Sem Torre Eiffel e glamour, moradores do Jardim Paris pedem ônibus, segurança e asfalto
Quem mora no bairro reclama dos assaltos constantes e das ruas sem pavimentação
Thalya Godoy –
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Distante da Torre Eifell, do imponente Louvre e das ruas abarrotadas, o Jardim Paris, em Campo Grande, tem mais lugares vazios do que com gente. A paisagem é verde e opaca, nas cores marrom e cinza, devido aos terrenos baldios cheios de mato alto e as poucas casas finalizadas no cimento ou ainda em construção.
Nenhuma via tem asfalto e o único contraste do bairro, na região do Centro-Oeste, vem das poças com água escura que aqui e ali tomam conta das ruas.
Neide Mendes, de 52 anos, mora há dois anos na Rua José Jacintho Sobrinho, no Jardim Paris. A reportagem esteve na casa dela na última sexta-feira (3) e a casa ainda tinha marcas do arrombamento de quarta-feira (1º) em que os ladrões levaram botijão de gás, televisão, carne, um tanquinho de lavar roupas e comida. O prejuízo foi tão alto que ela se perdeu nas contas depois de chegar aos R$ 3,5 mil.
“Eu fui trabalhar em uma fazenda e quando voltei tinham arrombado a porta, levei um susto quando cheguei. Eles levaram tudo, quase colocaram fogo com o micro-ondas, eu tinha deixado aqui um sacolão para os meus filhos e levaram também. Eles ficaram tomando água e comendo bolacha porque levaram o botijão cheio”, relata a mulher.
Além do susto com o quinto assalto em dois anos, a mulher negra e de estatura baixa aponta para o terreno baldio ao lado de casa para mostrar a origem dos animais peçonhentos que aparecem na casa dela. “A gente nunca viu o dono, aqui já apareceu até cobra andando no quintal”, expõe.
Ela acrescenta que também faltam vizinhos e comércios para fazer compras do dia a dia. “São poucas pessoas que moram por aqui, para comprar alguma coisa precisa andar por uns dez minutos”, ela pontua.
Falta asfalto
Sem asfalto ou as charmosas ruas de paralelepípedos da França, os moradores do Jardim Paris, em Campo Grande, convivem com ruas de poeira e com grandes poças de água, locais propícios para virar criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor de Dengue, Zika e Chikungunya
“Aqui a gente tá precisando tampar essas valetas que enchem de água. Quando chove vira o Pantanal, ninguém vê o chão”, afirma a diarista Neusa Santos, de 63 anos.
Ela e o marido escolheram compraram o terreno e construíram uma casa na Rua Castorina Rodrigues da Luz para fugir do aluguel, mas ambos há três anos evitam sair juntos para não deixar a residência sozinha por medo de assalto. Os moradores têm grupo em que trocam mensagens e avisam quando acontece algum roubo.
“Roubaram a igreja e a vizinha ali, mas aqui ninguém rouba porque ninguém sai. Um sai e outro fica, mas os trabalhadores, coitados, sai e quando volta não tem nada”, lamenta a mulher.
Outra reclamação comum de quem mora no Jardim Paris é a falta de uma linha de ônibus que passe pelo bairro. Quem depende do transporte público precisa andar pelo menos dez minutos para pegar a linha 113 Bálsamo/Terminal Guaicurus.
“A linha Uirapuru [107] bem que podia passar por aqui. Tem gente que desce do ônibus às 22h por aqui e é muito perigoso, mas vai fazer o quê?”, ela reclama.
A opinião de moradores mais antigos não é diferente da de quem chegou há menos tempo. A cabeleireira Beatriz Oliveira, de 28 anos, chegou com a família no Jardim Paris há nove anos, com a promessa que o local receberia infraestrutura, porém, até o momento, não se concretizou.
“Aqui a rua é muito esburacada, tá muito abandonado, tá empoçando, não tem drenagem. Aqui só dá para sair de carro quando chove, mas mesmo assim tem muito que atola”, relata a mulher.
No salão Espaço Linda Mulher, localizado entre as Ruas Castorina Rodrigues da Luz e Cassim Contar, ela reforçou a segurança com uma grade e acredita que, por não sair muito, também ajudou a não ser vítima de assalto.
