Casa abandonada vira QG de usuários e piora drama de quem vive na Nhanhá
Segundo moradores, aumento de usuários no bairro está relacionado com revitalização da antiga rodoviária
Lucas Caxito –
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Uma casa abandonada na Travessa Novo Rumo, entre a Avenida das Bandeiras e a Rua Antônio Bittencourt Filho, no bairro Jardim Nhanhá, está causando problemas a vizinhos e comerciantes da região. Assaltos, furtos, sujeira e mau cheiro são as consequências da ocupação do espaço por dependentes químicos. A maioria dos usuários que vive na região migrou da região da antiga rodoviária, no Centro, e criou uma espécie de minicracolândia no bairro.
Uma das vítimas da minicracolândia é um comerciante de 70 anos que trabalha na área há 35 anos e já foi roubado 10 vezes. “A sensação é de abandono, como que resolve o problema da droga? Eu chego aqui e tem gente dormindo, virou banheiro esse lugar. Eles ficam roubando dia e noite e ninguém liga para isso, são os invisíveis né. Eu fico sem saber o que fazer”, relata.
Ao chegar ao local, por volta das 9 horas da manhã, a equipe de reportagem se deparou com um grupo de pelo menos 20 usuários no imóvel, em plena luz do dia. Em volta da quadra, era possível identificar bastante resíduo e marcas de queima de fios elétricos, além de dependentes químicos dormindo nas calçadas da Avenida das Bandeiras e da Rua Sol Nascente.
“Esse problema acontece há 10 anos aqui, o poder público tinha que resolver porque eles não fazem nada, não vejo a Polícia aqui tentando resolver. Sou obrigado a deixar as torneiras e registros fechados, porque já me roubaram as torneiras uma vez e ficou vazando água a noite toda”, complementou emocionado.
Proprietários de uma conveniência há 40 anos, Maria e José (nomes fictícios para preservar a segurança dos moradores) afirmam que o número de usuários na travessa e redondezas aumenta a cada mês, e que este cenário está diretamente ligado com a revitalização da antiga rodoviária.
Eles contam ainda que apesar da relação afetiva com o comércio e com a região, o desejo deles é vender o estabelecimento e morar em outro lugar.
“Quando chega umas 9 horas da noite fica insuportável, o fluxo aumenta e o mau cheiro é muito forte, toda a vizinhança está vendendo as casas. Nossa conveniência é uma herança de família, mas estamos vendendo e queremos ir embora porque está insuportável. Ninguém aguenta ficar com as janelas abertas, somos obrigados a viver o dia inteiro com ar-condicionado por causa do cheiro de cocô e xixi dos usuários e tem dias que nem com ar-condicionado dá para aguentar”, destaca Maria.
Os trabalhadores e moradores da região estão com semblante de cansaço e medo. Além da violência, picadas de escorpião e aumento em casos de dengue também foram citados como consequência da situação para equipe de reportagem.
“Tenho mais de 40 e poucos anos aqui e nunca vi um ‘troço’ como esse. Nos últimos três anos piorou muito, eles [usuários] vêm da antiga rodoviária, não conseguimos estudar nem fazer nada. Na véspera de Natal, às 7h da manhã fomos assaltados à mão armada aqui na frente da conveniência. Eu estava com 900 reais do meu décimo terceiro no bolso e levaram tudo, é muito triste. Estamos vendo outra casa para morar”, disse José.
Em uma farmácia, vendedor de 39 anos também enfatiza que o número de usuários aumenta a cada mês. Há um ano trabalhando no estabelecimento, ele conta que é obrigado a lidar com constantes tentativas de furto dos dependentes.
“O pessoal entra na loja, ficam olhando, aí pegam alguma coisa e tentam esconder. Às vezes a gente está distraído aqui atendendo, eles vão ali e começam a colocar os produtos dentro da bolsa. Peguei isso várias vezes. Quando isso acontece eu tenho que ir até a pessoa e pedir os objetos de volta”, conta.
“Parece que aumentou o fluxo de usuários. Antigamente a gente via uns 6 ou 7 em volta da quadra, agora são 10, às vezes tem 15 ali na esquina. Eles ficam no muro, ficam na rua de baixo, eu sempre vejo”, relata.
Minicracolândias se espalham por Campo Grande
O drama envolvendo o vício nas drogas se arrasta há anos em Campo Grande, e se intensificou durante a pandemia. Série de reportagens do Midiamax abordou o assunto em julho do ano passado.
Uma das maiores dificuldades dos usuários é abandonar o vício. Sem conseguir se livrar da droga, os dependentes químicos vagam pela cidade e com a reforma da antiga rodoviária, os bairros viraram o novo ponto de parada dos grupos.
O que dizem a prefeitura e a PM
Questionada sobre o atendimento e internação de dependentes químicos em situação de rua em Campo Grande, a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) respondeu por meio de nota que são realizados todos os dias atendimentos à população de rua nas sete regiões da Capital.
“As equipes fazem abordagens sociais 24h por dia, nos sete dias da semana, incluindo feriados e finais de semana em toda a região do bairro Nhanhá, e fazem a oferta dos serviços à pessoa em situação de rua, que tem por opção aceitar ou não o acolhimento. Nós sensibilizamos a pessoa abordada sobre o risco social que se encontra, oferecendo o acolhimento institucional ou encaminhamento para tratamento da dependência química em Comunidades Terapêuticas por meio da parceria com a SDHU (Subsecretaria de Direitos Humanos)”, disse a Secretaria.
Também indagada sobre essa situação, a Polícia Militar respondeu em nota que o 10º Batalhão de Polícia é responsável pela manutenção da ordem na região. Além de realizar o patrulhamento ostensivo e preventivo, a instituição afirmou ainda que atua com diversas operações para coibir ações criminosas no bairro.
“No mês de dezembro foi realizada a Operação Saturação na região do Jardim Nhanhá, com foco em abordagens e na fiscalização aos estabelecimentos comerciais. Da mesma forma, no mês de novembro, desencadeamos a Operação Força total, através do Comando de Policiamento Metropolitano, realizado em toda capital, e que na área do 10º BPM, teve foco também no Jardim Nhanhá, com o intuito de combater tráfico, furtos, roubos, bem como perturbação da tranquilidade e cumprimento de mandado de prisão”, divulgaram.
A Polícia também destacou que realiza o monitoramento e combate do crime de furto de fios elétricos na região, e em razão do aumento populacional de pessoas em situação de rua, implementou o cumprimento de ordens de serviços e ampliou as abordagens no bairro.
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