Com exportação suspensa e seca severa, dragagem ‘infinita’ ameaça Rio Paraguai, alertam ambientalistas

Governo de Mato Grosso do Sul quer dragar o rio, mas ambientalistas e pesquisadores temem impactos no Pantanal

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Processo de dragagem no Rio Paraguai (Foto: Paraguay Fluvial & Logistica)

Em fevereiro de 2024, as exportações de minério de ferro pelo porto de Ladário pararam devido à seca do Rio Paraguai, que chegou a nível crítico. Para amenizar os impactos à navegação no Rio Paraguai, o Governo do Estado e o agronegócio defendem a dragagem em alguns pontos, ação que retira sedimentos do fundo do rio, porém ambientalistas e pesquisadores afirmam que a prática não resolve o problema e pode causar impactos ambientais ao Pantanal.

Apesar do agronegócio e, por vezes, o Governo do Estado defenderem a dragagem como solução para a navegação no Rio Paraguai, quem conhece o tema a fundo afirma que dragar o rio não resolve falta de água, principalmente em uma planície alagável como é o Pantanal. O que falta para a navegação é água.

Biólogo e diretor da ONG Ecoa, Alcides Faria afirma que dragagem seria algo ‘infinito’, já que tirar sedimentos do fundo do rio não resolveria a falta de água para navegação adequada. “O rio está muito baixo há muito tempo, falta água mesmo. Para o Rio Paraguai não é comprovada a eficiência da dragagem”, afirma.

Alcides ainda destaca que é simples analisar que, em época de cheia e chuva, a navegação e transporte de carga acontece normalmente. Mas, este ano o Pantanal vive um cenário muito ruim, já que não houve acúmulo de água no bioma durante o período chuvoso.

Pesquisador da Embrapa, Carlos Padovani compartilha da mesma opinião. “A dragagem não resolve o problema de falta d’água no rio. Só chuva resolve”, afirma ele que ainda chama a atenção para a ocorrência de incêndios florestais devido ao solo seco.

Agronegócio e governo defendem dragagem

Pela hidrovia do Rio Paraguai em Mato Grosso do Sul há transporte de três principais commodities, minério de ferro, soja e milho com destino ao mercado externo. Desde fevereiro deste ano, as exportações de minério de ferro no porto de Ladário estão paradas, com queda de 81% na comercialização pelo modal só em janeiro.

Com o fim da colheita da soja, um novo problema aparece. Sem navegação no rio, os grãos vão precisar chegar ao destino por caminhões, transporte mais lento e caro. Em 2023, o Terminal Hidroviário Itahum Export, em Porto Murtinho, exportou 1,6 milhão de toneladas de soja, cerca de 10% da produção total de Mato Grosso do Sul.

Em nota, a Famasul defende que “a ação mais importante para minimizar os impactos da navegabilidade é realizar a dragagem em alguns pontos do rio, no entanto, esse processo está parado no Ibama”, ao se referir à falta de licença ambiental do órgão para a realização da dragagem.

O Governo do Estado também defende a dragagem no rio. Titular da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), o secretário Jaime Verruck defende a dragagem em três pontos do Rio Paraguai, entre Corumbá e Porto Murtinho, onde há assoreamento. Com isso, ele afirma que aumentaria o tempo de transporte de barcaças. “A gente defende sim, mas depende ainda da autorização do IBAMA por licenciamento ambiental para que essa obra seja executada”.

Balanço de março da Sala de situação do Imasul mostra que o rio Paraguai ficou o mês com nível abaixo da média de estiagem em Porto Esperança e Porto Murtinho. No Rio Aquidauana, o nível está abaixo da média em Aquidauana e Miranda, e em Aporé e no Rio Pardo. Apesar de pontos de degradação ambiental, atualmente o Rio Taquari está com nível acima da média.

Queda de 81% nas exportações de minério de MS

Apenas no primeiro mês do ano, as exportações de minério de ferro por Ladário caíram 81%. Os dados da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) mostram que em janeiro de 2024 passaram pelo porto Granel Química, de Ladário, 16 mil toneladas de carga, valor 81% menor que as 88,4 mil toneladas registradas em janeiro do ano passado.

O porto trabalha exclusivamente com o transporte de minério de ferro para a Argentina via hidrovia. O gerente do terminal portuário, Eliseu Carreiro, conversou com o Jornal Midiamax e explica que o nível do rio atual não permite o carregamento total das barcaças. Normalmente, cada barcaça é carregada com 3 mil toneladas de minério de ferro e o comboio sai com 16 a 20 barcaças para exportação. Atualmente, só é possível carregar 1 mil tonelada por barcaça.

“Está muito atípico em relação ao ano passado. Para o transporte fluvial, o cenário está se desenhando como o pior de todos os tempos e estamos preocupados com o que pode acontecer”, conta ele ao contabilizar os prejuízos. No terminal, a carga exportada no primeiro trimestre representa apenas 10% do volume do mesmo período do ano passado.

Rio Paraguai caminha para a pior seca da história

O nível do Rio Paraguai, em Ladário, caminha em 2024 para atingir o pior nível histórico de seca já registrada em Mato Grosso do Sul. Nesta semana, a régua de Porto Esperança marca 7 centímetros, sendo que 35 cm já é considerado estiagem. A situação é crítica e pode estar relacionada com as mudanças climáticas e as consequências nas temperaturas e ciclo de chuvas.

Pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani acompanha há anos o comportamento dos rios de Mato Grosso do Sul, principalmente na bacia do Paraguai e afirma que o cenário atual é preocupante. A referência usada por ele é o nível do Rio Paraguai na régua de Ladário, que representa 80% da baía e tem histórico de 123 anos.

O principal alerta é que, nesta época do ano, a região pantaneira encerra o período de cheias e inicia a estiagem, mas os rios não encheram como era esperado. As altas temperaturas, aliadas a irregularidade e pouco volume de chuvas, afetam diretamente a bacia do Pantanal e, consequentemente, o nível dos rios.

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