Por que a Organização dos Estados Americanos quer saber onde está Bigode, desaparecido em MS?
Sumiço poderia estar ligado a conflitos ambientais em Mato Grosso do Sul
Nathália Rabelo –
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O desaparecimento de Antônio Martins Alves, de 84 anos, completou 21 meses no último domingo (16) e fará dois anos no próximo dia 16 de julho, quando se constatou o último paradeiro de idoso, em 2021. Morador do assentamento Canaã, localizado em Bodoquena, Antônio nunca mais deu notícias e, até hoje, a polícia não tem nenhuma pista sobre o seu paradeiro.
O caso mobilizou até a CIDH (Comissão Internacional de Direitos Humanos) e a OEA (Organização dos Estados Americanos) precisou intervir por acreditar que o idoso estaria em ‘situação de grave risco’, especialmente porque ele tinha histórico de atuar em conflitos envolvendo a defesa do meio ambiente em Mato Grosso do Sul.
Você lembra desse caso? O Jornal Midiamax acompanhou o desaparecimento de Bigode em 2021. Na época, o Corpo de Bombeiros realizava as buscas pelo idoso, mas nada foi encontrado. Dessa forma, o trabalho foi encerrado e encaminhado para a Polícia Civil, que iniciou as investigações.
Bigode desapareceu em 16 de julho de 2021 na região conhecida como Córrego Azul. O idoso possuía problema crônico na coluna. Na época, um vizinho percebeu que ele havia sumido e acionou as autoridades.
Quase dois anos depois, a família segue angustiada e até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos chegou a emitir medida cautelar a favor de Bigode, mas o seu desaparecimento ainda é um mistério em Mato Grosso do Sul.
Por que a Organização dos Estados Americanos está preocupada?
A CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) emitiu resolução que concedeu medidas cautelares em favor de Bigode, uma vez que considerou que idoso se encontrava em “situação de grave e urgente risco de dano irreparável a seus direitos no Brasil”.
Isso porque o paradeiro de Antônio nunca teve respostas. Trabalhador rural, ele participava ativamente da defesa de suas terras e do meio ambiente, o que resultou em conflitos com empresas, fazendeiros e grupos interessados na construção de estradas, desmatamentos, exploração do turismo, entre outros.
Além disso, as autoridades envolvidas no caso disseram estar preocupadas “diante da situação de vulnerabilidade, dada sua posição socioeconômica de marginalização histórica, idade e de saúde”.
Dias antes de seu sumiço, uma arma de fogo da sua propriedade teria sido furtada. Dessa forma, documento da CIDH reforça que o desaparecimento pode estar conectado aos conflitos socioeconômicos da região ou a conflitos com proprietários vizinhos.
O que disse o Estado
Na época, o Governo do Estado argumentou que os recursos internos não foram esgotados antes da interposição da solicitação de medidas cautelares. O Estado também disse que o desaparecimento do idoso foi notificado em 19 de julho de 2021, quando se formalizou a denúncia à polícia.
“O engajamento policial foi feito de maneira planejada, coordenada e efetiva, com ‘várias frentes saindo da casa do desaparecido, por caminhos diferentes’. O corpo especializado foi divido em 4 equipes, onde 1 delas ficou pelas redondezas da casa do desaparecido, 3 outras equipes, duas delas com as cadelas Laika e Mali avançaram Morro acima em algumas áreas empregando técnicas de Busca avançada”, disse à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Por sua parte, o Estado indicou que, após buscas intensas, não se localizou o beneficiário, nem se teria identificado indícios de crime ou falecimento.
Conforme documento, o Corpo de Bombeiros retornou ao local para realizar buscas no poço Córrego Azul para verificar se houve afogamento, mas, novamente, nada foi encontrado. Diante desse cenário, o que restou foram hipóteses sobre desaparecimento e possibilidade de crime.
Medida cautelar
Após as investigações, a Comissão solicitou ao Brasil que adotasse as medidas necessárias para determinar a situação e o paradeiro de Antônio Martins Alves, a fim de proteger os seus direitos à vida e à integridade pessoal. Além disso, também pediu informações sobre as ações adotadas para investigar os supostos fatos que levaram à adoção desta medida cautelar e para evitar a sua repetição.
A organização pontuou ainda que investigação do paradeiro de Antônio não foi concreta, pois mesmo após 90 dias do desaparecimento do idoso, não se sabia se havia indícios de crime ou falecimento.
A filha do morador chegou a ir até o instituto forense para colher material genético para ajudar nas investigações. Com isso, a comissão concedeu a medida cautelar em 2021. Porém, até hoje o caso é considerado um mistério sem desfecho.
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