Sol, chuva e vento: quase metade dos 4,3 mil pontos de ônibus de Campo Grande não têm cobertura

Em 2.143 pontos, morador se depara com postes de madeira sem qualquer suporte ao passageiro

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Poste de madeira é quase a metade do 'modelo' de ponto em Campo Grande (Foto: Ranziel Oliveira, Midiamax)

Acordar bem cedo, correr para pegar ônibus, utilizar pelo menos dois coletivos lotados e gastar média de uma hora em locomoção. Essa é a realidade diária de muitos campo-grandenses que necessitam do serviço público para trabalhar e cumprir com demais compromissos. Frente a essa correria, muita gente ainda precisa lidar com outro fator agravante: a falta de estrutura em muitos pontos de ônibus de Campo Grande, que deixa os usuários à mercê de sol escaldante, chuvas intensas, ventos fortes e incontáveis desconfortos.

Na Capital, quase metade dos pontos de ônibus não conta com o mínimo adequado, que é ao menos uma cobertura para proteger do sol forte ou da chuva.

Conforme dados da Prefeitura, Campo Grande possui 4.386 pontos de ônibus. Deste total, apenas 2.243 paradas têm cobertura e assentos. Nas demais 2.143 estações, que representa 48,86% do montante, morador se depara com postes de madeira sem qualquer tipo de suporte ao consumidor que ali aguarda pelo transporte coletivo.  

Questionada sobre a existência de algum plano de adequação dos pontos de ônibus da cidade, a prefeitura se limitou a dizer que:

“A manutenção é realizada pela Agência Municipal de Transporte e Trânsito por meio de fiscalização e denúncias protocoladas no 156 ou por meio do Fala Campo Grande. Em casos de mato alto decorrente de áreas particulares, a limpeza e manutenção é de responsabilidade do proprietário do terreno. Já em áreas de passeio, a Sisep faz a manutenção e fiscalização da área”, pontuou em nota.

Descaso e improviso

Relatos sobre o descaso em determinados pontos da cidade são frequentes a ponto dos próprios moradores precisarem improvisar para ter o mínimo de decência em relação ao serviço antes mesmo de entrar no coletivo. Recentemente, o Jornal Midiamax mostrou a parada localizada na Avenida Afonso Pena, principal cartão-postal da cidade.

Por lá, o improviso de tijolos para ‘calçar’ o banco chama atenção e ainda revela a preocupante situação do usuário de transporte coletivo, que precisa se sujeitar a situações de risco à própria segurança.

Ponto de ônibus com blocos de tijolo
Blocos de tijolo sustentam banco do ponto (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

Isso porque o banco de ferro, já consumido pela ação do tempo, está apoiado em dez blocos de tijolos de cimento, cinco de cada lado para garantir certo equilíbrio. O ponto está localizado em frente ao IEL (Instituto Euvaldo Lodi), no sentido shopping-aeroporto, a pouco mais de 2 quilômetros da sede da prefeitura de Campo Grande.

A reportagem entrou com contato com a prefeitura de Campo Grande sobre reparos e troca do banco na época, mas até hoje não recebeu nenhum retorno.

Situação gera revolta aos moradores, afinal, a implantação e manutenção dos pontos de ônibus, seja os postes verticais de madeira ou abrigos, é de responsabilidade do município.

Situação se repete nos bairros

Se condição acontece em plena Afonso Pena, aos olhos de grande parte da população, imagina nos bairros afastados e esquecidos pelo poder público? No Jardim Noroeste, teve morador que tirou recursos do próprio bolso para calçar pontos de ônibus da região. Cansado de tamanho descaso com os moradores, Juliano Alexandre precisou carpir, limpar e fazer calçadas em pontos de ônibus de Campo Grande.

Segundo ele relatou à equipe de reportagem, o matagal ao redor das paradas estava tão grande que facilitava o aparecimento de cobras, escorpiões e demais bichos peçonhentos.

