Vaquinha para tapar buraco, muro no meio da rua e rotina de violência são retratos do Noroeste
Basta uma volta no bairro para constatar diversos problemas que moradores esperam por solução há anos
Ranziel Oliveira –
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Distante do Centro e também dos olhos do poder público. É assim que os moradores do Noroeste se sentem vivendo no bairro. Os problemas começam no ‘linhão’ de energia, de responsabilidade da concessionária Energisa, na Avenida Marechal Mallet, onde um imenso matagal é esconderijo para criminosos e itens roubados. As adversidades seguem nas vias do entorno, tomadas por erosões e lixo.
Com 18 anos de bairro e ex-moradora da antiga ‘Favela do Linhão’, a dona de casa Carmen da Silva, de 59 anos, contou um pouco da história do ‘linhão’ da Avenida Marechal Mallet. “Aqui moravam 98 famílias que foram realocadas, porque aqui é propriedade da Energisa”, disse ela.
Com o passar do tempo, o mato tomou conta do ‘linhão’ e trouxe perigo para a comunidade. “Já liguei para a ouvidoria da Energisa. Deram um prazo de 13 dias, mas nunca vieram. Aqui tem assalto de dia. Essa semana uma menina teve o celular roubado às 6h30. Os criminosos usam essa mato para se esconder e guardar as coisas roubadas. Já vi saindo dali de dentro com botijão e televisão”, disse ela.
Além dos problemas causados pelo mato, a rua também carece de melhora na infraestrutura. “Fora os animais mortos que jogam aqui, tem essas erosões. Quando chove fica impossível de andar na rua. Não adianta a prefeitura fazer contenção de água e jogar terra nos buracos. Na primeira chuva leva tudo, eles precisam cascalhar pra resolver. E isso eles não fazem. Queremos providências que resolvam de verdade, ao invés de maquiar o problema”, disse ela.
Falta de segurança e abandono
Seguindo pela região, além dos problemas estruturais da rua Martin de Sá, os moradores também lidam com a falta de segurança. “Aqui quando chove vira um rio. Essa rua é cheia de erosões e não adianta a [prefeitura] só jogar terra, tem que cascalhar. As portas da minha casa já foram arrombadas 6 vezes, a gente se torna refém dentro de casa”, disse o pedreiro Sebastião Israel Prestes, de 69 anos.
Indignado, ele relata o perigo frequente que os moradores são obrigados a conviver. “Você sai de casa, e quando chega não tem mais nada. Policiamento aqui você não vê. Eu sinto que eu estou preso e os ladrões soltos. Você tem que ficar cuidando a sua casa e não sair. Já chegaram a dar veneno pros meu cachorros, eles morreram e depois vieram roubar”, desabafou o pedreiro, com mais de 12 anos de bairro.
R$ 300 do próprio bolso para arrumar a rua
Marilza de Oliveira, de 46 anos, é ex-moradora da favela do linhão. Hoje morando na rua Jordão, ela viu os anos se passarem na região, mas sem o acompanhamento do progresso.
“Olha o jeito que está essa rua, tem tanto buraco que você não passa em dia de chuva. Essas pedras que você está vendo foram os moradores que colocaram. Juntamos R$ 300 e pagamos para colocar, porque a prefeitura de Campo Grande não vem arrumar”, disse ela.
Sobre as promessas de melhora, ela desabafou. “Os políticos só apareceram na eleição. Aí o ex-prefeito lembrou da gente, para pedir voto. Aí aparece uma cesta básica e promessas, eles são assim. Época de chuva você não [sai] por causa das valetas”, disse ela.
Mais revolta com o matagal no ‘Linhão’ da Energisa
A situação da Avenida Marechal Mallet é uma revolta compartilhada por todos da região. “São os moradores que se unem para catar os lixos. Lá já foi encontrado bicho morto, moto roubada e até corpo. Eu temo pelos meus filhos e neta, e tenho que deixar eles o dia inteiro dentro de casa. Porque se passar um ladrão ou estuprador, e eles estiveram nessa rua pode acontecer o pior, por causa desse mato. É um descaso muito grande da Energisa”, disse ela.
“Tiraram as pessoas que ocupavam a área, mas abandonaram a região. Antes, pelo menos o pessoal limpava. Agora jogam lixo, sofá e até cama”, conclui.
