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Cotidiano

‘Peito de sapateiro’: novo método cirúrgico usado em Campo Grande reduz risco e auxilia recuperação

Material produzido em solo brasileiro reduz risco de complicações no pós-operatório, mas pacientes ainda têm resistência em procurar tratamento
Thalya Godoy -
Peito escavado afeta também autoestima. (Miguel Tedde)

Operado em no último dia 31, um adolescente de 16 deu adeus a um problema congênito que afetava a aparência de seu corpo e também de sua autoestima. Portador do peito escavado – uma deformidade na parede torácica que leva ao afundamento do osso esterno e de cartilagens – ele passou pelo procedimento que lhe devolveu qualidade de vida e que pode livrá-lo do bullying.

Estima-se que, no Brasil, uma a cada 200 pessoas tenham esse afundamento no peito, também conhecido como ‘peito de sapateiro’. Diferente do jovem, no entanto, muitos pacientes resistem em procurar tratamento.

De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) de Campo Grande, entre 2019 a 2023, apenas quatro cirurgias foram realizadas na Capital e cinco pacientes receberam atendimento ambulatorial, como consultas especializadas, exames por imagem e fisioterapia.

Entre os prejuízos trazidos pelo pectus excavatum estão o risco de problemas cardiorrespiratórios e problemas na autoestima. Muitos casos podem ser conduzidos com tratamentos menos invasivos, como o uso de colete e exercícios de fisioterapia, mas outros precisam de cirurgia.

Mais qualidade de vida

Conforme explica o cirurgião torácico Diogo Gomes Augusto, que participou do procedimento, o peito escavado pode trazer perda na qualidade de vida, especialmente em pessoas em idade escolar devido ao medo do bullying e vergonha em mostrar o tórax em atividades comuns para a idade, como jogar bola ou fazer natação. 

O peito escavado é uma doença congênita, ou seja, a pessoa nasce com ela. Geralmente, a deformidade começa a ficar mais evidente durante o estirão de crescimento na pré-adolescência. No caso do garoto de 16 anos, o caso piorou rapidamente, o que levou a necessidade de fazer a cirurgia. 

“Esse rapaz tinha desejo muito forte de resolver o problema e a cirurgia foi um sucesso, não teve uma intercorrência. O resultado ficou muito bom”, explicou o médico ao Midiamax. 

Uso de material inovador e seguro

No caso do jovem de 16 anos, a cirurgia foi necessária para corrigir o afundamento no peito. Há cerca de 30 anos foi desenvolvido um método menos invasivo que a cirurgia em que o peito precisava ser aberto, deixando uma grande cicatriz.

Um cirurgião americano chamado Donald Nuss sugeriu a introdução de uma barra de aço inox em posição côncava, como um arco, por baixo do osso esterno e, ao ser rodada essa barra para a posição convexa, corrige a deformidade. Esse método com material importado tornou-se padrão para o tratamento desses casos. 

Porém, esse método com a barra de aço ainda oferece riscos à saúde do paciente devido à possibilidade de deslocamento da barra mesmo com o uso de estabilizadores nas pontas. Isso podia levar a perfuração do pulmão ou lesão no coração.

Na busca por diminuir esses riscos e aumentar a segurança na operação, uma pesquisa do Instituto do Coração do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da de ) desenvolveu uma barra de titânio. As barras podem ser posicionadas sozinha, de forma paralela ou em formato de “X”.

Doença é mais comum em homens. (Miguel Tedde)

De acordo com o informativo desenvolvido pelo médico Miguel Tedde, do Incor do HCFMUSP e que prestou apoio na cirurgia do jovem campo-grandense, o desenvolvimento desse material brasileiro trouxe mais segurança ao procedimento, com a redução de risco de deslocamento da barra, e diminuiu a dependência de um produto importado. O material já foi registrado na (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Durante o projeto de pesquisa, a barra foi implantada com sucesso em 50 cirurgias. O tempo de no pós-cirúrgico na primeira fase caiu de sete para cinco dias e na segunda fase reduziu para quatro dias.

1h e meia de cirurgia

A operação do jovem de 16 anos durou cerca de 1 hora e meia e utilizou a barra de titânio. Conforme explica o médico Diogo Gomes Augusto, o garoto ficará com o dispositivo por três anos até estabilizar o osso na altura adequada. 

“Esse foi o terceiro caso do uso dessa barra aqui em Campo Grande do qual participei. Ela traz segurança e conforto no pós-operatório maior. Habitualmente esse material é disponibilizado por via convênio, mas ainda tem certa resistência”, explica o médico. 

Segundo o médico que trabalha na rede pública e particular, devido ao alto custo do material, o SUS disponibiliza somente o tratamento convencional. 

Desde que voltou da especialização em cirurgia torácica, em 2016, para Campo Grande, o médico conta que já atendeu cerca de 50 pacientes com essa doença, mas o número de cirurgias até agora foi pequeno, sendo cinco na rede particular e três via SUS.

“Ela não é uma doença comum, mas a gente tem uma quantidade razoável de pacientes aqui em Mato Grosso do Sul. Quando voltei da especialização em São Paulo não se falava muito da doença e esses pacientes acabavam sendo desestimulados do tratamento, mas agora vem aumentando a procura. A nossa intenção é que mais pessoas possam ter oportunidades de serem tratadas”, ele afirma. 

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