Mato Grosso do Sul deve registrar 9,8 mil casos de câncer até 2025 e prevenção é desafio
Até 2020, foram 2.818 mortes por câncer em MS e homens foram maioria entre as vítimas
Nathália Rabelo –
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Este sábado (4) representa uma data muito importante para a comunidade médica, tendo em vista que se celebra o Dia Mundial do Câncer para conscientizar a população sobre prevenção e diagnóstico precoce da doença. Dessa forma, especialistas ressaltam a necessidade de voltar os olhares para Mato Grosso do Sul, uma vez que são esperados mais de 9,8 mil casos de novos cânceres até 2025 no Estado.
O Jornal Midiamax conversou com o Inca (Instituto Nacional do Câncer) para entender os parâmetros de incidência dos mais variados tipos de câncer em MS. Conforme a instituição, a expectativa de diagnósticos para o triênio de 2023-2025 é de 9.850 novos casos, sendo 4.800 em homens e 5.050 em mulheres. Até 2020, foram 2.818 mortes por câncer em Mato Grosso do Sul. Desse total, 1.542 foram homens e 1.276, mulheres.
É importante destacar ainda que os tipos de câncer que mais afetam homens e mulheres no Estado, assim como no resto do Brasil – com exceção do câncer de pele não melanoma – são o de próstata e mama. Confira, abaixo, a incidência dos cânceres que mais afetam o sul-mato-grossense para os próximos anos.
Os dados do Inca de cada tipo de neoplasia maligna podem ser acessados na íntegra neste link. Diante dos números elevados, médicos explicam a importância dos cuidados preventivos e diagnósticos precoces para evitar o desenvolvimento do câncer e também a mortalidade ocasionada pela doença.
O quanto antes descobrir, melhor
Segundo a Adriane Bovo, ginecologista especializada no rastreamento de câncer de colo de útero no Hospital de Amor de Campo Grande, o diagnóstico precoce salva vidas. Ela explica que o rastreio consiste nos exames periódicos em mulheres antes de aparecer os sintomas de câncer, sejam eles de colo de útero ou de mama. Só em 2022, foram realizados 65.167 atendimentos na unidade de saúde. Nos casos positivos, as pacientes foram encaminhadas para o Hospital do Câncer Alfredo Abrão.
“No caso do câncer de colo de útero, se você fizer o rastreio, você consegue diagnosticar as lesões pré-cancerosas. Então, antes do câncer se instalar, você consegue detectar. Com o tratamento, você diminui o número de casos de câncer de colo. Outra medida de prevenção é a vacinação de HPV para adolescentes”.
Enquanto o primeiro caso é possível evitar o desenvolvimento do tumor, no câncer de mama é diferente. Mesmo com medidas de prevenção no que diz respeito aos hábitos de saúde, é difícil evitar a neoplasia de mama. Nesses casos, a mamografia periódica é de suma importância para conseguir diagnosticar o tumor ainda pequeno.
“Quando diagnosticado o câncer de mama de forma precoce, a taxa de cura chega a mais de 90% com um procedimento simples. Um tumor grande de 4 centímetros, por exemplo, vai precisar de cirurgia, quimioterapia, radioterapia, vai ficar muito mais caro, sofrido para a paciente e com taxa de cura menor. Então, o câncer de mama a gente tenta reduzir a mortalidade, enquanto de útero nós podemos reduzir a incidência também”, ressalta a especialista.
Check-up salva vidas
Foi justamente o diagnóstico precoce que possibilitou a Carla Campos estar aqui hoje dando entrevista para a nossa equipe de reportagem. Aos 57 anos, a assistente social e pedagoga celebra os 17 anos desde que se encontra curada do câncer de mama.
Tudo começou quando, aos 40 anos, teve o primeiro diagnóstico positivo. Por ter histórico familiar, ela nunca deixou o check-up de lado. Dessa forma, o tumor foi descoberto ainda no início.
“Na hora que eu estava aguardando o resultado eu pensei: não vou aguentar. Eu estava muito assustada, nunca achamos que vai acontecer com a gente. Quando veio o resultado positivo, eu confiei em Deus o tempo todo, sempre tive uma religião que me apoiou. Minha família também me apoiou muito. Essa doença vem para te dar uma nova oportunidade de se analisar, ver onde está errando na vida, de onde pode melhorar, o que pode cuidar e quebrar paradigmas. É uma fase que a gente pensa muito”, recorda.
“Câncer é divisor de águas”
Por ter descoberto o câncer de forma precoce, Carla passou apenas pela radioterapia – tratamento oncológico utilizando radiação ionizante – e não precisou da quimioterapia. Ela também passou por duas cirurgias, sendo a segunda mais invasiva para conseguir remover todo o tumor da mama. Hoje, Carla agradece por estar 100% curada e viver uma vida normal.
Ao Jornal Midiamax, a pedagoga ainda fala que muita coisa mudou desde a descoberta do câncer de mama. A principal foi enxergar a vida sob uma nova perspectiva.
“O câncer é um divisor de águas porque você é uma pessoa antes e também uma pessoa depois. Você tem um crescimento grande, uma mudança de olhar, de atitude. É uma oportunidade para poder fazer tudo isso. Eu descobri a amizade de pessoas que eu nem imaginava. Foi durante a doença que eu vi que poderia contar com essas pessoas, que vi o carinho. Além da família, muitos amigos me apoiaram e não deixaram a ‘peteca cair’, sempre ao meu lado”, diz.
