Um dom divino, amor incondicional, quando nasce uma criança nasce uma mãe, ver o coração bater fora do peito e deixar um pouco de si no mundo. 

Todas as frases clichês sobre maternidade podem resumir, em parte, o papel de ser mãe, mas a realidade também é dolorida, julgadora, solitária e cansativa.  

Seja como sonho de vida ou sem esperar, ser mãe é um ato sem volta. Enfrentar um dia exaustivo e ver a felicidade do filho só com a presença da mãe ao chegar em casa pode fazer tudo valer a pena, mas também envolve muito trabalho sozinho, dor e abdicações. 

Neste segundo domingo de maio é comemorado o Dia das Mães e o Midiamax publica matérias sobre diferentes perfis das mulheres e a relação com a maternidade. Quais são os sonhos para elas e os filhos? O que é bom e ruim?

Mães são sempre julgadas

Veridiana Rocha, de 25 anos, é mãe do Benjamin de 1 ano e 10 meses e ficou desesperada quando descobriu que estava grávida porque não planejava ter um filho no fim da graduação. Ficou feliz, mas também chorou muito nos primeiros meses devido à mudança de planos e à insegurança em cuidar de uma criança. 

Mesmo sendo casada, Veridiana narra que ser mãe é um papel extremamente difícil por causa do julgamento de terceiros por qualquer decisão que faça, como se não tivesse escapatória e uma decisão certa. 

Veridiana ama passar tempo com o filho. (Foto: Arquivo Pessoal)

“A maternidade por mais que você tenha ou não tenha rede de apoio é extremamente solitária porque cobram muito da mãe e, muitas das vezes, não reconhecem o que a mãe faz. Às vezes o filho sai bem arrumado, perfeito e cheiroso e nem todas as vezes a gente tem uma mãe por trás que está arrumada, sabe? Às vezes a mãe só quer descansar”, ela desabafa.

A mulher acredita que a maternidade é romantizada porque as pessoas constroem um ideal de como uma mãe deve se comportar, porém nunca será suficiente.

Veridiana cursa o último semestre de administração. (Foto: Arquivo Pessoal)

“A mãe é constantemente cobrada por resultados que ela tem que entregar e, às vezes, comparam as mães com umas das outras, por exemplo, ‘ah, no meu tempo era assim, eu fazia assim, você tem que fazer assim’ e não entendem que cada mãe tem uma forma de lidar”, reclama. 

Ela também expõe o peso das responsabilidades em criar uma criança e que precisou de muita força para voltar a estudar para concluir a graduação em administração. Mesmo com a rotina cansativa, Veridiana vê que tudo vale a pena por causa de Benjamim.

“Eu lembro que nos dois primeiros meses eu levava o Benjamin na faculdade junto comigo e era um sufoco. Na primeira semana eu lembro que todo mundo olhava diferente, julgando. Até que eu consegui arrumar uma menina pra ficar com ele de manhã e eu ia pra faculdade, mas sempre alguém pergunta ‘Onde que seu filho está? Mas você deixou com alguém? Coitado’”, relembra. 

Maternidade solo e rede de apoio

Flávia Tomazia Teodoro de Souza, de 41 anos, é mãe da Caroline, de 11 meses. Sempre sonhou em ser mãe, mas o teste positivo de gravidez chegou quando ela nem esperava, aos 40 anos.

Os exames não apontaram nada e descobriu somente durante o parto que a filha tinha Síndrome de Down, o que foi outra surpresa para Flávia. A partir desse dia, começaram a felicidade e a saga de cuidados com Caroline. A menina nasceu com cardiopatia congênita e catarata congênita. 

Caroline sempre sonhou em ser mãe. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com poucos meses de vida, passou por uma cirurgia por causa da catarata, enquanto a cardiopatia, para a alegria da mãe, não precisa de operação.

Três meses após o parto, Flávia e o pai de Caroline se separaram, o que levou Flávia a enfrentar uma maternidade solo, tendo como rede de apoio amigos e familiares. 

