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Cotidiano

Sem conseguir andar, Elaine aguarda há oito meses por diagnóstico em Campo Grande

Com dores constantes e sem um diagnóstico preciso, marido precisou deixar o emprego para cuidar de Elaine
Lethycia Anjos -
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Casos de UPAs lotadas são frequentes em Campo Grande. (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

“Perdi meus pais pela falta de atendimento e posso ser a próxima.” Com dores constantes e dificuldades de locomoção, há oito meses, Elaine Farias, 29 anos, trava uma luta para conseguir realizar um exame de imagem no SUS (Sistema Único de Saúde) em . Sem um diagnóstico preciso, diariamente ela precisa se locomover até a UPA Santa Mônica, a cerca de 4 km de sua casa, para receber medicações para dor que, segundo ela, “só mascaram” o real problema.

As dores começaram em dezembro de 2022. Na época, Elaine suspeitava se tratar de uma infecção urinária e foi até uma unidade de saúde procurar atendimento. Contudo, todos os exames apontavam que não se tratava de uma simples infecção urinária, o que gerou ainda mais preocupação.

“Comecei com dores abdominais e odor nas fezes, sintomas de infecção urinária. Mas fiz exames que não apontaram infecção. Em seguida, vieram ‘furadas’ no canal da uretra, pontadas e minha barriga ficou inchada e dura. Tentei diversas vezes um exame mais preciso, mas foi negado”, explica.

Em abril de 2023, as dores pioraram significativamente a ponto de impedir sua locomoção. Sem conseguir andar, Elaine se viu totalmente dependente do marido, que precisou largar o emprego para se dedicar aos cuidados com a esposa. Com isso, a renda da família foi significativamente afetada.

“Como não consigo fazer nada sozinha, meu marido saiu do emprego de açougueiro para cuidar de mim e da casa. Hoje nossa renda vem do auxílio que recebo do BPC desde que precisei largar o emprego devido a uma depressão”, destaca.

O BPC (Benefício de Prestação Continuada) consiste em um auxílio no valor de um salário mínimo por mês destinado às pessoas com deficiência física e mental e que comprovem ser baixa renda.

Após diversas idas e vindas ao , Elaine foi informada que sua doença poderia ser um caso de endometriose. Mas precisaria fazer um exame específico de ressonância magnética para rastreio da endometriose.

“Fiz alguns exames e me informaram que o exame teria que ser feito por uma ginecologista. Mas só teria no HU (Hospital Universitário). Lá não têm o aparelho de ressonância e eu teria que aguardar no corredor do hospital por seis dias até conseguir o exame”, explica.

Mesmo com os encaminhamentos em mãos, Elaine segue no entrave para conseguir a consulta com especialista. Segundo ela, a cada consulta surge uma informação diferente que dificulta ainda mais o atendimento.

“Peguei os encaminhamentos na UPA e disseram que teria que ir a uma UBS fazer o agendamento. Nisso fico indo de um para o outro e não consigo atendimento”, destacou.

Elaine chegou a procurar auxílio da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, mas não teve o apoio esperado.

“Me informaram que teria que aguardar mais de 60 dias depois da solicitação dos exames para fazer um pedido de reclamação. Caso houvesse a negação da minha transferência para o hospital teria que voltar para casa mesmo com dor”, relata.

Elaine
Elaine precisa ir diariamente à UPA (Foto: Arquivo pessoal)

Perda dos pais revela histórico de negligências

Além das dores físicas, Elaine faz tratamentos psicológicos para depressão e síndrome do pânico. Dores que a acompanham desde a adolescência, mas que foram intensificadas após a perda dos pais.

Para ela, a burocracia em busca de atendimento traz recordações dolorosas de quando perdeu os pais. Em 2017, seu pai descobriu um câncer em estágio avançado. Na época ela precisou largar o emprego como caixa em um supermercado para se dedicar aos cuidados com ele.

“Meu pai demorou quatro meses para conseguir uma biópsia no . Ele procurava atendimento na UPA e era mandado para casa. Quando pedi ambulância informaram que não tinha. Só consegui porque tive ajuda de amigos. Mas meu pai acabou morrendo dentro da ambulância devido a uma parada respiratória”, relembra.

Dois anos depois da perda do pai, veio um novo baque. A mãe de Elaine foi diagnosticada com Parkinson e graves problemas no coração.

“Minha mãe também morreu devido a uma parada cardíaca dentro da ambulância a caminho do hospital. Ela tinha Parkinson e problemas no coração. Foi muito difícil ver minha mãe morrer assim”, conta.

Em meio a isso, Elaine corre contra o tempo para conseguir uma vaga e realizar o atendimento necessário para o diagnóstico de sua doença. “Vi meu pai e minha mãe morrerem dentro de uma ambulância em um intervalo de dois anos devido à demora no atendimento. Só espero que eu não seja a próxima”, finaliza.

O que diz a Sesau?

Em nota, a (Secretaria Municipal de Saúde) informou que toda a rede pública possui a oferta de consultas específicas com médico ginecologista e hospitais contratualizados. Sobre o caso de Elaine, a secretária ressaltou que não houve negligência no atendimento.

“A paciente passou por atendimento de egresso no Hospital Regional de MS em 01/06/23 e possui uma solicitação aguardando agendamento para especialidade de proctologia cirúrgica. Ela está dentro da fila de prioridade, provavelmente ainda este mês”, diz a Sesau.

Conforme a secretaria, em casos como o de Elaine, a orientação é que o paciente retorne à Unidade de referência da região para que consiga o encaminhamento para a especialidade desejada.

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