Chuvas abaixo da média e El Niño alertam para incêndios florestais em MS

Não chove acima da média no Estado há três meses, segundo o meteorologista Vinícius Sperling

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Combate aos incêndios em Corumbá (Divulgação, Governo do Estado)

Mato Grosso do Sul não registra há três meses chuvas acima da média esperada e, associando a influência do fenômeno El Niño, a situação climática extrema eleva o alerta para risco de incêndios florestais. Este ano, dois incidentes de grandes proporções foram combatidos.

A previsão é de que o déficit de precipitação persista nos próximos dias, o que deve intensificar áreas mais secas no Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica. Ou seja, a situação tende ao agravo, conforme o meteorologista Vinícius Sperling, do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul).

“Em dezembro, de 2023, tivemos chuvas abaixo da média história em 39 municípios analisados. Já em janeiro deste ano, a situação não foi diferente, em 41 municípios houve déficit de precipitação. Sem acúmulo de água no solo, os rios estão com níveis mais baixos, é reflexo da falta de chuva”.

Os dados são consolidados a partir do monitoramento de 48 municípios, com informações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

Nos primeiros 15 dias do ano, quase todos os municípios monitorados não alcançaram o volume previsto, com exceção de Porto Murtinho, que teve 164 milímetros, mas 100 milímetros caíram em apenas um dia. “Foi um evento atípico que fez com que a média subisse. De forma geral, o impacto da falta de chuva aparece nos indicadores de seca, que tem se intensificado em todo o Estado”, afirma Sperling.

“Desde novembro a gente observou o avanço da seca, com piora em janeiro por conta das chuvas muito abaixo do ideal. Isso tudo resulta em aumento dos focos de calor, incêndios florestais, em todos os biomas presentes em Mato Grosso do Sul”.

Queimadas na região pantaneira (Divulgação, Governo do Estado)

Temperaturas alteradas

Fabiano Morelli, pesquisador do Programa de Monitoramento de Queimadas por Satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), relata que desde dezembro do ano passado, os relatórios indicavam índices extremos, como pouca chuva, umidade do ar mais baixa e calor em alta.

“A análise explica toda a situação do El Niño. A quantidade de chuvas tem sido abaixo do esperado em toda a região central do Brasil, e a temperatura está acima da média. O fenômeno age nos períodos secos e quentes, mantendo a situação assim no centro do País, e provocando precipitações intensas, com inundações e enchentes no sul”.

O Governo do Estado informou que a irregularidade contribuiu para níveis baixos no armazenamento hídrico, o que antecipou os registros de incêndio já no início do ano. Geralmente, casos de incêndio acontecem entre julho e outubro.

“O El Niño se manifestou muito forte a partir do período final de outubro e novembro. Foi uma situação atípica, com grande seca, inclusive no Rio Amazonas e em Manaus, com muita fumaça. A situação anômala tem influência nas secas significativas e provavelmente interferiu ciclo hidrológico, no transporte de chuva da Amazônia para a região central e sudeste do Brasil”, disse o pesquisador do Inpe.

O sistema de monitoramento dos ‘Focos Ativos por Bioma’, do Inpe, mostra que no mês de janeiro deste ano foram registrados 369 focos detectados por satélite no bioma Pantanal – em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso –, enquanto no mesmo período de 2023 foram 103. Em comparação – com o mês de janeiro – nos últimos seis anos, a quantidade de focos em 2024 supera a registrada em 2020, com 226 e fica atrás apenas de 2019, com 542.

Mais 58% dos focos registrados em janeiro, foram em Mato Grosso do Sul e os municípios que tiveram maior quantidade de casos foram Corumbá (1°), Aquidauana (3°) e Miranda (5°).

Combate

Dos grandes incêndios registrados em 2024, o Corpo de Bombeiros atuou na Serra do Amolar, Pantanal de Corumbá, e na região do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, em Miranda.

“As mudanças climáticas estão acontecendo. Um reflexo são esses incêndios, por exemplo, em janeiro, que é um mês comumente de chuvas na região. Porém, já atuamos em dois grandes incêndios este ano. E tivemos também na temporada de 2023, no mês de novembro, um crescimento absurdo dos focos de calor e incêndios aqui no Estado. Então a gente está se preparando cada vez mais, para que no momento de resposta a gente consiga dar um melhor atendimento, mais rápido a este tipo de emergência”, explicou a tenente-coronel Tatiane Inoue, diretora de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar, que realiza o monitoramento dos incêndios florestais no Estado.

O trabalho dos bombeiros é realizado por terra e ar, com utilização de aeronaves para combate às chamas em locais de difícil acesso e transporte de equipes. A atuação também conta com uso de tecnologia – drones e georreferenciamento –, que torna o trabalho de controle e extinção do fogo mais efetivo.

“Toda essa logística faz com que o Mato Grosso do Sul, tenha se tornado nos últimos anos, uma referência na proteção ambiental, também com investimento da capacitação profissional, materiais, tecnologia. Tudo para dar uma resposta ainda melhor”, finalizou a tenente-coronel Tatiane Inoue.

*Com informações do Governo do Estado.

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