Para quem passou a vida ouvindo promessas, asfalto no Noroeste ainda parece sonho distante
Em bairro onde os moradores se sentem esquecidos, asfalto está longe de ser prioridade
Lethycia Anjos –
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Em meio a ruas empoeiradas e esburacadas emerge o Noroeste, um bairro esquecido, mas envolto em promessa de um futuro mais suave sob seus pés. Aguardada há mais de 40 anos e recém-anunciada, porém, a notícia do asfalto no Bairro Jardim Noroeste ainda parece sonho distante pelos moradores, que passaram anos ouvindo promessas de melhorias que nunca chegaram.
O Noroeste é o bairro com menos asfalto em Campo Grande. São apenas 11.564 metros pavimentados – ou 11,564 km – contra 97.555 metros, ou 97,555 km de ruas sem pavimentação.
Com roupas no varal, Cleonice de Oliveira torce para que o dia seja calmo e que a poeira não a obrigue a lavar as roupas outra vez. Mãe de cinco filhos, ela se mudou para o Noroeste há um mês, mas já precisa lidar com os inúmeros problemas do bairro.
“Quando não chove, a poeira sobe e suja a casa toda e deixa as crianças doentes. Quando chove, o problema é a lama que fica na rua e não dá para sair de casa”, relata a moradora.
Mariana Souza, 25, relata que frequentemente precisa levar o carro à oficina mecânica, uma vez que os inúmeros buracos das ruas acabam prejudicando os pneus.
“Em uma semana entraram quatro pregos no meu pneu, tenho que ir toda semana na oficina porque com esses buracos não tem jeito, sempre dá prejuízo”, relata.
Obra milionária
Orçada em R$ 20 milhões, as obras de pavimentação estão previstas para começar na Rua Urupês. Contudo, após tantos anos, a desesperança é o sentimento que paira junto à poeira no ar. Morador da Rua Urupês há uma década, Ricardo Silva, 44, segue desacreditando que a obra será feita.
“Só vou acreditar quando ver o asfalto pronto. Já ouvimos promessas várias vezes. Perto do shopping, o asfalto aparece mesmo sem casas, enquanto nos bairros onde os moradores pagam impostos, esperamos anos e não acontece nada”, lamenta o morador.
Apesar da descrença, Ricardo reconhece que o asfalto trará muitos benefícios à população. Além do progresso, ele acredita que o asfalto pode incentivar um senso de civilidade entre os moradores.
“O asfalto também educa a população. Com a situação atual aqui, todos aproveitam para jogar lixo nas ruas, sem se preocupar com a saúde e o meio ambiente. Essa falta de senso causa vários problemas, inclusive a dengue, que nada mais é do que falta de higiene. Acredito que o asfalto também vai ajudar nisso”, destaca.
No Noroeste, asfalto é saúde
Outro ponto ressaltado pelo morador é que a pavimentação melhorará a saúde da população, já que a poeira desencadeia problemas respiratórios.
“Se o asfalto chegar mesmo, ele vai melhorar essa poeira que prejudica muito a saúde dos moradores durante a época de seca, especialmente crianças e idosos”, acrescenta.
Na Rua Senador Vergueiro, máquinas trabalham incansavelmente. O que de início parecia ser uma obra de pavimentação, na verdade, era apenas uma camada de cascalho para melhorar o acesso dos veículos.
Denner Diego Timóteo, 28 anos, mora no Noroeste há 26 anos e se mostra insatisfeito com as obras, já que sua rua, Senador Vergueiro, não está inclusa no plano de pavimentação.
“Não acredito que o asfalto que vão colocar vai melhorar as coisas. Eles só vão asfaltar a Rua Urupês. Toda semana eles fazem essa obra paliativa e, quando chove, vira lama e eles têm que refazer tudo”, diz ele.
Em um bairro com inúmeros problemas, asfalto não é considerado prioridade
Para os moradores de um lugar onde se sentem negligenciados, há tantas necessidades a serem atendidas que o asfalto não é a principal preocupação.
Juciara Cristina dos Santos, 50 anos, moradora do Noroeste há mais de 20 anos, é enfática ao dizer que não apoiou o asfalto durante a elaboração do Plano Plurianual (PPA). Para ela, saúde e educação deveriam ser prioridades para a administração pública.
“Eu não votei pelo asfalto no PPA, acho que o investimento em saúde é mais importante. Aqui só tem uma unidade de saúde com cinco equipes, e muitas vezes não tem médico ou enfermeiro. O espaço é pequeno e não dá conta do número de moradores”, explica.
Falta de escola e esgoto também é alvo de reclamação
A falta de uma escola estadual no bairro é outro problema e obriga os estudantes a se arriscarem no trajeto até o bairro mais próximo, descreve Juciara.
“Deveria ter uma escola em tempo integral aqui. Não há escola estadual no bairro, a mais próxima fica no Pedrossian. As crianças que estudam lá têm que atravessar a rodovia e é muito perigoso. Os ônibus só funcionam nos horários de pico, muitos preferem ir a pé porque o transporte é lotado”, diz ela.
Juciara relata que recentemente uma viatura policial ficou presa em um dos buracos da rua.
“Esse bairro tem mais de 40 anos e só as ruas principais são asfaltadas. Quando chove, fica muita lama aqui, a água desce por conta da areia. O pessoal da rua de baixo é que mais sofre, a poeira é tão alta que só dá pra limpar a casa de noite”.
Conversas à sombra das árvores revelam uma variedade de perspectivas. Enquanto alguns mal podem esperar pelo asfalto, outros sentem que ainda é insuficiente para um bairro que espera pelo progresso há mais de 40 anos.
Sem vagas nas escolas do bairro, o filho de Vanessa Souza, 30, está desde o início do ano sem estudar.
“Tive que tirar ele da escola em que ele estava, mas até agora não consegui vaga nas escolas do bairro. Quando vai lá, eles mandam ir para a central de matrículas, que fica do outro lado do mundo e ainda têm que ficar na fila de espera”, conta.
Outro ponto crucial para os moradores é a falta de saneamento básico no bairro, Mariana Souza expressa que se sente esquecida pela desassistência no local. “Não adianta asfalto se não for passar uma rede de esgoto aqui, deveriam fazer tudo de uma vez, depois vão ter que quebrar tudo de novo para fazer o esgoto”, destaca. Vale lembrar que, após implementação de asfalto, a concessionária de água e esgoto faz implementação de rede de coleta.
Insegurança é vivida diariamente
Na mesma rua em que a promessa de asfalto gera expectativas de progresso, a falta de segurança preocupa os moradores do bairro. Quase todos os dias o bairro está nas manchetes dos jornais devido aos casos de violência.
Enquanto os moradores relataram suas expectativas e anseios, há poucos metros, viaturas policiais e ambulâncias prestavam socorro a um homem que há pouco havia sido baleado.
Ricardo relata que, há três dias, sua casa foi arrombada e ele precisou gastar dinheiro não planejado para fazer os reparos.
“Acho que a prioridade aqui é a segurança, não adianta ter asfalto sem segurança. Minha casa estava alugada e recentemente foi arrombada. Não há segurança nesse bairro, é possível ver tráfico de drogas na rua”, afirma ele.
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