Após seis meses do incêndio histórico na antiga Favela do Mandela, na região do Coronel Antonino, em Campo Grande, as famílias estão recebendo neste sábado (29) a entrega das primeiras moradias no bairro José Tavares. Das 44 casas, 10 moradores receberam oficialmente as chaves do novo lar.
A entrega foi realizada pela Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), com a presença da prefeita Adriane Lopes (PP). Segundo o diretor da agência, Cláudio Marques, as famílias já estão agilizando o processo de mudança.
Com o rosto emocionado, Regina Adorvina acompanhou a entrega do novo lar para seus filhos, neta e sobrinha. A dona de casa, de 63 anos, aguardava ansiosamente o dia de reconquistar a dignidade para sua família.
“Eu já tenho minha casa, mas eles moravam na comunidade e não tinham. Estou muito feliz porque conquistaram a casa própria”, disse. Sua filha, Regiane Adorvina, de 32 anos, mudará para lá com suas quatro filhas, de 16, 14, 11 e 9 anos. “Depois de tudo que enfrentamos, hoje recebemos nossa casa, agora temos um lugar para morar. Estou muito feliz sabendo que minhas filhas terão um lar digno”, descreveu.
Das cinzas do barraco a casa própria
Lorraine Pereira de Andrade, garçonete, lembra que mudou-se para a comunidade quando seu filho tinha oito meses. Viveram cerca de oito anos em um barraco até o trágico incêndio. Junto com seus outros filhos de seis, cinco e um ano, a família enfrentou dificuldades financeiras por pagar aluguel.
“Agora é batalhar e conquistar mais um pouco. Deus já nos deu o principal, agora não podemos desistir. Foi difícil, mas o dia chegou. É uma casa pequena, mas nos barracos dormíamos com goteiras pingando na nossa cabeça. Agora temos um cantinho onde seu filho poderá dormir confortavelmente, sem passar frio. Se pudéssemos nos mudar hoje, já o faríamos”.
Graciele Nayara, líder comunitária do Mandela, explicou que 187 famílias serão beneficiadas com as moradias nos conjuntos habitacionais Iguatemi I, Iguatemi II, José Tavares, Oscar Salazar e Talismã. A expectativa é que todos os espaços estejam prontos até dezembro. Das entregues hoje, todas estão com abastecimento de água concluído e a Energisa está concluindo as instalações.
“É um momento de realização, de alegria. Só temos que agradecer a Deus, porque hoje estamos conseguindo nossos lares e logo estaremos lá dentro”.
A líder está ansiosa, pois foi contemplada com uma moradia no Iguatemi II, que ainda está em construção. “Logo estaremos lá, com nossos filhos. Não precisaremos mais correr das tempestades, não precisaremos mais colocá-los todos no mesmo lugar para nos acolhermos, passar frio ou medo. A ansiedade é grande para entrarmos logo em casa. É gratificante; agradeço muito a Deus pela sabedoria que Ele me deu para liderar esse pessoal”.
Suposta venda de casas
Segundo o diretor da Emha, Cláudio Marques, a denúncia sobre a venda de imóveis sorteados para moradores da antiga favela é especulativa, pois as famílias sequer receberam a posse das moradias. A divulgação de possível venda seria infundada.
“Nós já recebemos algumas denúncias em nosso canal de pessoas tentando usar esse mecanismo para levantar dinheiro e fazer essas coisas. No entanto, de fato, só poderemos confirmar na ocupação. Estaremos aqui todas as semanas realizando trabalho técnico-social, acompanhando; se identificarmos, automaticamente essa família perderá a unidade. Quem foi beneficiado e quem comprou a unidade perderá todo o dinheiro e correrá o risco de ser processado”, esclareceu.
Marques reforçou que todas as unidades habitacionais entregues são proibidas de venda, aluguel ou ocupação por terceiros por um período de cinco a 10 anos. As denúncias de irregularidades podem ser feitas pelo telefone 67 3314-3900 e serão investigadas pela agência.
“Quando identificamos esse tipo de situação, há um processo de reintegração; a pessoa perde o imóvel. Ela nunca mais poderá participar de nenhum processo de seleção, não apenas em Campo Grande. Se mudar para outro estado, não poderá mais participar, pois o benefício do primeiro imóvel é concedido uma única vez por CPF. Portanto, ela enfrentará processo judicial, perderá o imóvel, que será destinado a outra família, e perderá o direito para o futuro, pois às vezes pensam apenas no presente, não considerando o futuro. Não terá outra oportunidade”, concluiu.
Recursos municipais
Em seu discurso, a prefeita Adriane Lopes explicou que optou por não buscar emendas parlamentares devido à possibilidade de demora na liberação de verbas. No entanto, a construção das casas foi realizada com recursos municipais.
Adriane também lembrou que havia prometido aos moradores a entrega das casas em um ano após o incêndio ocorrido em 16 de novembro de 2023. Além dos 10 moradores que receberam as chaves hoje, outros beneficiários devem recebê-las em 15 de agosto.
Parcela social
Há dois tipos de construção entregues: a primeira para titulares com filhos, com dois quartos, banheiro e sala integrada à cozinha. As parcelas são de R$ 225,25 em 300 vezes, com desconto de 15% para pagamento em dia.
Para titulares solteiros e sem filhos, a casa possui um quarto, banheiro e sala integrada à cozinha. As parcelas são de R$ 163,88, em 300 vezes, com desconto para quitação em dia.
