Projeto inédito em Mato Grosso do Sul avalia agrotóxicos em comunidade indígena do Pantanal
A segunda etapa de coletas de água e alimentos ocorreu na Aldeia Indígena de Cachoeirinha, localizada em Miranda
Monique Faria –
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O projeto “Impacto dos agrotóxicos em comunidades de povos tradicionais em Mato Grosso do Sul – direitos à saúde ambiental e humana”, desenvolvido pela ONG FONASC CBH (Fórum Nacional da Sociedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas), encerrou, em março, a segunda etapa de coletas de água e alimentos na Aldeia Indígena de Cachoeirinha, localizada em Miranda, no Pantanal de Mato Grosso do Sul.
Os resultados da primeira coleta, finalizada em 2022, ainda não foram analisados pelos pesquisadores do projeto. Entretanto, os laudos demonstram a presença de agrotóxicos nas amostras avaliadas, ou seja, foram encontradas as evidências esperadas de contaminação. Neste ano, a área de coleta foi ampliada, considerando a possibilidade de contaminação por agrotóxico mesmo em áreas, onde o entorno é de pastagem.
De acordo com a coordenadora do projeto, Alexandra Pinho, durante o primeiro ano de coletas foram identificados 27 tipos de Ingredientes Ativos na água analisada e um no alimento. Nenhuma das concentrações encontradas estavam acima dos Valores Máximos Permitidos (VMP) estabelecidos pela legislação brasileira, mas esses valores são preocupantes, porque não há valores definidos para a somatória das concentrações dos diferentes Ingredientes Ativos encontrados em cada amostra, e nem mesmo para a água da chuva.
Foi identificado também que, entre as comunidades participantes, a Retomada Indígena Guyraroká é a mais vulnerável aos impactos dos agrotóxicos. “Encontramos 12 IAs em apenas uma amostra de chuva, totalizando 1,5µ/L (miligramas por litro). A deriva da pulverização está impedindo a produção de alimentos para subsistência e portanto, está interferindo na soberania e segurança alimentar das comunidades e as famílias podem sofrer contaminação aguda e crônica”, explica Alexandra.
Pesquisas científicas já comprovaram malefícios desses agrotóxicos para a saúde humana. Dentre esses malefícios, estão: disfunções do sistema reprodutivo, infertilidades, abortamentos espontâneos, entre outros problemas hormonais que podem potencializar surgimento de doenças crônicas ou oncológicas. Além disso, há evidências científicas de que estão associados com a obesidade infantil.
O projeto tem previsão de encerramento no final de 2023. A partir dos dados coletados, será possível dizer quais os agrotóxicos presentes em cada comunidade e suas quantidades e os riscos de contaminação ao meio ambiente e à saúde das famílias. Os pesquisadores tornarão públicos os dados por meio de artigos acadêmicos e relatório técnicos, que serão entregues às instituições que promovem políticas públicas e fiscalização.
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