#CG125: Imigração está no ‘DNA’ de Campo Grande, que faz aniversário com título de cidade cosmopolita

Seja agregado ou nascido aqui, todos acabam se tornando campo-grandenses de coração

Layane Costa – 26/08/2024 – 06:49

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Atualmente, Campo Grande possui 898.100 habitantes (Foto: Arquivo, Midiamax)

Hoje, 26 de agosto, Campo Grande, ou a ‘Cidade Morena’ – devido a sua terra ser vermelha – completa 125 anos, carregando desde a sua fundação uma característica única de ser uma cidade cosmopolita – local onde existem pessoas de vários países e Estados. Seja agregado ou nascido aqui, todos acabam se tornando campo-grandenses de coração.

Nos primeiros dados cadastrados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre Campo Grande, referentes à década de 1920, já era notável uma abrangência de estrangeiros: espanhóis, italianos, portugueses, japoneses, sírio-libaneses, paraguaios e bolivianos já constavam em lista.

Já no segundo levantamento, cerca de duas décadas depois, os dados revelam que havia cerca de 49.629 mil habitantes na cidade, sendo que 3.511 eram estrangeiros – o que na época representava cerca de 7% da população campo-grandenses. A concentração maior estava nos japoneses (977), portugueses (290), alemães (168), italianos (146) e espanhóis (120).

Atualmente, Campo Grande conta com 898.100 mil habitantes, conforme o censo de 2022. Muitas pessoas de outros Estados ainda procuram o município para ter um novo lar.

O Jornal Midiamax conversou com o historiador e professor univeristário, Eronildo Barbosa, que falou sobre Campo Grande ter essa característica ‘multifacetada’. “Uma cidade que recebe historicamente pessoas do mundo inteiro”, afirmou.

“Campo Grande tem uma característica globalística e multifacetada, recebendo pessoas da Europa, Japão, África, além de países latinos e dos Estados Unidos. Além de receber pessoas de outros países, um grupo muito importante de nordestinos se espalharam [na década de 40] pelo Estado, alguns ficaram aqui”, ressaltou o historiador.

Qualidade de vida?

Muitos afirmam que Campo Grande sempre ofertou uma qualidade de vida boa aos seus moradores. Isso é até a atualidade um dos motivos que atraem pessoas de estados vizinhos como São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Na visão do historiador Eronildo, Campo Grande é uma cidade rica e com uma ótima qualidade de vida, sendo esses os principais motivos da atração de diversas pessoas.

“Eles vêm porque desde a sua fundação a cidade oferece condições que atendem as suas expectativas. É uma cidade bonita, moderna, confortável e boa de se morar, baixa violência e humana”, pontou.

Ainda para o historiador, o Mercadão Municipal é um exemplo. “Talvez a expressão desse aspecto globalizado de culturas e de sabores esteja como exemplo no Mercadão Municipal, onde você encontra pessoas e sabores de vários países e, principalmente aos domingos, de várias culturas”, destacou.

Estação de trem

Na visão da presidente do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul), Maria Madalena Greco, a cidade recebeu na sua fundação um grande número de estrangeiros devido à estação de trem.

“Decorre justamente do fato de Campo Grande ter a grande estação de trem. Desde a primeira chegada dos trens em 14. Essa estação teve essa vocação de ir trazendo pessoas”, explicou Madalena ao Jornal Midiamax.

Conforme Madalena, no século passado o trem era sinônimo de progresso e integração, o que fez Campo Grande saltar. “Se a gente pensar que o trem no início do século passado era sinônimo de progresso e integração, nós vamos ter essa característica muito bem acentuada, então fica essa vocação de Campo Grande”, pontou Madalena.

Estação do Trem em Campo Grande

Campo Grande se configurou como um grande Canaã do Centro Oeste. “Com a divisão do Estado, precisavam sempre de mais mão de obra, então Campo Grande já tem essa vocação de estar acolhendo e abrigando pessoas das mais diversas partes do país e do exterior justamente por ser uma cidade que no início do século se configurou como grande Canaã [do Oeste] e depois com a criação do Estado [Mato Grosso do Sul] essa possibilidade de crescimento e de fazer tantas coisas cresceu. Essa é a grande vocação de Campo Grande”, explicou a presidente do IHGMS.

Após anos, Campo Grande continua recebendo pessoas de Estados, contudo Madelana pontua que a chegada maior de pessoas foi no início do século XX.

“O grande “boom” que aumentou de maneira exponencial a população nesse processo migratório foi realmente no início do século 20. Hoje nós já não vemos esse fluxo migratório de uma maneira tão grande, mas sem dúvidas as pessoas que chegaram nesse período encontram em Campo Grande todo o potencial de trabalho e oportunidades”, ressaltou.

Do Rio Branco para Campo Grande

Há mais de 2.695 km da capital sul-mato-grossense, a esteticista, Ketly Castro da Silva, de 28 anos, fez da ‘Capital Morena’ seu novo lar, se tornando campo-grandense de coração.

“Vim em 2018 sozinha, minha mãe veio visitar e falou muito bem daqui [de Campo Grande], quando decidi mudar de Estado foi uma ótima opção”, comentou Ketly.

Ketly contou ao Jornal Midiamax que veio para Campo Grande em busca de oportunidades, visto que em Rio Branco, no Acre, as condições não são as mesmas. Porém, a sua chegada à Capital não foi fácil, devido ao título que Campo Grande carrega de ser uma cidade ‘difícil de fazer amizades’. “A chegada foi bem difícil, visto que não tenho família aqui, e as pessoas são bem reservadas, então demorei um tempinho longo para me adaptar”, comentou Ketly.

