Em poucos minutos, a água caudalosa levou tudo. Carregou móveis, fotografias e até casas inteiras, bens de uma vida toda. As imagens das enchentes encobrindo tudo e deixando milhares de famílias ilhadas comoveu o país. Destruiu o Rio Grande do Sul e deixou o Brasil desolado. A contabilização, até o momento, é de quase 170 mortes, mais de 630 mil desabrigados e 469 de 497 municípios afetados. 

Ressoou entre os brasileiros o sentimento de impotência diante da fúria da natureza, mas também o espírito solidário e cooperativo para ajudar os “irmãos gaúchos”.

Mato Grosso do Sul tem uma relação centenária com o Rio Grande do Sul. Chegaram ao Estado ainda no século XIX, atraídos pelo ciclo da erva-mate, em 1882. Se estabeleceram, primeiramente, na região Sul, em Ponta Porã. Posteriormente, chegaram a outros municípios, criando raízes e influenciando na cultura sul-mato-grossense. 

Assim, diante da tragédia no Rio Grande do Sul e do espírito de irmandade entre os dois estados, Mato Grosso do Sul não hesitou em se mobilizar para ajudar em doações. Na feira agropecuária Showtec, que ocorreu em Maracaju, entre 21 a 23 de maio, por exemplo, existia uma grande bandeira de irmandade e alguns stands contavam com QR Code para doações ao estado gaúcho.

Feira agropecuária tinha estandes mostrando apoio ao povo gaúcho (Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

Um desses setores foi o de cooperativas, em que a união é intrínseca da atividade. A OCB/MS (Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Mato Grosso do Sul) convocou todas as cooperativas do Estado para participarem da ação “SOS Coopera RS”. 

Conforme o presidente da OCB/MS, Celso Ramos Regis, diversas entidades aderiram o espírito de solidariedade em prol do povo gaúcho, especialmente as cooperativas, visto os princípios de preocupação com a comunidade e garantir o bem-estar das pessoas.

“Esse é um momento delicado para todo o povo brasileiro, na verdade, e nessa questão de solidariedade, de contribuir com as comunidades, está no próprio DNA do cooperativismo, de todas as organizações da sociedade […] para nós é muito importante esse momento de engajamento nesse processo de solidariedade com todas as nossas instituições e cooperativas sul-mato-grossenses”, ressalta o presidente da OCB/MS.

Solidariedade e produtos regionais chegam ao RS

Carretas com faixas e moradores de Naviraí juntos, pouco antes da saída ao RS (Copasul/Divulgação)

Além das doações em dinheiro e itens essenciais, algumas cooperativas associadas à OCB/MS também enviaram produtos fabricados no Estado. Assim, a solidariedade e artigos regionais viajaram mais de 1,3 mil quilômetros até o povo gaúcho. 

Uma delas foi a Copasul (Cooperativa Agrícola Sul-mato-grossense), que surgiu em 1978 com 27 cotonicultores, em Naviraí, a 358 km de Campo Grande. Atualmente, são mais de 1,9 mil associados em diversas frentes do agronegócio, como a comercialização de grãos, óleo diesel e energia fotovoltaica. 

Toalha fabricada em cooperativa e que foi enviada ao RS (Copasul/Divulgação)

A atuação é também na área de algodão. A Copasul possui uma usina beneficiadora da pluma em Mato Grosso do Sul, onde é retirado o caroço e a palhada. Os fardos são enviados para Naviraí, lugar em que ocorre o processamento e sai o fio 100% algodão e 50% algodão e poliéster. 

Essa matéria-prima é usada na fabricação de toalhas e camisetas usadas em kits, que foram enviados ao Rio Grande do Sul. 

“Entramos com o envio de camisetas, toalhas e uma boa quantidade de dinheiro, o qual não vamos divulgar, para a compra de colchões. E os cooperados compraram também cestas básicas. No caso das toalhas e camisetas, tudo é feito com a nossa matéria-prima, é assim que o nome de Mato Grosso do Sul esteve impresso e ajudando, envolvido neste movimento de solidariedade”, explica o pecuarista e vice-presidente da Copasul, Nelson Antonini.

