MS participa de estudo internacional que analisa comportamento de animais durante a pandemia

Pesquisadores do mundo inteiro se uniram em estudo que avaliou a movimentação de mais de 40 espécies durante isolamento da Covid-19. Pesquisadores de MS contribuíram com dados e pesquisas sobre tamanduás-bandeira

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Tamanduá Bandeira
Tamanduá-bandeira monitorado por colar GPS pelo projeto Bandeiras e Rodovias, executado desde 2017 no MS. (Foto: ICAS/Projeto Bandeiras e Rodovias)

Mato Grosso do Sul contribuiu com o estudo “Behavioral responses of terrestrial mammals to COVID-19 lockdowns”, publicado na revista americana Science nesta sexta-feira (9). Participaram do trabalho mais de 100 pesquisadores de vários países e o ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres, que usaram dados de MS para avaliar as respostas comportamentais de mamíferos terrestres durante o período de lockdown da Covid-19, dentre eles os tamanduás-bandeira.

O ICAS, atuante no Estado de Mato Grosso do Sul, trabalha com projetos Tatu-canastra no Pantanal e Bandeiras e Rodovias, para mitigar colisões veiculares com a fauna silvestre. Além disso, instituição atua com o projeto Canastras e Colmeias, que promove a coexistência entre apicultores e o tatu-canastra.

Conforme o estudo, o lockdown em 2020 reduziu a mobilidade humana no mundo inteiro, possibilitando que os pesquisadores pudessem compreender o efeito do movimento das pessoas no comportamento de 43 espécies de mamíferos terrestres.

Nina Attias, bióloga e coordenadora científica do ICAS e uma das autoras da pesquisa, explica que, utilizando dados de monitoramento via Sistema de Posicionamento Global (GPS), o estudo avaliou as taxas de movimentação nas estradas de 2.300 animais distribuídos pelo mundo, incluindo dados de tamanduás-bandeira, que são monitorados pelo Projeto Bandeiras e Rodovias, desde 2017, em áreas sul-mato-grossenses.

“Comparamos como os animais se comportaram durante o período de isolamento imposto em 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Os resultados mostram que os indivíduos responderam de forma bastante variada, sem mudanças nas taxas médias de movimentação ou evitando acesso às estradas. Essa variação deve estar relacionada a variação nas condições locais do lockdown, pois tivemos lugares com políticas mais severas do que outros”, explica a pesquisadora.

Mapa representando a média do nível de restrição de mobilidade nos diferentes países (Oxford COVID-19 Government Response Tracker Stringency Index (SI))

Movimentação de animais aumentou em 73%

Ainda conforme o o estudo, as taxas de movimentação dos animais a cada 10 dias aumentaram 73% nos lugares onde as condições de isolamento e restrição de circulação foram mais severas durante a pandemia, ou seja, período em que as pessoas estavam saindo menos de casa. Portanto, dado sugere que sem a circulação de pessoas, os ambientes ficam mais permeáveis para os animais se locomoverem.

De acordo com o estudo, as áreas com altos índices de modificação e urbanização, e que possuem uma presença e uma interferência humana maior, os animais ficaram 36% mais próximos das estradas durante o período de confinamento.

“Isso mostra que com a diminuição do fluxo humano, os animais evitam menos as estradas. Em várias partes do mundo o volume do tráfego atenuou muito durante esse período, reduzindo o impacto das estradas nos animais e consequentemente diminuindo o efeito de barreira que as estradas causam e o número de animais atropelados, como mostrado por outros estudos”, disse Nina.

Então, os resultados do estudo mostram que o lockdown alterou o comportamento de movimentação e uso do espaço dos animais. Essas alterações aconteceram de forma variada, mas são capazes de evidenciar o efeito substancial da presença e mobilidade humana nos animais silvestres em todo o mundo.

Presença humana afeta comportamento dos animais

O presidente do ICAS, Arnaud Desbiez, ressalta que a movimentação humana ainda é um fator chave que afeta direta e indiretamente o comportamento dos animais silvestres, causando um efeito quase tão grande nos animais quanto a alteração do habitat natural das espécies.

“Ao avaliar os impactos humanos no comportamento animal, ou quando formos pensar em medidas de mitigação, é preciso levar em consideração não só a estrutura física da paisagem, mas também a presença e circulação humana naquela área”, disse Arnaud.

Para os pesquisadores, o estudo permite maior entendimento do efeito da degradação ambiental e da presença humana, o que ajudará na implementação de medidas pontuais de conservação para a mitigação dos impactos causados pela circulação das pessoas, como, por exemplo,estratégias para ajustar os horários, frequência e volume do tráfego em áreas importantes com a presença e a movimentação de fauna silvestres.

“Os animais ainda não estão habituados com a presença humana, mas seguem com capacidade de responder a mudanças de comportamento do homem. Estes dados são fundamentais para o desenvolvimento de novas estratégias de mitigação que possam manter a movimentação dos animais e de todos os benefícios associados a essa questão que afeta a vida de todos”, informa o estudo.

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