Após seis anos morando em Campo Grande, Ketly comenta que muitas realizações já foram concretizadas. “Alcancei quase todas as metas que me propus a alcançar, como casa própria, veículo e conclusão da faculdade”, frisou Ketly.

Voltar para o Acre não está mais nos planos da rio-branquesse de nascimento, porém campo-grandense de coração. “Voltar não é uma opção, tudo que conquistei aqui nem sei se conseguiria ter lá e a realidade do estado infelizmente é muito ruim”, lamentou.

Mas, chegar a Campo Grande e ter como um lar não é só ‘luxo’, há pontos negativos no olhar da rio-branquense. “Como o transporte público, por toda a cidade existem pontos de ônibus que não têm cobertura, tem muitas ruas com o asfalto bem ruim. Fora que vejo muitas praças com parquinhos abandonados”, lamentou sobre os pontos negativos da cidade.

Do interior do Estado para a Capital

Campo Grande não abriga apenas pessoas de outros Estados ou países, mas também sul-mato-grossenses em busca de oportunidades na Capital. Como é o caso da Marcela Souza de Azevedo, de 25 anos, que saiu de Corumbá em 2017, com destino a Campo Grande para concluir o ensino superior.

“Vim de Corumbá para cá no susto, para conseguir fazer minha faculdade, até então era fixo por quatro anos [tempo necessário para concluir os estudos]”, comentou Marcela ao Jornal Midiamax.

Contudo, Marcela viu em Campo Grande a oportunidade de se estabilizar, que não era encontrada na sua cidade natal. “Em questões de oportunidade de emprego, em Corumbá não tem muita, em Campo Grande tem diversas oportunidades, foi um dos grandes motivos que fizeram que eu ficasse aqui”, ressaltou.

Mas, mudanças nos planos e na trajetória ocorreram na vida da Marcela, porém não deixaram de realizar o grande sonho de se tornar DJ. “Eu vim com o pensamento, vou me formar e trabalhar na minha área, mas descobri tantas coisas em Campo Grande, que sou muito feliz aqui”, frisou.

Foi em Campo Grande que Marcela descobriu seu potencial para se tornar DJ. “Descobri minha oportunidade de ser DJ aqui em Campo Grande, quando estreei na ‘Farofolia’ em 2023. A partir dai fui atrás dos meus sonhos. Sempre quis que as pessoas me conhecessem por algo bom que eu fizesse. E, a partir disso, eu me destaquei bastante”, comemorou.

Mas, toda distância tem a saudade, e a parte mais difícil para a corumbaense de morar em Campo Grande, com certeza é saudade da família. “Única coisa que eu sinto falta são dos meus pais, da minha família que é toda de Corumbá”, frisou Marcela.

No olhar de quem foi ‘adotado’ pela cidade, Campo Grande é mesmo uma “cidade cheia de oportunidades”

Para Marcela, Campo Grande está em grande desenvolvimento. “Campo Grande é massa demais, é uma capital interiorana ainda, mas que está em desenvolvimento, é muito tranquila e tem oportunidade sim, de crescimento. Campo Grande é ponto de união, é o coração do Estado”, frisou Marcela.

Na visão da rio-branquense a Capital também oferece inúmeras oportunidades. “Campo Grande é uma cidade de muitas oportunidades, tem muitas opções no mercado de trabalho, a qualidade de vida é boa, a localização é ótima”, comentou Ketly.

Além disso, Ketly recomenda o município de Campo Grande para quem deseja migrar de Estado. “Campo Grande, eu recomendo principalmente para quem, assim como eu, tem interesse de mudar de vida e crescer em todas as áreas. Para mim foi uma oportunidade única e aproveitei como se fosse a última”, frisou a acreana.

Da Paraíba para Campo Grande

O historiador Eronildo também é um dos que fez de Campo Grande um novo lar, se tornando campo-grandense de coração, mesmo o sotaque não negando ser paraibano. “Vim para Campo Grande em 1987, morava em Campina Grande, há 100 quilômetros da praia, mas as condições que encontrei aqui, não tinha lá”, comentou.

Na visão de Eronildo, o município deve muito aos imigrantes. “Tomara que ela continue sendo sempre uma cidade que sabe receber pessoas do mundo inteiro e tem sido um instrumento de alavancagem e crescimento cultural, econômico e social. Campo Grande tem características universais, é bem arborizada e tem um clima relativamente bom”, pontou.

Administradores

A administração municipal também foi formada por pessoas que se tornaram campo-grandenses de coração, como a atual prefeita do município, Adriane Barbosa Nogueira Lopes, que nasceu na cidade de Grandes Rios, no Paraná, mas se mudou para a capital sul-mato-grossense ainda na infância.

Fato que se estende também ao atual governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Corrêa Riedel, que nasceu no Rio de Janeiro, mas o coração escolheu ser campo-grandense.

Além de Adriane e Eduardo, Campo Grande já teve administradores campo-grandenses de coração como o caso de André Puccinelli (Viareggio), Lúdio Martins Coelho (Rio Brilhante), Gilmar Antunes Olarte (Aquidauana) e Alicedes Jesus Peralta Bernal (Corumbá).

Além de José Orcírio Miranda dos Santos (Porto Murtinho), Pedro Pedrossian (Miranda), Marcelo Miranda Soares (Uberaba) e Ramez Tebet (Três Lagoas).

‘Cidade Morena’ fundada por um mineiro

Não é surpresa Campo Grande carregar o título de cidade cosmopolita, visto que a sua fundação ocorreu pela ação de um mineiro. Em 21 de junho de 1872, o mineiro José Antônio Pereira chegou ao Sul de Mato Grosso, pela primeira vez. Ele retornou para a cidade em 1875 para se instalar definitivamente com a sua família.

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