‘Se todos podem participar, por que cortaram o microfone?’ O questionamento veio de um adolescente de 16 anos que acompanhou nesta quarta-feira (15) a audiência pública sobre a rede de proteção à criança em Campo Grande.

O evento, que aconteceu na Câmara de vereadores, foi marcado pelos ânimos exaltados com a situação de vulnerabilidade mais recente enfrentada pelo poder público: a morte da menina Sophia em 27 de janeiro deste ano, mesmo após ter passado por atendimento médico 30 vezes em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

A criança foi levada pela mãe a um posto de saúde, onde as médicas que atenderam a menina constataram que ela já estava morta há pelo menos quatro horas. Tanto a mãe como o padrasto de Sophia foram presos e já indiciados pelo crime. 

A defensora pública Neila Mendez falou em plenário como participante do Fórum Permanente pela Vida de Mulheres e Crianças de MS. Enquanto ela falava sobre caso Sophia, seu microfone foi cortado porque ela havia extrapolado o tempo delimitado para tratar sobre a questão, segundo regimento da Casa.

No entanto, o fato revoltou algumas pessoas, causando uma pequena confusão. Um deles, Paulo, um garoto de 16 anos, aproveitou a ocasião para expor sua revolta. “Campo Grande precisaria de no mínimo nove conselhos tutelares para atender a todas as crianças. O que aconteceu é um absurdo, a gente está cansado de ver esse tipo de descaso”, opinou, aos gritos.

Na proteção de mulheres e crianças. Uma das representantes é Gilsienny Munhoz, servidora pública. Ela afirma que cerca de 25 mulheres participam do fórum.

A audiência

O plenário da Câmara ficou lotado nesta quarta-feira (15) para que a sociedade debatesse em conjunto sobre o assunto, buscando alternativas para que haja uma rede de proteção efetiva para crianças e adolescentes em Campo Grande.

Vestidos com uma camiseta que estampa uma fotografia ao lado da filha, Jean Carlos Ocampos e o marido, Igor de Andrade, relembram cada passo no processo de pedido de ajuda aos órgãos públicos, como o Conselho Tutelar.

Jean diz que a lembrança do sorriso da pequena é motivo para força na luta e evitar mais casos.

“Estamos transformando nosso luto em uma luta para que que outras crianças não passem pelo que ela [Sophia] passou, para que outros pais não passem pelo que estamos passando. Estamos pedindo para que os órgãos deem mais atenção para quando tiver dois pais, duas mães, estamos reforçando para eles fazerem a obrigação. Foi uma negligência, teve descaso, foi omissão, porque olhavam para dois pais e esqueciam da criança. Fomos atrás, mas caminhamos no inquérito sozinhos”, disse.

Ainda com a fala embargada, Jean lamenta os dias difíceis após a morte de Sophia. “Estou aqui por ela. Tem sido cada vez pior, falta ar, não conseguimos dormir e comer. A sensação é de revolta, assassinaram nossa filha. É um processo e estamos lutando para sair disso. Cada dia que passa a saudade aumenta, é muito difícil de prosseguir. Fazíamos tudo por ela. Trabalhávamos para comprar coisas para ela, hoje não tem mais”, disse.

Jean e o marido lamentam o fato de conheceram a história de Sophia após a morte, a audiência pública seria uma maneira de relembrá-la.

“O melhor lado dela conhecemos em vida. Ela era uma criança de luz, de alegria, doce. Todo mundo que passava na rua ela fala ‘oi’. Ela amava dançar, cantar. Nossa vida era cinza e quando a Sophia começou a frequentar nossa casa, trouxe luz e cor, tanto para a minha, a dela e família dela. Ela era felicidade, e vai ser para sempre nossa melhor lembrança”, diz Igor.