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Cotidiano

Corpo sente, população sofre e calor extremo lota unidades de saúde em MS

Altas temperaturas, umidade relativa do ar baixíssima e fumaça: cenário que levou dezenas de pessoas às unidades de saúde
Clayton Neves -
Posto de saúde em Campo Grande. (Henrique Arakaki, Arquivo/ Midiamax)

sempre foi um estado de altas temperaturas. O calor faz parte da nossa rotina há décadas, mas nunca de maneira tão extrema. Entre moradores mais antigos é unanimidade que algo está muito diferente no clima do Estado e a população tem sentido, na pele e no corpo. Conforme as temperaturas avançam, os impactos também são sentidos com maior intensidade.

“A gente nunca imaginou que um dia iria sentir um calor tão grande. A coisa está tão insuportável que já não dá para andar na rua. Nas casas, um ar-condicionado já não é luxo, virou necessidade”, comenta o analista de recursos humanos Fábio Diniz Oliveira, de 48 anos. 

Nascido em Campo Grande, Fábio lembra de décadas passadas, onde o clima na Capital era mais ameno e confortável. “Era quente, mas acho que por conta das árvores o vento deixava mais tranquilo. Hoje nem as árvores estão ajudando, o suor vem na testa mesmo quando a gente está na sombra”, completa. 

As lembranças do campo-grandense se confirmam em análises da ciência. Em 2023, Mato Grosso do Sul teve o ano mais quente em 30 anos. Conforme os dados do (Centro de Monitoramento do Clima e do Tempo), desde 1994 a temperatura média anual para o Estado é de 24,5°C. Porém, no ano passado a temperatura média estadual foi de 25,7°C – mais de 1°C acima do habitual.

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4ª reportagem da série especial sobre onda de calor do Jornal Midiamax explora os efeitos do calorão para a saúde humana. Confira as reportagens da série climática já publicadas: 1 ano das ondas de calorecoansiedade e calor e desigualdades sociais.

Com nova realidade instalada no Estado, os efeitos do ‘calorão’ se refletem não apenas na pele. Agora, moradores dos 79 municípios e os setores de saúde público e privado precisam lidar com o aumento de doenças relacionadas ao calor e com a lotação nas unidades de atendimento. 

O coração sente 

De acordo com o médico cardiologista Guilherme Bertão, as altas temperaturas podem ser consideradas fator de risco à saúde. “O calor extremo pode trazer prejuízos significativos para o coração e sistema cardiovascular, como aumento da frequência cardíaca, queda da pressão arterial e tendência a desidratação”, explica. 

Segundo o especialista, em cenários de temperaturas muito elevadas o coração trabalha mais, esforço que pode ter como resultado a sobrecarga do sistema cardiovascular e descompensação de doenças prévias, como insuficiência cardíaca e arritmias.

“Os indivíduos mais suscetíveis a essas manifestações são aqueles que já possuem alguma doença prévia ou os extremos de idades, como crianças e idosos”, acrescenta. 

Dor no peito é sinal de alerta para infarto. (Foto: Pixabay)

Além das complicações do coração e desidratação, as temperaturas elevadas ainda podem acarretar doenças na pele, como brotoejas e dermatite, e males respiratórios, como asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica.

A avaliação do cardiologista se confirma no resultado de um estudo feito em parceria do PELD (Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração) Fogo Pantanal, USP ( de São Paulo), LASA UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do ) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Conforme a pesquisa, que avaliou o número de internações entre 2003 e 2019, o número de idosos internados triplica durante períodos mais quentes e mais secos do ano. No caso das crianças, a taxa de incidência de internações é quatro vezes maior.

A análise aponta ainda aumento de 26% a 34% nas internações hospitalares por doenças respiratórias como asma, bronquite ou infecções respiratórias. A maioria dos pacientes são crianças menores de 5 anos e idosos maiores de 60.

Tempo seco e fumaça agravam o problema 

Além dos termômetros em alta, a baixa umidade do ar e a formação de fumaça, provocada por incêndios florestais em todo o País, são agravantes para os impactos na saúde. Durante todo o ano, Mato Grosso do Sul se viu em meio a repetidos alertas de baixa umidade do ar e debaixo de densa camada de fumaça, vindas de queimadas no Pantanal e da região amazônica. 

fumaça
Fumaça cobre céu de Campo Grande (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Com a combinação, o setor de saúde sentiu. No início de setembro, a Prefeitura de Campo Grande emitiu Plano de Contingência em razão das repetidas ondas de calor. Em 254 páginas, o documento lista orientações para que moradores se previnam e reduzam os efeitos negativos do calor intenso. Além disso, são pontuadas diretrizes para o atendimento nas unidades de saúde. 

Clique aqui e acesse o documento completo.

Superlotação em unidades de saúde

Na rede privada de Campo Grande, o ano também foi marcado por repetidos episódios de aumento exponencial de pacientes. Em abriu e junho, a alta na procura por atendimento médico fez a espera chegar a quatro horas.

Na rede pública, a Prefeitura decretou situação de emergência no dia 1° de maio. A justificativa foi a alta de casos de síndrome respiratória aguda grave e realidade de unidades de saúde lotadas.

“Em quantidade da SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), no ano passado foram 1.400. Esse ano são mil, porém o tempo de internação desses nossos pacientes está chegando de 10 a 15 dias. O que significa que não há um giro de leito. O paciente interna e a gente não consegue colocar outro”, explicou a secretária municipal de saúde, Rosana Leite, durante coletiva que anunciou o decreto de emergência. 

UPA Leblon (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax).

Em , cidade mais afetada pela fumaça dos incêndios florestais, a Secretaria Municipal de Saúde viu saltar a procura no Pronto Socorro e na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade. Para se ter uma ideia, os nove meses de 2024 superaram o total de atendimentos de todo o ano de 2023.

Segundo a gerente de Vigilância em Saúde, Luciana Ambrósio, nos últimos 120 dias 2 mil moradores procuraram atendimento nas unidades. A maioria, vítima da fumaça das queimadas que se instalaram na cidade. “Houve um impacto especialmente no Pronto Socorro. Entre os sintomas, basicamente pessoas com tosse, dificuldade para respirar e dor na garganta”, afirma.

Segundo ela, a média de atendimentos diária tem girado em torno de 200 atendimentos diários. “Nós elaboramos um alerta de calor e baixa qualidade do ar para todas as unidades de saúde e para a população”, finaliza.

Cidade está coberta por fumaça (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

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