As baixas temperaturas que começam a ser mais recorrentes no outono, associadas ao aumento de doenças respiratórias e aos episódios de queda na imunidade comuns a partir desta estação, são fatores que contribuem para a queda na doação de leite materno nesse período do ano.

Em Campo Grande, a situação não é diferente e já começa a preocupar autoridades. Quem faz coro à afirmação é a nutricionista Isabela Santana Tozzi, supervisora do BLH (Banco de Leite Humano) da Santa Casa de Campo Grande. Segundo ela, o frio é um fator decisivo na queda das doações, o que pode colocar a saúde de bebês que dependem em xeque.

“O leite humano é o alimento mais completo que existe. Ele é específico para o bebê, é um alimento que previne infecções, diminui a taxa de mortalidade, e previne contra futuras doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto”, detalha Isabela. 

Além disso, a nutricionista explica que os bebês que estão internados na Santa Casa, por serem prematuros e de baixo peso, não toleram outro alimento que não seja o leite humano, o que reforça a importância da doação.

Data que vem a calhar

Isabela Santana, supervisora do Banco de Leite Humano da Santa Casa. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Coincidência ou não, o Dia Mundial de Doação de Leite Humano é celebrado nesta segunda-feira (19), bem quando as temperaturas começam a oscilar, provocando o vai e vem de pessoas – inclusive lactantes – às emergências. É bem quando o fenômeno da queda de doações é notado, portanto, a campanha busca reforçar, de forma geral, a importância da doação desse alimento.

Segundo a supervisora, até a última sexta-feira (17), 20 recém-nascidos recebem leite humano de doação na Santa Casa.

“O nosso estoque, eu sempre costumo dizer, que ele é sempre limítrofe. Por isso, a gente sempre trabalha com campanhas e incentiva a doação de leite. Nós temos um estoque que vai suprir a nossa demanda, mas o trabalho é sempre constante, também, porque a demanda é muito variável”, explica a profissional.

É por isso que, segundo ela, quando há aumento no número de crianças internadas e número grande de pacientes que precisam do leite, a preocupação aumenta.

Gotas de vida

A jovem mãe Gilvânia Carla da Silva, de 26 anos, é uma das beneficiadas por esse ato de amor. Ela estava grávida de gêmeos quando teve pré-eclâmpsia e os bebês nasceram com apenas 28 semanas de gestação. Por isso, eles foram para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal.  

Um deles, porém, não resistiu e faleceu. O outro apresentou restrição de crescimento, precisando permanecer internado por várias semanas, alimentando-se exclusivamente do leite humano doado, já que a produção da mãe foi muito baixa. 

“A importância do leite materno foi muito grande, a doação foi muito boa. Apesar de um não ter sobrevivido, o outro, graças a Deus, está se recuperando bem porque o leite materno nutre. É uma coisa vital, muito importante para o desenvolvimento do bebê”, relata a mãe. 

Agora, dois meses já se passaram desde o parto prematuro e o bebê, apesar de permanecer na UTI, está cada dia mais forte e em franco desenvolvimento. “Ainda não vamos para casa porque ele precisa ganhar mais pesinho, sabe? Mas, estou muito ansiosa para chegar em casa com meu bebê, sabe? Saudável. Não vejo a hora”, finaliza Gilvânia.

Benefícios para a doadora

Leite humano sendo inserido em sonda de bebê na UTI Neonatal. (Henrique Arakaki, Midiamax)

A produção e doação de leite também geram benefícios para a mãe, uma vez que afeta o corpo da mulher de forma positiva. Entre eles, está a diminuição das chances de desenvolvimento de câncer de útero e câncer de mama, diminuição do sangramento uterino pós-parto, retomada do peso pré-gestação, ajuda no conforto mamário e previne a mastite, já que a ordenha do volume excessivo impede o acúmulo de leite – evitando infecções e inflamações.

“A maioria dos bebês que recebem leite de doação aqui na Santa Casa são prematuros e estão com quadro clínico um pouco mais grave. Isso impacta diretamente as mães, impacta na produção de leite. Então, as mães dos bebês, às vezes, não conseguem suprir a demanda do próprio bebê. Por isso, é importante o leite de doação”, completa a supervisora.

“O sentimento é de gratidão, de alegria, de felicidade por poder nutrir não só o meu filho, mas outras crianças que eu sei que estão precisando da minha ajuda, onde eu realmente consigo nutrir com o meu próprio corpo, sabe? Então, de verdade, o sentimento de poder doar e contribuir para o desenvolvimento de outros bebês é de imensa gratidão. Eu me sinto muito grata por poder contribuir. De fato, é uma alegria que não cabe, uma gratidão imensa”, testemunha Luana Emanueli de Oliveira Raitz, de 30 anos, que é doadora de leite materno desde outubro do ano passado.

Ela começou a doar quando o bebê dela era recém-nascido. Hoje, ele está com 7 meses. “Eu realmente convido todas as mulheres que têm uma boa produção de leite, que foram agraciadas por Deus para conseguir nutrir seus filhos, que possam realmente nutrir outros. Porque são gotinhas de leite que alimentam, que salvam e que protegem. E com certeza a gente tem muitas vidas para ajudar”, completa a doadora.

Como doar sem sair de casa

Mães que desejam ser doadoras podem entrar em contato com a equipe do BLH da Santa Casa. Uma profissional da unidade de saúde vai pegar os dados dessa mãe, solicitar os exames de pré-natal dela, verificar se ela está saudável e se não faz uso de drogas e álcool, ou esteja em algum tratamento que impeça a doação de leite humano. 

Em seguida, essa doadora será cadastrada no nosso sistema do BLH e, uma vez cadastrada, profissionais da Santa Casa vão até a residência dela para orientá-la sobre a extração do leite e como deve ser feito o armazenamento dele.

Uma vez por semana a equipe vai combinar com essa doadora o melhor dia para ir até a residência retirar o leite. “Então não tem necessidade dessa mãe sair de casa. A gente vai até a residência, faz toda orientação e retira o leite que vai ser doado”, reforça Isabela.

O contato do BLH da Santa Casa é: (67) 3322-4174.