A Santa Casa de Campo Grande, mesmo superlotada e afirmando que já não consegue atender de forma adequada, foi a única interessada no chamado da Prefeitura para contratar leitos pediátricos. A Capital enfrenta uma epidemia de doenças respiratórias, que tem atingido principalmente crianças e sobrecarregado o sistema de saúde.

Segundo o último boletim da Coordenadoria de Urgência e Emergência da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), na manhã de quarta-feira (12), Campo Grande tinha 51 adultos e 20 crianças aguardando transferência nas unidades 24h.

De acordo com a Sesau, a Santa Casa confirmou nesta semana que oferecerá 10 leitos clínicos pediátricos para contratualização. Ainda não há detalhes se a ampliação dos leitos implicará em adicional nos valores já pagos pela prefeitura ao hospital, tendo em vista que os novos leitos são operados para o SUS (Sistema Único de Saúde).

Porém, em troca, a prefeitura precisará ceder dois pediatras para a ativação dos leitos, o que já está sendo providenciado pelo órgão “para que os leitos sejam abertos o mais rapidamente possível”, afirmou a pasta.

Além disso, conforme a nota da Sesau, quatro leitos de UTI Pediátrica foram ativados em outros hospitais, “sem a necessidade de contratualização destes leitos”. A secretaria não detalhou, contudo, onde foram abertos os novos leitos cedidos pelos hospitais privados.

Anteriormente, o Hospital El Kadri tinha demonstrado interesse na contratualização, porém declinou após problemas com certidões e por concluir que não tinha meios para completar a escala de pediatras. Cassems e Unimed responderam à Sesau informando que operam com superlotação. 

Na última segunda-feira (10), o superintendente de Relações Institucionais da Sesau, Yama Higa, que participou do encontro da pasta com os hospitais que poderiam disponibilizar vagas, afirmou que a Prefeitura tinha a intenção de contratar 30 leitos clínicos e 10 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), todos para a pediatria.

Assim, a Prefeitura viabilizou até o momento apenas 14 leitos, quantidade que não representa nem a metade dos 40 leitos pretendidos pelo poder público.

Superlotada, Santa Casa tem recurso milionário atrasado

O Jornal Midiamax questionou a Santa Casa sobre como será feito o atendimento aos pacientes que serão transferidos para o hospital após a ativação dos leitos, em razão de superlotação que motivou nota do hospital para as autoridades informando a não condição de receber novos pacientes, e aguarda retorno.

A Santa Casa de Campo Grande opera com superlotação pelo menos desde o início deste mês. Em 3 de abril, o hospital afirmou que não receberia novos pacientes, porém a Sesau informou que “em nenhum momento” houve paralisação dos encaminhamentos de pacientes à Santa Casa de Campo Grande.

“A Santa Casa tem recebido pacientes mesmo informando a não condição de receber de forma segura”, informou a assessoria do hospital. 

O hospital também aguarda a publicação da prefeitura de Campo Grande que vai liberar até R$ 14 milhões em recursos atrasados desde janeiro. Os valores, que compreendem recursos federais e estaduais, estão “travados” à espera de publicação no Diário Oficial de Campo Grande.

No início do mês de abril, a prefeitura afirmou que finalizava a análise dos termos aditivos para a publicação e liberação dos valores. Nesta semana, segundo a reportagem apurou, a prefeitura remeteu ao hospital os documentos para assinatura. Até esta quinta-feira (13), não houve publicação dos termos aditivos.

Epidemia respiratória matou três bebês em Campo Grande

As SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que têm causado aumento na demanda por internações de crianças, fez quatro vítimas fatais em Campo Grande somente este ano. De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), cinco pessoas, entre elas três bebês com menos de um ano, morreram em decorrência de doenças respiratórias.

Causadas devido ao aumento da circulação de vírus, incluindo o da Covid-19, as SRAG causam internações principalmente em crianças. Desde meados de março, Campo Grande vive um caos na saúde, pública e privada, com unidades superlotadas e falta de leitos pediátricos em hospitais.

Ainda de acordo com dados da Sesau, entre 12 de fevereiro a 10 de abril de 2023, 602 pessoas foram internadas em Campo Grande, com doenças respiratórias. Destas, 70% eram crianças de zero a nove anos.

No mesmo período de 2022, as internações por SRAG somavam 1.012 em Campo Grande, porém, o número de crianças afetadas era de 40%. A Sesau classifica o cenário atual como atípico.