Com 85 casos confirmados, Sesau alerta para surto de Hepatite A em Campo Grande
Relação sexual, água contaminada, compartilhar tereré: entenda sintomas e como se prevenir da Hepatite A
Lethycia Anjos –
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O número de casos confirmados de hepatite A tem crescido exponencialmente em Campo Grande. Em uma semana, os casos saltaram de 60 para 85, o que representa um aumento de 41,67%. Nesse cenário, Campo Grande vivencia um surto da doença.
Veruska Lahdo, superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), explica que Campo Grande ficou cinco anos sem registrar casos de hepatite A, por isso, esse aumento repentino acendeu um alerta para as autoridades de saúde.
Hepatite A é uma doença infecciosa causada por um vírus, de evolução autolimitada, que pode ser prevenida com vacina. A transmissão ocorre principalmente pela via fecal-oral, ou seja, através do contato entre fezes e boca. Além disso, o contágio pode ocorrer pelo consumo de alimentos ou água contaminados, falta de saneamento básico, higiene pessoal, contato próximo entre pessoas e por relações sexuais.
Por isso, Lahdo enfatiza que compreender as várias formas de contaminação é essencial para traçar o perfil epidemiológico da doença na cidade. “Em muitos casos, a hepatite tem relação com o contato com água e alimentos contaminados. Fizemos a análise dessas águas, mas não identificamos nenhuma alteração”.
Em regiões onde há maior vulnerabilidade econômica e social o cenário epidemiológico é ainda mais preocupante. A especialista explica que apesar da contaminação estar distribuída em diferentes pontos da cidade. Em bairros com alto número de pessoas em situação de rua e dependentes químicos a incidência de casos é maior.
“Existem bairros onde há um maior número de casos. São regiões com problemas de saneamento, alto número de pessoas em situação de rua e usuários de drogas que compartilham seringas e até mesmo locais próximos a córregos”, disse.
A transmissão também está relacionada com a higiene pessoal, ou seja, famílias com menor acesso às condições básica de higiene estão sujeitas a contaminação pela doença.
Perfil epidemiológico
Embora não haja um perfil completo dos casos, Lahdo observa que a maioria dos infectados são homens adultos entre 20 e 39 anos, com alguns casos identificados entre adolescentes.
“Estamos elaborando um questionário que será enviado aos pacientes para entender melhor como ocorreu o contágio. Isso nos ajudará a identificar a origem e os padrões de transmissão”.
Conforme a Sesau, o cenário epidemiológico atual é preocupante. Por isso, é fundamental quebrar a cadeia de transmissão, já que o vírus se espalha facilmente entre as pessoas em contato direto. Além disso, há um risco maior de complicações, especialmente na população adulta, que pode não ter anticorpos.
“Ao identificar os primeiros casos de hepatite A, é necessário implementar medidas de cuidado relacionadas à água potável, à manipulação de alimentos e às condições de higiene e saneamento básico, tanto na comunidade quanto entre os familiares”, orienta a Sesau.
Alerta para aumento de casos
Em 25 de outubro, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) emitiu um alerta para a população sobre o aumento no número de casos. Na nota, a Secretaria destacou que mantém diálogo com o Ministério da Saúde a fim de implementar ações de controle da hepatite A em Campo Grande.
Assim, a pasta afirmou ter iniciado o levantamento do perfil epidemiológico dos pacientes, com uma busca ativa de novos casos. Pessoas que tiveram contato próximo com infectados também estão sendo procuradas para orientação.
Com o intuito de driblar o índice crescente da doença na Capital, a Sesau, com o apoio da SES (Secretaria Estadual de Saúde) e o Ministério da Saúde, elaborou uma nota técnica direcionada a profissionais e instituições de saúde das redes pública e privada.
Conforme Veruska, os profissionais de saúde receberam orientações para identificar sintomas da doença de forma sensibilizada e notificar prontamente os casos. “Queremos que os pacientes sejam alertados sobre medidas de controle para evitar que transmitam a doença para familiares e conhecidos”, diz.
Sintomas
O período de incubação da infecção por hepatite A pode variar de 15 a 45 dias após o contato, com média de 30 dias. Já o período de transmissibilidade pode iniciar até duas semanas antes do início dos sintomas e permanecer até o final da segunda semana da doença.
Os sintomas iniciam de forma inespecífica com anorexia, náuseas, vômitos, diarreia ou, raramente, constipação, febre baixa, cefaleia, mal-estar, astenia e fadiga, aversão ao paladar e/ou ao olfato, mialgia, fotofobia, desconforto no hipocôndrio direito, urticária, artralgia ou artrite, e exantema papular ou maculopapular.
Passada essa fase inicial, observa-se icterícia (pele amarelada), hepatomogalia dolorosa e, em geral, diminuição dos sintomas com posterior recuperação clínica. Segundo a Sesau, alguns pacientes podem persistir com fraqueza e cansaço por vários meses.
No geral, a hepatite A costuma ser branda, contudo, há situações em que a doença pode evoluir para formas graves.
“Em Campo Grande ainda não registramos casos graves, nem óbitos. No entanto, percebe-se que em outros estados onde o número tem sido mais alto, há risco do paciente precisar de hospitalização, transplante ou até mesmo vir a óbito”, detalha Lahdo.
Ainda conforme a Sesau, não há tratamento específico, apenas controle dos sintomas de náuseas (metoclopramida, bromoprida, ondansetrona), febre (em geral baixa), prurido e dores (analgésicos comuns).
Nos casos com alteração de TGP/TGO recomenda-se evitar paracetamol, e a prescrição de dipirona. Como regra geral, a pasta também orienta o repouso relativo até normalização das aminotransferases. Além disso, pode haver necessidade de hidratação venosa nos pacientes mais sintomáticos.
Prevenção
- Lavar as mãos sempre, principalmente antes do preparo de alimentos;
- Lavar os alimentos e deixar de molho por 30 minutos em solução de hipoclorito de sódio (água sanitária);
- Cozinhar bem os alimentos;
- No caso de locais públicos ou de grande circulação de pessoas, fazer a desinfecção de objetos, bancadas e chão, utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária;
- Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
- Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
- Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais;
- Evitar rodas de tereré, incluindo compartilhamento da bomba e o compartilhamento de narguilé.
Vacinação contra hepatite A
Em meio a alta de casos, a vacinação se destaca como o principal meio de prevenção da doença. No entanto, a vacina contra a hepatite A faz parte do calendário infantil, sendo administrada desde 2014 em dose única aos 15 meses (disponível a partir dos 12 meses até 4 anos, 11 meses e 29 dias).
A vacina também está disponível no CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais) para pessoas a partir de 1 ano que tenham condições de saúde específicas, como hepatopatias crônicas, hepatite B e coagulopatias, doenças imunodepressoras, fibrose cística, trissomias e pessoas vivendo com HIV/Aids.
“Essas pessoas contaminadas não foram vacinadas, isso porque a vacina está preconizada pelo Ministério da Saúde desde 2014 e somente para crianças. Até então, havia um aumento de casos em relação a isso, mas com a vacinação reduziu”, explica Veruska.
Em Mato Grosso do Sul, a cobertura vacinal contra a Hepatite A aumentou significativamente nos últimos anos. Dados da SES (Secretaria de Estado de Saúde) indicam que, em 2021, ano marcado pela pandemia de Covid-19, a cobertura vacinal contra a Hepatite A foi de 68,86%. Nos anos seguintes, essa cobertura cresceu gradativamente, atingindo 81,03% em 2022 e 85,42% em 2023.
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