Nelson Antonini fala do movimento solidário em Naviraí e também em cooperativa de MS (Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

O produtor rural também pontua que o município de Naviraí se comoveu com a tragédia e organizou-se para encaminhar ajuda aos irmãos gaúchos. Até na última quinta-feira (23), foram enviados oito caminhões com alimentos não perecíveis, roupas e calçados, mas outros dois ainda devem viajar com água e comida, totalizando dez veículos. 

Doadores de MS escreveram mensagens em remédios (Copasul/Divulgação)

“Eu disse para o pessoal pensar: se passou um verão e um inverno e não usou aquele calçado ou roupa, não vai usar mais, já passou um frio e um calor. Abraçamos a causa e começamos a nos movimentar. Os produtores, assim como eu, colocamos as carretas à disposição para levar os produtos”, conta. 

Antonini dá uma pausa na entrevista e se emociona ao relembrar dos relatos da filha, que acompanhou um dos comboios até o estado sulista. O cenário desolador da tragédia a marcou e foi compartilhado com o pai. 

“Ela voltou contando algumas coisas e é muito triste […] eles foram em um cemitério em que foi arrancado tudo, tinham ossos e crânios espalhados […] no tempo em que ficaram, três pessoas tiraram a própria vida porque perderam tudo (veja abaixo como conseguir ajuda psicológica). Eles não esperavam isso, foi bem complicado”, lamenta.

Cooperativa de MS mostrando apoio pouco antes do envio de doações (Copasul/Divulgação)

A esperança, contudo, permanece. Os cooperados devem continuar em mobilização para arrecadar doações, mas desta vez com foco em produtos que são mais urgentes neste momento. 

“O que eles precisam mais lá são roupas de cama, lenço umedecido, cobertores e as necessidades de higiene, então, de agora para a frente, o que a gente for arrecadando, vamos comprar essas coisas aí. Foi uma campanha que movimentou a cidade de Naviraí inteira”, parabeniza.

Histórias que se encontram

Outra organização que se move em prol do Rio Grande do Sul é o Sicredi. A cooperativa, com filiais em Mato Grosso do Sul, nasceu em Nova Petrópolis, a 92 km de Porto Alegre (RS), em 1902. 

Assim, diante das enchentes que destruíram o estado gaúcho, o Sicredi rapidamente se mobilizou para ajudar os desabrigados. 

Gerente do Sicredi em MS, Felipe Matheus Fernandes Rosa fala do movimento da cooperativa em prol do RS (Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

“Muitas pessoas passaram a nos procurar, por conta da credibilidade na marca e sempre nos perguntavam onde doar, para quem doar, porque existem, infelizmente, oportunistas nesse meio também. E aí nós levamos essa credibilidade da marca e lançamos o pix “ajuders@sicredi.com.br“. Esse  foi um movimento de todas as 105 cooperativas do Brasil, então, tivemos um alcance de mais de R$ 20 milhões de valor arrecadado para poder auxiliar estas famílias, que foram diretamente impactadas lá no Rio Grande do Sul”, explica o gerente de desenvolvimento de negócios do Sicredi Felipe Matheus Fernandes Rosa. 

Uma das campanhas do Sicredi, inclusive, prometia dobrar as doações. A cada R$ 1 doado, a cooperativa doaria mais R$ 1. 

Filipe Rosa explica que a cooperativa possui a Fundação Sicredi, que organiza as doações e como os recursos serão aplicados. 

“Ninguém melhor do que a Fundação, que está junto com eles vivendo essa tragédia em Porto Alegre, para saber a maior necessidade e como conseguir suprir o que eles estão precisando neste momento no Rio Grande do Sul. Até porque tivemos colaboradores do Sicredi que foram impactados. O levantamento inclusive está sendo feito, temos colaboradores que trabalham de forma remota e moram em Arroio do Sul, Eldorado, Caxias, Canoas, que são cidades vizinhas, e trabalham em Porto Alegre”, pontua. 