Carla ainda ressalta ser necessário ter muita fé para lidar com a doença, porque ela te afeta física e psicologicamente. Além disso, é importante tentar levar o tratamento com leveza e fazer as coisas que gosta, afinal, a vida continua.
Em contrapartida ao câncer de mama, a neoplasia que mais afeta o público masculino é o câncer de próstata. Uma vez que o diagnóstico precoce também tem o poder de transformar realidades, comunidade médica ainda para no preconceito de homens que deixam exames de lado e se rendem ao desconhecido.
Falta de conscientização
A incidência do câncer de próstata no Brasil tem aumentado ao longo dos anos. De acordo com dados nacionais, o câncer de próstata é a segunda causa mais comum de morte por câncer em homens no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pulmão. Sua incidência nos últimos três anos, segundo dados do INCA, chegou a aproximadamente 70.000 casos novos, o que representa cerca de 30% dos pacientes diagnosticados com câncer. A realidade no Estado segue a média nacional, assim, é diagnosticado 1 caso de câncer a cada 40 homens.
A média de idade dos pacientes com câncer de próstata no Brasil é de cerca de 66 anos, embora a doença possa afetar homens mais jovens também. Dessa forma, o câncer de próstata é uma doença silenciosa e pode não apresentar sintomas no início. Nesse cenário, exames de rotina são capazes de detectar o tumor ainda pequeno, mas o maior obstáculo é a falta de conscientização do público-alvo.
Conforme o Marcelo Murucci Magalhães, uro-oncologista do Hospital do Câncer de Campo Grande, existe um grande desafio.
“O preconceito quanto aos exames de diagnóstico ainda é um grande tabu para muitos pacientes. A falta de cuidados com a própria saúde também é um fator presente no cotidiano do homem, dessa maneira acabamos fazendo diagnósticos tardios relacionados à doença, e muitas vezes sem a possibilidade de terapêutica curativa”.
Atuante na saúde pública sul-mato-grossense, o especialista ainda diz que existem inúmeros obstáculos quanto aos tratamentos do câncer de próstata, como limitações nos métodos de detecção precoce, falta de precisão dos exames de sangue e biópsias, falta de recursos financeiros para o tratamento de pacientes com câncer de próstata em estágios avançados e falta de acesso a terapias inovadoras e tecnologias avançadas para o tratamento do câncer de próstata.
Como prevenir câncer
Conforme a médica ginecologista, é impossível prevenir o câncer de mama, já que seu desenvolvimento está relacionado a fatores do cotidiano, como a vida urbana, alimentação, uso de hormônios, genética, entre outros. Mesmo assim, evitar obesidade, tabagismo e sedentarismo são alguns hábitos que podem favorecer o fortalecimento do organismo.
“Quanto mais urbano e desenvolvido o país, mais câncer de mama ele tem. A gente não pode evitar de ter câncer, o que podemos fazer é evitar morrer de câncer. Isso faz com que o diagnóstico seja o mais precoce possível”, diz Bovo.
No caso do câncer de colo de útero, ocasionado pelo vírus HPV, a maior medida de prevenção é usar preservativo, diminuir o número de parceiros sexuais, fazer exame preventivo e tomar vacina.
Já em relação à possibilidade de prevenção do câncer de próstata, Marcelo Magalhães cita a importância dos hábitos saudáveis e manter o check-up em dia.
“O mais importante desse mecanismo de prevenção seria justamente ‘prevenir’ o diagnóstico da doença em fase mais avançada, possibilitando cura para a maioria dos pacientes assistidos em tempo hábil, ou seja, com doença de baixo potencial de agressividade e em fases iniciais”.
Quais exames fazer?
Mesmo que os cuidados com a saúde sejam considerados maneiras de prevenção ao desenvolvimento de câncer, os especialistas ressaltam não ser possível prevenir o aparecimento de tumores de forma criteriosa. Por isso, a maior segurança, então, é estar em dia com os exames de rotina.
Nos casos de câncer de mama e próstata mencionados nesta reportagem, o Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia a cada dois anos para mulheres com idade entre 50 e 69 anos.
Além disso, são dois exames para diagnosticar o câncer de próstata, sendo o exame de sangue para verificar dosagem de PSA (antígeno prostático específico) e exame de toque retal. Todo homem a partir dos 50 anos deve realizar os exames de detecção precoce ao menos uma vez ao ano.
A mesma premissa serve para qualquer tipo de câncer que possa vir a se desenvolver, o que equivale a mais de 100 tipos diferentes de doenças malignas provenientes do crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos.
Formas de tratamento
É impossível dimensionar o tipo de tratamento que cada pessoa irá realizar, tendo em vista que a abordagem é muito exclusiva de cada caso. Mesmo assim, a comunidade médica conta com várias metodologias, tendo a quimioterapia, radioterapia, cirurgia e hormonioterapia como as principais.
Quando o câncer é diagnosticado, médico e paciente entram em consenso com o método de tratamento mais eficaz. Portanto, o diagnóstico precoce oportuniza ao paciente maior chance de cura e aumento de sobrevida quando aliado às estratégias de prevenção.
Para quem é sobrevivente do câncer, passar por toda essa trajetória é motivo de vitória. A Carla precisou lidar com o câncer de mama, mas hoje segura no peito e agradece por seu coração bater mais forte.
“A palavra que define meu sentimento hoje é gratidão. A mensagem que eu deixo é: façam os exames religiosamente. Tenham tempo para isso, porque a vida é mais importante do que o trabalho. Então parem e façam os exames. Se você descobre igual eu descobri no início, fica mais fácil de curar 100%”, conclui.
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