As constantes reclamações e a preocupação com os demais moradores levaram o jovem de 21 anos a pagar o calçamento com próprio salário. “Comprei material no mês passado, paguei o frete e também paguei o pedreiro. Eu mesmo me prontifiquei”, afirma.

pontos de ônibus
Com ajuda de pedreiro e freteiro, Juliano realizou a calçada de três pontos de ônibus (Fotos: Leitor Midiamax)

Até o momento, ele já contribuiu com três pontos de ônibus e pretende fazer calçamento em outras paradas do Jardim Noroeste. Sem qualquer apoio do município, ele pede ajuda dos moradores para continuar o trabalho. Quem quiser contribuir, pode falar com Juliano pelo WhatsApp: (67) 98442-9829.

Em meio à polêmica de má prestação de serviço por parte do Consórcio Guaicurus, que explora o transporte público de Campo Grande há 10 anos e tenta implementar passagem a R$ 8 reais – mesmo com frota velha, atrasos e lotações – quem depende dos coletivos também se depara com diversas irregularidades nos terminais.

Abandono nos terminais de ônibus

Não precisa procurar muito para encontrar diversas irregularidades nos terminais de embarque e desembarque de Campo Grande, já que episódios de abandono são expostos a todos os olhares diariamente. No ponto de integração Hércules Maymone – que desde 2019 aguarda reforma sair do papel – os usuários são obrigados a conviver com estrutura decadente, falta de água e banheiros simplesmente imundos em situação deplorável.

Cenário parecido se repete na estação de embarque Peg-Fácil da Rua 15 de Novembro. Por lá, a falta de acessibilidade dificulta o uso do serviço público. Em dias de chuva, a estrutura fica intransitável e usuários ficam completamente molhados.

Situação se expande para demais espaços de Campo Grande. O último anúncio de investimentos nos terminais de ônibus aconteceu em agosto de 2019, ainda na gestão Marquinhos Trad (PSD). Na época, o município previa reformar os terminais Aero Rancho, Nova Bahia, Morenão, General Osório, Moreninhas e o ponto de integração Hércules Maymone.

Terminais de ônibus
Pontos Peg Fácil e Ponto de Integração também colecionam problemas (Foto: Nathália Alcântara, Midiamax)

Em 2020, o município anunciou o começo de obras em outros três terminais: Júlio de Castilho, Bandeirantes e Guaicurus. A reforma nas plataformas teve investimento de R$ 5,5 milhões e previa, além de postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.

Para os seis terminais, a previsão da prefeitura de Campo Grande era gastar R$ 2.704.201,2 nas obras, mas houve aditivo no contrato e o valor final saltou para R$ 3.337.653,21. Parte dos recursos era federal, do PAC Mobilidade. A licitação foi finalizada em fevereiro de 2020.

Meses se passaram e a prefeitura celebrou contrato com a empresa Trevo Engenharia, em outubro de 2020, por intermédio da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), responsável pelos terminais. A previsão era que tudo ficasse pronto até agosto de 2021, quando Campo Grande completaria 122 anos. O aniversário chegou, passou e nada aconteceu.

Corredores de ônibus

A última licitação lançada pela prefeitura para instalação de novos pontos de que se tem notícia foi em outubro de 2018.

Na época, foram R$ 2,1 milhões em recursos do PAC Mobilidade para aquisição de 500 pontos de ônibus cobertos. A instalação começou em julho de 2019. Até então, o município informou que a Capital possuía 3.479 pontos, destes 1.382 eram postes de madeira.

O número de instalações mudou ao longo dos anos, mas os investimentos da prefeitura não acompanharam o desenvolvimento da cidade. Isso porque o município focou atenção e recursos às obras relacionadas aos corredores de ônibus, que implantam estações pré-embarques em ruas e avenidas de Campo Grande.

Porém, espaços também são alvos de reclamação por parte dos moradores. Em meio a impasse envolvendo o transporte coletivo de Campo Grande, é fato que o morador é o mais lesado diante de toda a situação. Dessa forma, a maior esperança é que serviço se iguale em qualidade ao valor pago por usuários.

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