Ozempic: remédio para tratar diabetes é usado para emagrecer e médicas alertam sobre efeitos
Conhece alguém que usa o Ozempic para emagrecer? Disputado nas farmácias de Campo Grande, medicamento só deve ser usado perante acompanhamento médico
Nathália Rabelo –
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Apontado de forma errônea por muitas pessoas como medida ‘milagrosa’, a utilização do medicamento Ozempic para emagrecimento é assunto que está em alta no Brasil justamente pela grande procura. Vale ressaltar que se trata de nome comercial de remédio que tem a semaglutida como princípio ativo destinado a tratamento de diabetes e obesidade. No entanto, medicamento ‘migrou’ para a área estética e está sendo usado de forma demasiada para auxiliar na perda de peso. Porém, comunidade médica reforça os perigos desse tipo de utilização do Ozempic para emagrecimento.
De acordo com a Interfarma (Associação de Indústria Farmacêutica de Pesquisa), o Ozempic foi o remédio mais vendido em 2021, momento em que a semaglutida ainda nem havia sido aprovada para tratar a obesidade pela Anvisa. Dessa forma, o principal problema está na forma como a maioria usa o medicamento que, por vezes, fica escasso nas prateleiras das farmácias e falta às pessoas que, de fato, são orientadas a usar. Vale ressaltar ainda que, apesar da teoria reforçar a importância da receita médica, não é necessária prescrição para sua compra, o que facilita o acesso da população sem indicação ao Ozempic para emagrecimento.
Entenda o princípio ativo do Ozempic
O Jornal Midiamax procurou uma médica endocrinologista para explicar mais detalhes sobre o medicamento. Conforme Ana Carolina Wanderley Xavier, da Unimed Campo Grande, a semaglutida é de uso semanal criado inicialmente para tratamento de diabetes tipo 2 por facilitar a ação da insulina através do hormônio GLP-1, substância liberada pelo organismo na hora da alimentação. Além disso, também auxilia na sensação de saciedade.
“Com o passar do tempo foi visto que os pacientes que usavam essa medicação também emagreciam, então foi começado a usar para tratamento para a obesidade, mas foi liberado ano passado para este fim”, afirma.
Dessa forma, ele é liberado para ambos os acometimentos desde que usado adequadamente, o que nem sempre acontece. Não é à toa que, apesar do alto valor aquisitivo, o medicamento pode ser considerado disputado nas farmácias de Campo Grande.
Ozempic pode ser encontrado a partir de R$ 774
O Ozempic é uma caneta injetável de uso semanal e pode durar, em média, um mês. Em resposta ao Jornal Midiamax, Roberto Martins Rosa, presidente da Sinprofar-MS (Sindicado do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos) afirmou que o Ozempic é aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas não é indicado para perda de peso sem acompanhamento.
“Ele não precisa de receita, mas não tem nenhuma indicação para emagrecer sem acompanhamento do médico”, diz.
Vale ressaltar que o medicamento pode ser encontrado em miligramas diferentes, como 0,25 mm, 0,50 mm até 1 miligrama. Conforme a médica endocrinologista Flávia Tortul, também da Capital, o medicamento é para tratar diabetes, mas a mesma molécula na dose mais alta é liberada para obesidade também. Portanto, apesar de ser um medicamento muito bom, é o uso incorreto que apresenta riscos à população.
A equipe de reportagem fez uma ronda por farmácias de Campo Grande e constatou que medicamento, apesar de ser caro, é disputado nas prateleiras. Nas quatro farmácias procuradas pelo Jornal, o preço mínimo varia de R$ 774,00 a 789,57 para 0,25 e 0,50 mm, considerada a dose inicial.
Já o com 1 miligrama pode ser encontrado a partir de R$ 1017,00 até R$ 1220,52. Durante a ronda, uma farmácia estava em falta deste medicamento, enquanto as demais tinham apenas uma unidade do remédio na dose mais baixa.
Pessoas estão ‘abusando’ do Ozempic para emagrecimento
Ainda conforme as endocrinologistas, as pessoas estão abusando do Ozempic para emagrecimento sem orientação ou acompanhamento médico.
“O remédio é um hormônio intestinal GLT1 e tem múltiplas ações no organismo, no caso do diabético a melhora acontece porque estimula a secreção de insulina e diminui a secreção de glucagon, somente quando a glicose sanguínea estiver elevada. Já para obesidade ele sinaliza ao hipotálamo a reduzir a fome e aumentar a saciedade. É um medicamento muito bom, mas é recomendado que seja feita avaliação com o médico”, afirma a endocrinologista Flávia.
Dentre os efeitos colaterais citados pela especialista estão: náuseas, dores de cabeça, constipação intestinal, diarreia e até pancreatite.
“Assim como todo medicamento, ele oferece riscos, principalmente de pancreatite. Por isso a dose tem que ser ajustada individualmente. Quando usa de maneira inadequada, como diariamente, os efeitos são muito maiores, inclusive aumentando o risco de pancreatite e problemas hepáticos”, ressalta a médica Ana Carolina.
Falta do medicamento: o que fazer?
Nas farmácias procuradas pelo Jornal Midiamax, todas afirmaram não ser necessária a prescrição médica para a compra do medicamento e isso se estende por todo o território brasileiro. Portanto, a alta procura faz o medicamento faltar a quem realmente precisa.
“Até um ponto que a gente questiona muito é a venda sem prescrição médica porque a Anvisa não regulamentou como medicamento com restrição. Isso facilita muito o acesso e as pessoas têm comprado. A fábrica não está dando conta de produzir as canetas para a demanda mundial. Eu tenho pacientes no meu consultório que falaram da dificuldade para encontrar o Ozempic”, diz Flávia.
Nesses casos, Ana Carolina reforça que a principal caneta em falta nas farmácias é a de 1 miligrama e que o paciente pode sofrer consequências caso não siga o cronograma de medicação.
“Se faltar, o paciente pode ter reganho de peso ou descontrole de diabetes, então o indicado é não ficar sem o medicamento. Caso falte a caneta de 1 miligrama, que é o que temos visto, o interessante é comprar a caneta menor e ajustar conforme a dose necessitada. Caso falte completamente, procure o médico para fazer substituição dessa medicação por outra se necessário”.
Não se automedique
Como visto anteriormente, as duas endocrinologistas concordam ao indicar o medicamento para tratamento de diabetes e obesidade, desde que esteja alinhado com o acompanhamento médico. Portanto, o uso individual de Ozempic para emagrecimento pode oferecer riscos à saúde.
Afinal, como já pontuado por Tortul, não existe medicamento para todas as pessoas e cada caso precisa de uma orientação.
“Devido a esse problema, é fundamental que o médico especialista acompanhe o paciente porque não há uma dose fixa para todos”, conclui Xavier.
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