Caroline é a realização de um sonho de Flávia, mas acredita que a maternidade seja romantizada e trabalhosa. Precisou pedir afastamento do serviço como professora da educação infantil, iniciou o tratamento psicológico e a rotina ficou agitada com as várias terapias da filha. 

“Meu cromossomo do amor Caroline mudou a minha vida. Ela faz terapia a semana inteira, eu não paro com ela: fisioterapia, natação, terapia ocupacional, fonoaudiologia. Fora os médicos que ela faz acompanhamento, cardiologista, oftalmologista, gastro, pediatra e endocrinologista”, enumera. 

Já Thaís Alarcon, de 23 anos, é mãe do Benjamin de 1 ano, e sempre sonhou em ser mãe, porém o processo perdeu um pouco do viço devido ao ex-companheiro e pai do menino. Descobriu que era traída enquanto ainda estava grávida e, depois de terem se separado e com a audiência de guarda já marcada, sofreu o baque de ter a paternidade questionada. 

Os dois namoraram por cinco anos, desde a adolescência, e já estavam separados quando em uma “recaída” Thaís ficou grávida. O casal tentou reatar o namoro depois de saberem que seriam pais, porém o relacionamento não engatou devido às traições.

Na época, ele até chegou a falar para Thaís que ela não encontraria outro parceiro porque ninguém iria querer “uma mãe solteira”.

“Após o bebê nascer, ele já tinha registrado e tudo mais, ele falou que tinha se arrependido, falou até que estava um pouco confuso, que ele não sabia quem ele era agora, porque a gente teve um relacionamento de cinco anos, ele chegou até dizer que me amava e ele desejava ter uma vida com meu filho e eu falei ‘olha, mas você já tá com outra pessoa, não vou ser sua amante’”, se recorda. 

Thaís foi mãe quando ainda estava na faculdade. (Foto: Nathalia Alcântara)

Com a paternidade questionada, Thaís preferiu afastar o homem e a família da criação de Benjamim até que saísse o resultado de DNA. A saga de criar uma criança sozinha tão nova foi compartilhada somente com a mãe da Thaís, que mesmo doente e com dores ajudava a cuidar do neto.

“Foi um período de bastante dificuldade quando fiquei sozinha grávida, não era o que eu tinha planejado, tive um relacionamento muito longo com ele, de cinco anos, então eu não estava preparada para lidar com essa gestação e fiquei um pouco preocupada, mas tive o suporte da minha família. A minha mãe criou quatro filhos, foi mãe solo, também foi abandonada pelo parceiro, ela falou ‘filha, eu dei conta, você vai dar conta. Nós somos uma família, então a gente vai suportar isso junto’”, relembra a mãe. 

A jovem tinha muito medo da reação dos familiares quando descobrissem da gravidez por serem tradicionais, mas ela foi acolhida e a chegada de Benjamim foi luz e força contra a doença da avó. 

“Foi uma alegria só, minha mãe na época até estava com Covid e Dengue e ela estava quase morrendo mesmo, ela ficou muito mal, mas aí quando eu contei ela ficou super feliz e falou ‘eu vou viver, eu não vou morrer, Deus não ia me dar um neto para eu morrer’”, recorda a mãe. 

Thaís, assim como Veridiana, também teve que interromper a faculdade devido à maternidade. Quando voltou para as aulas, contou com o apoio de colegas e professores, mas sendo mãe sem rede de apoio foi extremamente difícil cuidar de si, do filho, trabalho, estudos e da casa. 

Depois que o resultado do teste de DNA confirmou a paternidade, a família e o homem pediram perdão à Thais e o contato de pai e filho foi restabelecido. Hoje ela conta com o apoio dos avós paternos na criação de Benjamim, já que o pai trabalha em outra cidade e fica fora durante a semana. 

Thaís é mãe solo e conta com rede de apoio da família. (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Sobre os sonhos que precisou deixar de lado no momento por causa da maternidade, Thaís cita a pós-graduação para a qual ainda não tem tempo, por Benjamim ser tão novo. Além disso, ela gostaria de entrar em outro relacionamento, mas tem receios porque dedica bastante tempo ao filho e quer encontrar alguém que seja companheiro. 

