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Cotidiano

Campo Grande está em cima de um formigueiro gigante? Entenda por que insetos estão ‘tomando conta’ da cidade

Presença em excesso das formigas pode causar problemas como disseminação de bactérias e até riscos estruturais em construções
Osvaldo Sato -
Praça da Coruja, no Jardim Paulista, está repleta de formigueiros (Osvaldo Sato, Midiamax)

O grande número de formigueiros nas áreas verdes da cidade, como parques, praças, canteiros de avenidas e calçadas, suscita uma dúvida pertinente: será que está acontecendo em uma infestação de formigas? Ou a presença destes insetos está dentro dos padrões de normalidade?

Para o biólogo José Milton Longo, responsável pela Delegacia Regional do CRBio-01 (Conselho Regional de Biologia) em Campo Grande, não se trata de um desequilíbrio ecológico, mas uma junção de fatores que leva à proliferação das formigas. 

“A temperatura está entre as condições, há alimentação nas praças e parques, assim como a pluviosidade adequada, que favorece a reprodução desses seres, temos condições ideais, com recursos e todos os requisitos que o grupo de formigas precisa”, explicou.

Entretanto, há predominância em muitos pontos da cidade da Atta Spp, ou formiga-saúva, como é popularmente conhecida. “Temos observado nos canteiros, como nos da Avenida Afonso Pena, a ocorrência de muita saúva, que é uma espécie própria do nosso bioma, o Cerrado”, afirmou o especialista.

Nessas áreas também coexistem espécies que se alimentam de formigas, como as aves, mas em densidade menor e com consumo que não acompanha a reprodução acelerada de formigas e outros insetos. “Nessas áreas realmente a manutenção precisa ser feita para controle dessa praga”, destacou o professor.

Flutuação de ocorrências

Segundo o biólogo Airton Vinholi, também consultado pela reportagem do Jornal Midiamax, em grandes cidades, é comum haver “flutuações de ocorrência, como aspecto de infestação, mas isso ocorreria em pontos distintos dos municípios”.

Segundo ele, “os grandes formigueiros não aparecem de uma ‘hora para outra’. De forma geral, alguns podem demorar anos a aparecer, quando são maduros, fruto de um complexo modelo subterrâneo de construção desses animais”. 

Porém, em áreas urbanas, a presença massiva dos insetos causa um contratempo, pois podem ocasionar picadas, transmitir doenças e até mesmo abalar estruturas de construções prediais. Além disso, representam grande perigo em áreas hospitalares.

Já o professor Longo destacou que “em ambientes hospitalares elas podem disseminar bactérias, podem migrar, passar por objetos ou locais contaminados e levar para outros compartimentos”. Ele ressaltou ainda que há pesquisas realizadas na Unesp (Universidade Estadual Paulista) que confirmam tal fato.

Formigueiros no parque infantil da Praça do Rádio, no Centro de Campo Grande (Foto: Alicce Rodrigues, Midiamax)

Riscos estruturais

O biólogo Vinholi reforça que grandes formigueiros podem causar ainda riscos estruturais, “como aconteceu em uma praça no bairro Panamá, onde um poste caiu por causa de um formigueiro gigante de Atta sp. (conhecida como formiga-saúva)”.

Nos parques, a presença dos formigueiros espanta moradores, que têm receio de serem picados, principalmente no caso de crianças, que são as maiores usuárias das áreas naturais, como em campos e em parquinhos.

“É até perigoso para uma criança estar brincando nessas praças e o chão ceder, pois as formigas criam um labirinto subterrâneo de ninhos”, disse o jardineiro Celso da Silva, de 50 anos, que cuida de residências e praças na região do Paulista.

Questionada sobre a existência de algum estudo a respeito da situação atual da presença das formigas em áreas urbanas do município e seus impactos, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que o CCZ (Centro de Controle e Zoonoses) não possui nenhum estudo ou levantamento em relação à presença destes animais em canteiros ou praças públicas. 

“A manutenção dos mesmos é feita pela concessionária responsável pela conservação e asseio (Solurb), Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos e por empresas particulares conveniadas ao PROPAM (Programa de Parceria Municipal). Em alguns pontos é realizada a remoção e controle químico dessas colônias”, diz a nota da Sesau.

Tipos de formigas

As formigas são comuns em todos os biomas e são base da cadeia alimentar para vários grupos da fauna. A ausência de grandes predadores em ambientes urbanos (como tamanduás) pode explicar, em parte, a abundância de formigas em Campo Grande. 

Segundo o biólogo Airton Vinholi, a maioria das espécies que ocorrem em meio urbano em Campo Grande é nativa. Ele explica que o grupo das formigas, dentro classe dos insetos, é um dos que possui maior biodiversidade. São inúmeras famílias, gêneros e espécies. No bioma cerrado essa diversidade de fauna de formigas é profundamente acentuada. 

“Assim, é preciso que haja um levantamento das principais espécies que, nesse momento, estão causando tamanha infestação. Contudo, as espécies do gênero Atta (saúva) e Acromyrmex (cortadeira) costumam ser muito comuns”, destacou.

“Pode haver possíveis desequilíbrios locais, uma vez que algumas espécies cortadeiras, comuns em infestações como os que estamos observando, danificam as raízes de plantas, causando uma cadeia de prejuízos às comunidades biológicas locais. Contudo, os maiores prejuízos costumam ser observados nas lavouras e outros ambientes rurais”, explicou o biólogo.

Ele relembra que em meados de 2017, houve uma infestação de saúvas. “Tivemos em Campo Grande extensos ninhos de formigas saúvas, que são cortadeiras e comumente observadas em ambientes rurais, conhecidas inclusive como pragas agrícolas”, conta.

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