Antigo, inspirado na arquitetura grega, considerado “de luxo” e um dos mais bonitos da cidade. É assim que, “por fora”, muitos profissionais resumem o Edifício Polaris, na região central de Campo Grande. No entanto, quem mora no local, diz enfrentar problemas com encanamentos e, principalmente, a qualidade da água que vem de um poço. O Jornal Midiamax recebeu denúncias de moradores, tanto quem mora no local e pagou até laudo particular e quem se mudou com medo de contrair doenças ao ingerir o líquido constantemente.

“Nossa água é bastante ruim de beber, sente-se no cheiro, e em seguida no sabor. Os vidros dos banheiros ficam manchados, por mais que sejam novos. Os respingos são esbranquiçados e a roupa lavada sai da máquina com cheiro de cloro ativo. E a nossa pele fica com uma escamação fininha, como um pó. Se a gente não caprichar no creme corporal, temos uma pele bastante desidratada. É assim o nosso viver aqui no Polaris”, afirmou a administradora, de 55 anos, que não quer ser identificada.

Segundo a moradora, que já fez orçamentos, instalar filtros em todas as torneiras e também nos chuveiros é inviável, pois, fica “bastante oneroso”. Um empresário de 35 anos, da mesma forma, possui um apartamento no local e disse que se mudou, após achar inviável a possibilidade de fazer a mesma instalação em todas as torneiras. Há dois anos, diz que saiu de lá e anunciou a venda, porém, até hoje não conseguiu fechar negócio.

‘Logo que mudei já percebi os problemas de encanamento’, diz empresário

“A gente pegou aquele apartamento no negócio de uma fazenda que foi vendida. Logo que mudei, já percebi alguns problemas de encanamento: estourou no vizinho de cima, estourou o nosso e foi parar no vizinho de baixo. Foi assim que a gente percebeu que tinha algo errado. Claro, sabíamos que era um apartamento antigo, mas, não era normal estar estourando assim sempre. E, desde então, a gente via essa coloração na água da torneira e que fica esbranquiçada no chuveiro também”, relembrou.

Na época, o empresário disse que começou a conversar com vizinhos, quando ficou sabendo que a esposa de um deles havia sido diagnosticada com impingem, que é uma infecção de pele. “O vizinho tinha feito o primeiro laudo na água e constatou que tinha coliformes fecais e estava com problema. Logo depois eu fui com a minha esposa comprar um filtro, que tira todos os tipos de metais, porque lá tem o aquecimento à gás, é de ferro o encanamento e não queríamos metais pesados na nossa água”, disse.

Mesmo adquirindo o filtro, o empresário afirmou que estava decidido a se mudar do edifício, já que ele tinha uma filha pequena, de dois para três anos na época e a minha esposa estava grávida. “Nós começamos a anunciar em vários lugares, várias imobiliárias e eu continuo anunciando até hoje. E existem outras reclamações dos moradores, outras questões também”, argumentou.

‘Já troquei de chuveiro três vezes este ano’, lamenta dentista

Técnica fazendo teste na água e chuveiros trocados. (Montagem/Jornal Midiamax)
Técnica fazendo teste na água e chuveiros trocados. (Montagem/Jornal Midiamax)

Um dentista de 42 anos, que se mudou para o edifício no período da pandemia, disse que já trocou três vezes de chuveiro este ano e pagou, “do próprio bolso”, três laudos que atestaram a má qualidade da água.

“Este laudo mais recente é do final de maio, que atestou que a água é imprópria para o consumo. E o problema maior é a bactéria presente ali. Falam que aqui o poço artesiano é irregular e muitas outras coisas, mas, comecei a apurar quando vi que a água saía branca. Eu tomava banho e saía muito claro”, afirmou.

Além disto, ainda de acordo com o dentista, os chuveiros sempre entopem. “Este ano eu já troquei três vezes de chuveiro. E aqui não tem reunião de condomínio. A última que teve foi para ocorrer a reeleição da síndica. E a gente precisa que alguém resolva isso. Eu percebi que ficava muito branco no banho e hoje entendo que esta água não tem um tratamento químico, não tem um selamento biológico ou então não tem uma concentração ideal e aí tem vazamento. Até o cano do salão de festas estourou no último mês de maio e a gente vive em um lugar que não dá nem para escovar os dentes. Na minha opinião, o que vivemos aqui é um crime ambiental”, disse.

Dono de um apartamento no Polaris há cerca de duas décadas, um aposentado, que atualmente reside em outros estado, também conversou com o Midiamax. “O meu apartamento é alugado e estas questões com a água são problemas mais recentes, que eu fiquei sabendo. Mas, do jeito que está, é realmente impossível ficar ingerindo aquela água”, comentou.

Após falar com os moradores, a reportagem obteve o celular da síndica e entrou em contato. Uma pessoa, que se identificou como sendo a secretária dela, é quem atendeu o telefone. Ela disse que repassaria o recado e nos daria retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

Laudo aponta presença da bactérias e coliformes

Laudo da Sanágua, que é uma empresa especializada em tratamento de água, apontou a presença de coliformes e a bactéria Escherichia Coli (E. Coli). A reportagem conversou com o técnico que emitiu o laudo e ele atestou a seriedade do procedimento. “Existe uma contaminação e agora é necessário ver o caminho desta água”, afirmou o técnico Fabiano Storti, de 52 anos.

No entanto, para entender mais sobre o perigo de tomar uma água contaminada, a infectologista Priscilla Alexandrino falou sobre o assunto.

“Esta é uma bactéria muito relacionada a saneamento básico, então, é um caso que precisa sim ser verificado. Neste tipo de análise, são várias características bioquímicas e infecciosas e então verificamos a quantidade delas, para verificar se é algo patogênico, então, é uma análise bem específica que precisa ser feita. No caso de comprovação, são toxinas que podem levar a diarreia, entre outras alterações e é possível contrair até hepatite, dos tipos A e E por infecção oral”, doenças com toxinas que podem levar a diarreia, entre outras alterações”, explicou a infectologista.

Já a Águas Guariroba, concessionária responsável pelos serviços de água, coleta e tratamento de esgoto de Campo Grande, informa que o condomínio citado na denúncia não é atendido com água tratada fornecida pela concessionária. O endereço tem uma ligação de água que hoje encontra-se inativa. Apenas o serviço de coleta de esgoto é utilizado no local. Para calcular a cobrança deste serviço, o poço do condomínio é hidrometrado.

Água sem tratamento pode acarretar em uma série de doenças, diz concessionária

Ainda de acordo com a concessionária, a fiscalização do uso de fontes alternativas de abastecimento é de competência dos órgãos ambientais. A Águas Guariroba ainda alerta que o consumo de água de poços sem o devido tratamento pode acarretar uma série de doenças de veiculação hídrica como hepatite, diarréia, cólera, entre outras.

A concessionária também reforça que, de acordo com a Lei Federal 11.445/2007, conhecida como Lei do Saneamento, é obrigatória a conexão dos imóveis urbanos às redes públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário sempre que estiverem disponíveis.