“Muita gente desistiu daqui por causa das parcelas altas e pela falta de estrutura, já cobram IPTU. Meu esposo comprou achando que iam asfaltar, mas até agora nada. O esgoto já tinha”, ela aponta.
Beatriz e Neide reclamam que a parcela do terreno, que foi comprado de uma empresa particular, encareceu muito em pouco tempo. No caso da cabeleireira, o valor cresceu cerca de 57% desde que chegou por lá.
De acordo com o Mapa oficial do loteamento, a maioria dos terrenos mede cerca de 360 m² e os demais pouco mais de 400m².
Escolas sem vaga
Beatriz Oliveira é mãe de um menino de 11 anos e uma garota de sete anos e conta que não conseguiu vaga na Escola Municipal Valdete Rosa da Silva devido ao superlotamento das duas unidades.
Diante do problema, os filhos precisam estudar em outra escola, mais distante de casa. “Vaga a gente só consegue no Jardim Centro-Oeste”, reclama a mãe.
Ocupação no Jardim Paris
Aos fundos do Jardim Paris, uma ocupação se estabeleceu há alguns anos e os moradores têm esperança que o local seja regularizado pela Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários).
Segundo os moradores, o órgão foi até o local há cerca de 15 dias para conversar com quem mora por ali e realizar cadastro. Porém, eles não sabem quais serão os passos.
Ricardo Douglas Evaristo, de 45 anos, se mudou para o local com a filha há dois anos porque não tinha condições de pagar o aluguel e o restante das despesas com o salário mínimo da aposentadoria por invalidez depois de um acidente com moto.
“Eu gasto R$ 400 só com os remédios para dor e essas coisas. Se tivesse que pagar aluguel seriam mais R$ 600. Não ia sobrar para comida, água e luz. Amo morar aqui por isso”, ele expõe.
Na avaliação de Ricardo, a região precisa de mais segurança e policiamento devido aos assaltos que acontecem pelo bairro. “Aqui é onde Deus faz a segurança”, diz o homem enquanto abaixa o volume do hino gospel do carro para falar com a equipe de reportagem.
Ele também diz que a falta de ônibus é outro problema, reforçando o coro de pedidos por uma linha que entre no bairro, o que facilitaria para a população, especialmente em dias chuvosos. Além disso, ele concorda que é difícil conseguir vaga na escola municipal.
“A minha filha conseguiu estudar aqui perto, mas a escola está cheia”, ele avalia.
O que diz a Prefeitura?
O Midiamax entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Campo Grande para repassar os questionamentos e pedidos dos moradores do Jardim Paris.
Em nota, o município afirma que o atendimento no Bairro Jardim Paris “é realizado com rondas preventivas, monitoramento de área pública […] porém não chegou ao conhecimento via canal Oficial telefone 153 da GUARDA CIVIL METROPOLITANA estas ocorrências sobre assaltos, roubos etc. Após esta denúncia recebida através do jornal, informo que serão intensificadas as rondas no bairro”.
Em relação à falta de vagas na Escola Municipal Valdete Rosa da Silva, a Secretaria Municipal de Educação esclarece que “devido a entrega de vários residenciais nas imediações da Escola Municipal Valdete Rosa da Silva, localizada no Jardim das Macaúbas, houve um grande crescimento populacional, em curto prazo, causando déficit de vagas na unidade escolar”.
Assim, a prefeitura complementa que “como forma de minimizar esse déficit, a EM Valdete Rosa da Silva deixou de ofertar o 9º ano, porém, em contrapartida, em parceria com a Rede Estadual de Ensino, foi garantida a matrícula desses alunos na Escola Estadual Marçal de Souza, que fica a 750 m de distância da Escola Valdete Rosa da Silva”.
Quanto à área invadida, a Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) informa que “esteve no local para iniciar um levantamento de informações sobre as famílias moradoras no local. Agora, os dados serão encaminhados à Comissão de Acompanhamentos de Projetos e de Regularização Fundiária (Coaref) responsável por avaliar a possibilidade de regularização do local”.
*Editada às 18h33 para acréscimo da resposta da prefeitura
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