“A coisa mais gostosa da maternidade é o cheirinho de quando você chega do serviço ou depois do estágio e aí você sente aquele cheirinho gostoso. Eu acho que é gratificante chegar em casa e você ter ele balançando o braço, querendo abraçar e ele faz uma festa quando ele me vê. O Benjamin veio numa época da minha vida, apesar de não ser planejado, para mudar muita coisa, para alegrar muito a nossa vida”, afirma a mãe. 

Realização de um sonho

Alessandra Mauro da Silva, de 41 anos, sempre sonhou em ser mãe e, após várias tentativas, descobriu a endometriose. Realizou tratamentos, conseguiu engravidar, mas perdeu o bebê. O médico pediu que o casal esperasse, mas Samuel Lucas não aguardou e se tornou um bebê arco-íris, ou seja, aquele que vem depois de uma gestação que não deu certo. Alessandra engravidou e ele nasceu para alegrar a vida do casal. 

Assim como Flávia, Alessandra fez todos os exames, com pré-natal tudo direitinho, mas descobriu somente no parto a Síndrome de Down.

“Depois que o resultado do exame saiu realmente foi um baque porque você faz todo um plano, uma idealização do filho que você vai ter, só que depois que você vai estudando sobre o assunto, se inteirando, convivendo com a criança, você acaba se apaixonando do jeito que ela é”, ela afirma. 

Samuel é o bebê arco-íris de Alessandra (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Alessandra se recorda que, na época, fez muitas pesquisas no Google sobre a síndrome do filho, o que foi terrível para a saúde mental dela porque a maioria dos conteúdos são aterrorizantes. A mulher, porém, não deu ouvidos a nenhum deles e preferiu acreditar em todas as possibilidades e sonhos que o Samuel pode realizar. 

“É claro que eu tenho medo do preconceito, mas todos nós sofremos de uma forma ou de outra. Eu transformei o meu Instagram no dele também e aí a gente divulga tudo sobre a inclusão. Muitas pessoas que convivem com a gente também fazem a mesma coisa”, ela afirma. 

Alessandra e o marido dividem a rotina corrida cheia de terapias e idas ao médico para ajudar no desenvolvimento de Samuel. Além disso, Alessandra conta com muito apoio de familiares no cotidiano do filho e até se emociona ao falar que adora que o filho seja agitado na escola. 

“Tudo que eu sonhei antes de saber eu continuo sonhando. Quero que ele estude, se ele quiser uma faculdade se quiser e que faça um intercâmbio. Se precisar ir junto eu vou, quero que ele viva tudo”, torce Alessandra. 

“Não quero ser mãe”

As mulheres são julgadas se são mães ou se também preferem não ter filhos. Letícia Flávia, de 29 anos, decidiu há muito tempo que não quer ser mãe e se mantém firme na decisão.

“Tenho muitas amigas mais novas que falam que o sonho é ser mãe e eu nunca tive esse sonho. Eu achava que fosse ficar um pouco mais velha e ia sentir essa vontade, mas nunca veio, meus olhos nunca se encheram de lágrimas, me dá um certo pavor, na verdade”, ela afirma. 

Ela conta que as pessoas a julgam quando diz que não quer ter filhos e fazem as clássicas perguntas “Quem vai cuidar de você velhice?”, “Filho é uma dádiva”, “Você é uma benção”, como se a maternidade fosse uma apólice de seguros e te desse alguma garantia sobre como será o futuro. 

“Eu acredito que a maternidade é romantizada, que as pessoas que têm o sonho de ser mãe têm que realizar esse sonho sim, mas quem não quer ser mãe, eu acho que tem que deixar elas com essa vontade e não romantizar. Pelas pessoas que eu conheço que são mães sei o quanto é difícil e não é nada romântico, lógico que tem as parte boas, pessoas realizando o sonho, mas é muita responsabilidade, tem que ter um suporte emocional muito grande”, ela acredita.