“Precisamos continuar unidos”

Grupo de voluntários separam as doações. (Ascom Unimed Campo Grande)

Já no cooperativismo de saúde, a Unimed Campo Grande é uma das entidades que colocou recursos à disposição da solidariedade.

Colaboradores, cooperados, parceiros e a comunidade em geral foram convidados a doar roupas, cobertores, toalhas, roupas de cama, calçados em bom estado, brinquedos, kits de higiene, ração para animais, além de água potável. As doações podem ser entregues na sede da cooperativa, Rua Goiás 695, Jardim dos Estados.

Semanalmente, um time de colaboradores voluntários separa e organiza as doações. Posteriormente, os volumes são entregues nos pontos de coleta que serão enviados ao Rio Grande do Sul. 

A Unimed também disponibilizou um pix para o Instituto Unimed (chave pix: CNPJ 08.969.474/0001-58), ou ainda, para apoiar os colaboradores da Unimed atingidos pelas enchentes. A chave pix para este caso é sos.rs@institutounimedrs.org.br

Doações enviadas às vítimas das enchentes no RS. (Ascom Unimed Campo Grande)

No “Dia D” da campanha Aquece MS também foram arrecadados donativos destinados às vítimas das enchentes no estado sulista. Parte das arrecadações foram compartilhadas com um grupo de ciclistas que promoveram um evento cultural em prol do povo gaúcho.

“Está no DNA da Unimed Campo Grande cuidar das pessoas e para nós é uma honra contribuir de alguma forma com essas famílias, levando esse cuidado através das doações. Sabemos que cada item doado, qualquer valor em Pix, faz muita diferença nesse momento em que tem muita gente precisando, então continuamos recebendo as doações e pedindo à comunidade que continuem contribuindo como puder. Precisamos continuar unidos e fortalecendo essa corrente solidária nesse momento tão delicado para as pessoas que moram no Rio Grande do Sul”, destacou o cooperado e membro do Conselho de Administração da cooperativa médica, Dr. Fabio Yamasato.

A Unimed Campo Grande ainda deve promover um Arraiá Solidário em junho, em que a entrada será 1 Kg de alimento não perecível e o faturamento com venda de comidas e bebidas típicas será totalmente destinado às terras gaúchas.

Voluntários de cooperativas se unem para separar donativos. (Imagens: Arquivo Pessoal)

Toneladas de alimentos enviadas ao RS

Caminhão da Lar que partiu de Ponta Porã. (Arquivo Pessoal)

A Lar Cooperativa Agroindustrial, com unidades em Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, levou 240 toneladas de alimentos, água, roupas e outros produtos em direção ao Rio Grande do Sul com caminhões da entidade. 

Veículos partiram de Ponta Porã e Laguna Carapã, do sudoeste do Estado, com doações da própria Lar, dos associados, colaboradores, poder público, entidades locais e comunidade. As viagens de milhares de quilômetros a partir de Mato Grosso do Sul chegaram a municípios gaúchos como Campo Bom, Teutônia, Caxias do Sul e Lajeado.

Todas as unidades da cooperativa são pontos de coleta e os interessados também pode contribuir por meio do pix solidariedade@lar,ind.br

Como conseguir ajuda psicológica no RS?

A tragédia que castiga o Rio Grande do Sul levou especialistas em saúde mental a se mobilizarem em prol das vítimas. Muitos perderam bens materiais e familiares, o que torna indispensável a ajuda psicológica para amenizar o sofrimento e enfrentar este momento.

Confira alguns onde encontrar apoio às vítimas do estado gaúcho:

  • Grupo DOC: atendimento médico e psicológico online gratuitos por meio do site da instituição.
  • Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre: atendimento psicológico e psiquiátrico online gratuito para as vítimas e profissionais de resgate. Falar com Vera (51) 99113‑5950.
  • Amigos Anônimos: profissionais que garantem uma conversa sigilosa e acolhedora e de apoio emocional, seja pela internet ou presencialmente na Avenida Osvaldo Aranha, 1.022, em Porto Alegre. O contato é (51) 99717-2525 (celular/WhatsApp) e (51) 3211-2888 (telefone).

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