municipal, que obriga a instalação de faixa elevada em frente às escolas, se aplica no local. Em resposta, a Agetran afirma que cumpre com o Código de Trânsito Brasileiro, que proíbe “a instalação de faixas elevadas de pedestres em vias que possuam corredores de ônibus, como é o caso da Av. Bandeirantes. Essa restrição visaria garantir a fluidez do transporte público, sem comprometer a segurança dos pedestres e a efetividade das medidas de fiscalização”.

Sobre a instalação de semáforo na esquina que antecede a quadra da escola e a quebra de onda verde na via, a Agência não respondeu.

O Jornal Midiamax ainda questionou Agetran sobre a solução estudada para minimizar os acidentes frequentes na via. Em resposta, pontuaram que “o desrespeito às leis de trânsito é uma das principais causas de acidentes graves na Av. Bandeirantes, com infrações cometidas diariamente que colocam em risco a vida de condutores e pedestres. As ações de fiscalização, por vezes vistas apenas como um meio de aplicação de multas, são, na verdade, essenciais para a preservação da vida, conforme estabelecido pelo CTB. Seguir as normas de trânsito proporciona segurança a todos e demonstra responsabilidade social”.

Placa indica apenas embarque e desembarque na via (Helder Carvalho, Jornal Midiamax)

Acidentes recentes na Av. Bandeirantes

Em menos de sete dias, dois motociclistas morreram após uma colisão na Avenida Bandeirantes. Um terceiro, segue internado na Santa Casa. O primeiro caso ocorreu na quarta-feira (6), e envolveu o suboficial da Marinha, Marcos Antônio Francisco Leal, de 57 anos.

Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que um veículo Tucson está seguindo na via e para quando o semáforo fecha, sendo que logo em seguida, um Fiat Toro vem diminuindo a velocidade. Logo depois surge o motociclista, em uma moto BMW, que bate na traseira do Toro.

Com a batida, o motociclista é arremessado para o alto caindo no asfalto. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado para o socorro. A vítima então foi socorrida em estado gravíssimo para a Santa Casa onde veio a óbito.

O segundo caso, que ocorreu no domingo (10), envolveu Felipe Maurício Marques Silva, de 21 anos, que faleceu após ser levado em estado grave para a Santa Casa. O outro motociclista envolvido no acidente segue internado em estado grave.

Na ocasião, um dos motociclistas trafegava pela Avenida Bandeirantes, no sentido sul/norte, e o outro motociclista seguia pela Rua Santa Helena, no sentido leste/oeste, como mostram as imagens de câmeras de segurança.

No cruzamento das vias, ocorre a batida entre os motociclistas, que são arremessados. Pelas imagens é possível ver que uma das motocicletas está com o farol desligado.

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