Construção de alvenaria fecha rua
Nos mapas disponibilizados pelo Google Maps, a rua ‘Estr. Né Um’ consta como via. Nos mapas da prefeitura, a nomenclatura da via muda, sendo encontrado como ‘Estrada EW-1’ ou ‘Rua Castelnuovo’, dependendo do trecho. Na teoria, de fato, é uma rua. Mas, na prática, a situação é bem diferente. Além da falta de limpeza e manutenção, o que a deixa quase intransitável, uma construção de alvenaria está fechando a via no cruzamento com a rua Jordão.
Histórico do ‘linhão’
No dia 29 de janeiro de 2020, o Jornal Midiamax relatava a situação dos antigos moradores da ‘Favela do Linhão’. Eles foram intimados a deixar a área em até 15 dias, na terça-feira (28) daquele mês. Isso porque a área de ocupação onde viviam pertence à concessionária Energisa e é considerada de alto risco, já que está abaixo da linha de transmissão elétrica.
O documento entregue às famílias é da 6ª Vara Cível de Campo Grande e se trata de uma reintegração de posse, diz que os moradores deveriam deixar a área em até 15 dias e que o tempo era suficiente para retirada de eventuais pertences dos locais, sob pena de desocupação com uso de reforço policial.
Posteriormente, após a reintegração de posse da Energisa, eles foram mandados para uma nova área, agora regularizada pela prefeitura de Campo Grande.
O que diz a PM
Sobre a situação da criminalidade na região, a PMMS (Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul) informou em nota que o policiamento na região é feito pelo 9º Batalhão de Polícia Militar, com reforço das Unidades do CPE (Comando de Policiamento Especializado), a exemplo do Batalhão de Polícia Militar de Choque, do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), do Batalhão de Polícia Militar Ambiental, entre outros.
Rondas preventivas e abordagens policiais ocorrem diariamente em todos os bairros da capital, inclusive no local informado. Todo policiamento é realizado com base na análise de dados estatísticos, extraídos dos Boletins de Ocorrências e também dos atendimentos à comunidade local.
Energisa diz que limpeza é responsabilidade da Prefeitura
A Energisa foi acionada para prestar esclarecimentos sobre a manutenção do ‘Linhão’. Em nota, a Energisa esclareceu que a linha de transmissão está em via pública e a manutenção de vias públicas é realizada pelo município, bem como o serviço de limpeza.
O Jornal Midiamax acionou a PMCG (Prefeitura Municipal de Campo Grande) para prestar esclarecimentos sobre a situação estrutural das ruas e a limpeza de todas as vias citadas nesta reportagem. Também foi questionado o prazo para cascalhamento das mesmas. Entretanto, a prefeitura de Campo Grande se omitiu e não respondeu nenhum dos questionamentos. Todas as perguntas foram formalizadas via e-mail, pelo canal oficial para solicitações com a gestão. O espaço segue aberto para posicionamento.
Em outro comunicado, o Jornal Midiamax questionou a legalidade da obra que está fechando a rua Estr. Né Um. Em resposta a esse e-mail, a Prefeitura informou que será encaminhada fiscalização ao local citado para verificar a denúncia. “Destacamos que denúncias de invasão de logradouro público e construções irregulares devem ser formalizadas na Central de Atendimento pelo número 156”, diz em nota.
Em nota, a Prefeitura de Campo Grande respondeu na tarde desta quarta-feira, às 17h.
A prefeitura vem trabalhando intensamente nesse período de chuvas para mitigar os problemas decorrentes da intempérie. No Noroeste, citado na matéria, temos equipes, entretanto é uma área grande e quase toda sem pavimentação o que faz com que, com as chuvas, a situação se agrave. A SISEP está priorizando, no momento, a manutenção das ruas de maior movimentação e por onde circulam linhas de ônibus.
No Noroeste, hoje, estão sendo feitos trabalhos na Rua das Perdizes, Rua das Dálias e Rua Água Funda. Temos conhecimento dos problemas do Linhão e tão logo forem estabilizadas as situações mais críticas, atuaremos nessa área.
O município trabalha no momento na captação de recursos para aumentar as equipes de atendimento na Região do Prosa e desta forma dar mais agilidade às necessárias manutenções do Noroeste, Chácara dos Poderes e demais parcelamentos.
(Matéria alterada às 17h34 para acréscimo de posicionamento da Prefeitura de Campo Grande).
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