Projeto de frigorífico mobiliza mais de 700 moradores contra esgoto no Rio Paraná
Prefeitura de Aparecida do Taboado lançou consulta pública e ambientalistas fizeram mobilização contra projeto
Monique Faria –
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Projeto que prevê implantação de um frigorífico com ponto de despejo na praia do Rio Paraná, em Aparecida do Taboado, distante 462 quilômetros de Campo Grande, mobiliza ambientalistas e moradores da região. Campanha reuniu adesão de pelo menos 700 pessoas em consulta pública lançada pela prefeitura para ouvir opiniões sobre o projeto.
A ONG SOS Rio Paraná, que há 10 anos atua em ações contra emissão de esgoto no rio, é responsável pela campanha “Esgoto sem tratamento e na Praia do Rio Paraná, não”.
A mobilização começou logo após a prefeitura de Aparecida do Taboado divulgar o Plano de Saneamento, um estudo que vai basear licitação para empresas prestadoras de serviços de saneamento básico. O plano faz parte de um projeto que prevê a implantação de um frigorífico com o ponto de despejo de esgoto voltado para a praia do Rio Paraná, local turístico da região.
O Plano de Saneamento foi divulgado em uma consulta pública, que pretende recolher, até esta terça-feira (5), sugestões para auxiliar na definição de novas estratégias e ações para prestação de serviços de saneamento na cidade. Através do formulário os moradores de Aparecida do Taboado podem fazer uma sugestão, crítica, comentário ou elogio.
Mobilização tem 700 adesões em consulta pública
De acordo com a presidente da ONG, Leila Mussi, graças à campanha, a consulta pública já conta com quase 700 participantes, um número alto para solicitações deste tipo.
“Como presidente da organização, tomei frente para mobilizar a população. Pedimos para que votassem não na consulta pública”, afirma Leila.
O Jornal Midiamax tentou contato com a prefeitura de Aparecida do Taboado para detalhes sobe o assunto, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
Mesmo tratado, esgoto em rio é prejudicial
O engenheiro ambiental Gustavo Fonseca explica que mesmo se o frigorífico dispor de sistema de controle ambiental, apenas uma parte deste efluente é tratada antes de ser lançada no Rio.
Os parâmetros para se medir a concentração de matéria orgânica e resíduos químicos é chamado de Demanda Bioquímica de Oxigênio e Demanda Química de Oxigênio.
“Se esse esgoto não tiver tratado, não tiver atendendo as normas de lançamento, isso pode vir a produzir algas, e consequentemente, alterar as condições do oxigênio dissolvido na água, ocasionando falta de oxigênio para indivíduos aquáticos, levando à mortalidade de peixes e animais das redondezas. Além de atrair vetores como ratos e moscas para a região”, afirma.
Doenças vinculadas à contaminação das águas
Além dos desequilíbrios ecológicos, a emissão de esgoto no balneário do Rio Paraná pode ocasionar surtos de doenças. De acordo com o engenheiro ambiental, Guilherme Hollos, o esgoto in natura gera o aparecimento de alguns microrganismos patogênicos, apresentando risco significativo para a população.
“Doenças transmitidas pela água, como cólera, hepatite e gastroenterite, podem se disseminar facilmente quando a água está contaminada por esgoto não tratado. Além disso, as atividades econômicas que depende dos corpos hídricos na região podem ser afetadas negativamente, afastando os turistas destes locais”, explica.
O Coordenador do curso de Ciências Biológicas, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) de Três Lagoas, Luiz Ubiratan Hepp, explica que quanto mais contaminada estiver a água, mais difícil e oneroso é o tratamento para deixá-la apta para consumo humano, ou para qualquer uso.
“O lançamento de resíduos sólidos e líquidos nos corpos hídricos causa uma alteração muito forte nas condições físico-químicos da água, alterando sua qualidade e consequentemente afeta a biodiversidade daquele sistema. Assim, a gente tem uma série de problemas sociais, ambientais e econômicos. Muitas das doenças que temos tem uma vinculação hídrica, então se você consome uma água de péssima qualidade você pode ter inúmeros problemas de saúde”.
Flagra de esgoto irregular no Rio Paraná
Em dezembro de 2020, um vídeo que mostra o despejo de esgoto sem tratamento no Rio Paraná foi entregue pelo deputado Renan Contar (PSL) ao demais parlamentares da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul)
Nas imagens, é possível ver o bueiro do emissário transbordando e formando um ‘riacho’ de água e espuma até as margens do rio. O fornecimento de água e tratamento de esgoto na cidade é feito pela Sanesul (Empresa de Saneamento de MS).
“É repugnante ver uma água fétida e turva ser despejar desta forma em um patrimônio tão Bonito que pertence a todos nós”, disse Contar durante a sessão. Ele contou que já havia ido ao local com o então vereador José Natan (Pode) e constatou o despejo do mesmo esgoto pelo emissário.
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