No Centro de Campo Grande, quadra comercial virou ‘deserto’ após retirada de ponto de ônibus

Quadra onde centenas de pessoas transitavam na chegada e saída do serviço, agora amarga cenário deserto com poucos clientes

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
quadra deserto Rui Barbosa
Placas de aluga-se começam a tomar conta de quadra na Rui Barbosa. (Foto: Kísie Ainoã, Midiamax)

A Rua Rui Barbosa pode ser considerada uma das principais vias de Campo Grande, com cerca de 5,5 quilômetros de extensão. O tamanho faz com que a rua possua diferentes cenários e até mesmo subculturas que se misturam ao cenário urbano da cidade e conseguem, ao mesmo tempo, mudar de quadra em quadra.

Em meio a tantas quadras, com histórias, pessoas, famílias e economias próprias, uma delas vive uma fase de escassez. Para quem possui costume de caminhar pelo Centro da Capital, é notório a sensação de abandono quando passamos pela via, na quadra localizada entre a Avenida Afonso Pena e a Rua 15 de Novembro.

O sentimento não ocorre à toa, basta erguer a cabeça e olhar em volta. Placas de ‘aluga-se’, comércios fechados, uma fração do volume de pessoas que costumavam passar pelo local. O motivo para tanta mudança é pequeno, a retirada de um ponto de ônibus.

Fluxo de pessoas é mínimo, se comparado há anos. (Foto: Kísie Ainoã, Midiamax)

Anterior à implementação do corredor de ônibus na via, muitos eram aqueles que transitavam pela quadra na chegada ao trabalho e volta para casa. Além disso, o desembarque no local fazia dele o ponto de chegada ao centro para moradores de diversos bairros de Campo Grande.

Retirada de ponto transformou quadra em ‘deserto’

O alto fluxo de pessoas movimentava os comércios da região se tornando um atrativo econômico para diversos segmentos. De salgados até venda de tecidos, a opinião é unânime: a retirada do ponto causou queda significativa nas vendas.

Sem as idas e voltas dos usuários do transporte coletivo, a quadra recebeu sentença de morte e os comerciantes fazem as contas de até quando poderão manter as portas abertas. Marlucia Camargo vende salgados em uma pequena porta, com duas mesas e um corredor estreito, o local é dela há 17 anos.

“Eu nunca vi uma queda tão grande nas vendas. Esses espaços aqui do lado são meus e não consigo alugar, olha para o lado, as lojas fechadas, a quadra morreu, ninguém está aguentando”, disse a comerciante. Ela afirma que observou queda de 70% nas vendas.

Local possui clima de deserto. (Foto: Kísie Ainoã, Midiamax)

Sania Omais Yassin é proprietária de uma loja de roupas há seis anos e é clara ao dizer que nem mesmo a pandemia foi tão prejudicial quanto a retirada do ponto.

“A pandemia a gente sabia que era algo temporário e um dia voltaria ao normal, já isso é permanente, não sei o que fazer. Eu tinha três funcionários e agora estou sozinha”, comentou a comerciante.

Poucos metros ao lado, o mesmo cenário é relatado por Maria Nogueira Fidelis, proprietária de uma loja de tecidos. Por lá, a queda estimada fica em torno dos 40% após a mudança.

“Agora ficaram os clientes já consolidados, mas antes passava muita gente, fazia propaganda, pessoal que precisava de algo já parava e comprava”, disse a proprietária.

Comerciantes falam sobre acordo descumprido

De porta em porta, diversos comerciantes afirmam que estiveram presentes em reuniões antes da implementação do corredor de ônibus, que alterou a localização dos pontos de embarque e desembarque. Todos afirmaram que existia um acordo com a antiga gestão municipal para a não retirada do ponto na quadra.

Segundo os comerciantes, as reuniões ocorreram entre lojistas, Prefeitura Municipal e CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas). Entretanto, os esforços e acordo para a manutenção do antigo ponto na quadra não teria surtido efeito.

Em nota, a Agetran informa ter realizado reuniões com convocação em Diário Oficial, para apresentar o projeto do corredor do transporte coletivo detalhado, a metodologia de execução e o cronograma de obras para informar e envolver as partes interessadas no projeto.

Ainda na nota, a agência afirma que “as obras estão concluídas e o corredor de transporte está operando e atendendo a coletividade”.

A reportagem entrou em contato com a CDL. Por meio de nota, a Câmara de Dirigentes Lojistas respondeu:

“Infelizmente o síndico do prédio da sete com a Rui Barbosa mobilizou os moradores e alguns outros comerciantes do local e mudou os combinados. Alegando prejuízos para saúde física e emocional dos moradores”, disse a CDL.

*Matéria atualizada às 7h37 de 05/06/2023 para acréscimo de informações.

Conteúdos relacionados