Bets: Campo-grandenses cobram mais orientação às pessoas em vulnerabilidade social

Em meio à pobreza e necessidade de aumentar a renda, pessoas em vulnerabilidade social são alvo dos jogos de apostas on-line

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Apostas online
Apostas online (Joédson Alves, Agência Brasil)

Os famosos bets — termo oriundo do inglês que significa jogar — que se referem aos jogos de apostas on-line, têm atingido cada vez mais populações incluídas em grupos de vulnerabilidade social e econômica. Nas ruas de Campo Grande, entrevistados pelo Midiamax, nesta quarta-feira (25), entraram em um consenso: a importância de se falar sobre o assunto e os riscos das apostas.

O assunto ganhou destaque principalmente após uma análise técnica feita pelo Banco Central revelar que, em agosto deste ano, os beneficiários do Bolsa Família que fazem apostas esportivas on-line gastaram R$ 3 bilhões em bets via Pix.

O montante destinado às empresas de apostas corresponde a 20% do valor total repassado pelo programa no mês. Em média, o valor gasto por pessoa foi de R$ 100. Desse total de apostadores, 70% são chefes de família, ou seja, quem de fato recebe o dinheiro transferido pelo governo. O grupo enviou R$ 2 bilhões por meio do Pix às bets em agosto.

Percebe-se um padrão emergindo socialmente, pessoas incluídas em grupo de vulnerabilidade social procurando um aumento na renda, mas por meio do que muitos chamam de “jogos de azar”. Nas apostas, há possibilidade de se ganhar muito, mas também de perder muito.

Um das pessoas que falou com o Midiamax, um homem de 26 anos que não quis ser identificado, explicou que nunca jogou, mas que se assusta ao ver pessoas próximas se endividando. “Eu acho que vai muito do conhecimento também da pessoa, né, saber que, assim, é um jogo de azar. Ali você pode tanto ganhar e tanto perder. Então, eu acho que a pessoa mesmo deveria ter essa noção, né”, disse.

Sobre pessoas em vulnerabilidade social estarem apostando muito, ele levantou um ponto que deve ser lembrado.

“Infelizmente, esse tipo de jogo acaba atingindo justamente essas pessoas mais carentes. Às vezes, também pela necessidade de querer ter um dinheiro mais fácil e rápido, acabam sendo os principais atingidos por esse jogo. O jogo acaba justamente alcançando essas pessoas que talvez por falta de conhecimento maior acabam ficando presos num ciclo muito difícil de sair”, disse.

População cobra fiscalização

Outra pessoa que conversou com a reportagem foi a diarista Marcia de Santos Cordeiro, diarista. Para ela, as empresas miram nos públicos mais vulneráveis e se aproveitam da fragilidade das pessoas.

“Eu não jogo, não gosto. Todo mundo faz o que quer da sua vida, mas eu acho que a fiscalização tem que bater mais, porque as maiores vítimas desse jogo são as pessoas idosas. Eles que recebem a sua pensão, sentam num banco de praça desse, fazem essas apostas, chegam no dia 15 e ninguém tem mais dinheiro, porque perdeu tudo nisso”, explicou.

Segundo ela, pessoas de baixa renda e idosos são bombardeados por anúncios, justamente por serem um público mais sensível que costuma precisar de aumento na renda.

Para Jean Victor Machado, o assunto deve ser muito mais debatido. “Eu nunca joguei porque eu sei que geralmente é esquema de pirâmide. Então muitas vezes você vai perder. Mas muitos dos meus amigos costumam jogar e perde também”, disse.

Segundo Jean, alguns desses amigos precisaram até mesmo pedir ajuda financeira de seus familiares, pois quando se deram conta estava com a conta no vermelho. Ele lembra, também, que geralmente são pessoas que já precisavam de dinheiro.

“Eu acredito ser aquelas pessoas que por não ter uma renda boa, vamos supor, ele tem cem reais. Ele vai lá e tenta apostar para duplicar o dinheiro dele, então geralmente pessoas que têm pouco dinheiro tentam apostar praa ganhar mais, mas acabam ficando sem nada e pior do que já tava”, lembrou.

Nota técnica do BC

A nota técnica do BC não contabiliza eventuais prêmios sacados pelos apostadores, mas especialistas alertam que as apostas podem resultar em perdas frequentes, comprometendo o orçamento familiar, especialmente das famílias de baixa renda.

“Para identificar as pessoas em grande vulnerabilidade financeira, utilizou-se a informação de beneficiários do PBF [Programa Bolsa Família] existente em dezembro de 2023. Cerca de 17% desses cadastrados apostaram no período. A proporção de apostadores é praticamente a mesma quando se examina apenas quem de fato recebe o benefício governamental, os chefes de família”, diz trecho da nota.

Em agosto, o Bolsa Família repassou R$ 14,1 bilhões para mais de 20 milhões de beneficiários. O valor médio por família pago no mês foi de R$ 681,09.

Senado propõe limitar os valores de apostas on-line para inscritos no CadÚnico

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) informou nesta quinta-feira, 26, que irá protocolar dois projetos de lei para modificar a legislação sobre bets e jogos de azar on-line. As propostas buscam limitar as apostas de pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) e proibir a publicidade de apostas em todo o território nacional.

O primeiro projeto propõe limitar os valores de apostas de pessoas inscritas no CadÚnico — usado para a inclusão de famílias de baixa renda em programas sociais, como o Bolsa Família —, idosos e pessoas negativadas ou com dívidas ativas.

A proposta sugere a esses grupos “limite de perdas financeiras, seja em valor absoluto ou percentual; restrição de transferências mensais para plataformas de apostas e limitação de valores mensais transferidos, com base na renda declarada pelo apostador”.

A justificativa do projeto cita estudo do Banco Central que revelou que, em agosto, 5 milhões de pessoas de famílias beneficiárias do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões via Pix a plataformas de apostas.

“Entendemos que o Bolsa Família é um importante benefício de distribuição de renda. Embora se defenda que são as próprias famílias que melhor sabem como utilizá-lo, de acordo com suas necessidades específicas, não se pode negar que os beneficiários estão em condições de vulnerabilidade social que demandam limitações às apostas. É preciso deixar claro que aposta não é investimento”, diz o autor da proposta.

Como buscar ajuda

Jogadores Anônimos do Brasil
Encontros para compartilhar experiências e ajudar outras pessoas a se recuperar de problemas de jogo. Há cidades que realizam reuniões semanais regulares.
jogadoresanonimos.com.br

PRO-AMJO
Serviço do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP é voltado para estudar e tratar pacientes com transtorno do jogo.
www.proamiti.com.br/transtornodojogo
(11) 2661-7805

Serviços de saúde
Procure uma UBS (Unidade Básica de Saúde) ou Caps (Centros de Atenção Psicossocial) mais próximos de sua residência para encaminhamento psicológico.

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