Luto por perda de animais existe e psicóloga de MS dá dicas para lidar com a dor

Partida do pet, em alguns casos, gera luto semelhante à morte de um familiar

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Pretinha e marrom morreram no mesmo ano. (Arquivo Pessoal)

Não se ouve mais as patinhas batendo no chão e a recepção alegre deu lugar ao vazio após a chegada do trabalho. A empolgação do animal de estimação ao apenas ver o tutor vira apenas lembrança e agora restam somente os brinquedos e as memórias dos dias felizes.

Mas há, também, os casos em que a perda dos animais provoca extremo sofrimento. O luto pela perda de um animal de estimação pode causar uma dor semelhante à partida de um familiar. Foi o que enfrentou a empresária e social media Gabrielly Maria Barbosa de Souza, de 36 anos. No mesmo ano, ela precisou lidar com a morte de Pretinha e Marrom, as duas cachorras da família. 

As duas vira-latas chegaram em momentos diferentes na vida de Gabrielly, mas conquistaram rapidamente o coração e amor da família campo-grandense. “Eu fui me apegando à Pretinha. Depois de um dia estressante, ela era o descanso do dia, parecia que as coisas ficavam melhores quando a gente chegava em casa”, recorda-se. 

A Marrom chegou na vida dela tempos depois, já adulta, com leishmaniose. A cadela passou por tratamento e viveu bem por oito anos. Quando Gabrielly se casou e foi procurar uma nova casa, fez questão que tivesse espaço para as duas. 

Três anos após mudar-se para a nova casa, a leishmaniose ficou instável e o médico veterinário recomendou tratamentos paliativos para dar uma vida de qualidade à cachorra. 

“Ela era maravilhosa porque eu abria a porta todos os dias na cozinha e ela trazia um presente, uma folha, uma pedra. Uma noite antes dela partir, eu já estava sentindo que terminaria ali. Eu me despedia dela na casinha, falava ‘boa noite minha filha’. Teve um dia que eu abri a porta e ela não veio. Comecei a chorar, eu sabia que ela poderia ter ido. Ela deitou na casinha dela, dormiu e não acordou. Foi muito dolorido”, narra. 

A empresária lembra que no ano seguinte por várias vezes abriu a porta da cozinha esperando pela Marrom e seu presente diário.

Família teve muitos momentos felizes com as cachorras. (Arquivo Pessoal)

Pretinha morreu no mesmo ano, devido a uma doença neurológica e sem cura, causando a mesma dor na família. Sem esperar, a cadela começou a ficar estranha e o marido se prontificou a levá-la ao médico veterinário.

“Naquele momento eu olhei nos olhos dela e eu sabia que não ia voltar. Ela deitou em um cantinho e eu falei com ela, agradeci ‘filha, muito obrigada por todos os anos que você esteve comigo, muito obrigada por todos os momentos juntos. Eu sempre te amei muito’ e abracei ela”, se recorda. 

Desafio de lidar com o luto do animal de estimação

Gabrielly relembra que ela e o marido choraram muito com a partida das duas e que a família os apoiou no momento de dor. Ela disse que o luto pela partida das cachorras se abrandou com o tempo, mas o sentimento nunca some. 

A psicóloga e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Aline Henrique Reis, de 41 anos, explica que o luto por um animal de estimação é semelhante ao de um familiar porque havia uma rotina e afeto que deixam de existir. 

“É um processo de luto de fato porque se refere a uma perda de um animal que era extremamente importante pra pessoa e ela não vai ter mais ali”, ela diz. 

A pesquisadora defende que uma dica para lidar com o luto é rever fotos e fazer um mural como forma de homenagear o animalzinho. 

“Por exemplo, se ele teve algum filhote que foi doado, você pode visitá-lo para fechar esse ciclo. [Também é interessante] lembrar-se de quando esse animal chegou na família, e de como esse vínculo foi se desenvolvendo. No processo de morte, também é importante decidir o que vai fazer com os pertences do animal, se vai doá-los e não ter mais nenhuma lembrança física”, recomenda. 

Adotar outro animal para preencher vazio pode ser problemático

A psicóloga alerta que um animal não substitui o outro e que as pessoas – mesmo as crianças – devem aprender a lidar com a perda. Afinal, o sentimento pode aparecer diversas vezes na vida do ser humano, seja em relacionamentos, amizades ou na morte. 

Assim, de acordo com a psicóloga, adotar um animal para tentar “tapar o buraco” do luto pode ser um luto problemático. 

“Olha a foto, sente saudade, chora, lamenta e vive o processo… Ter um outro animal não há nenhum problema. O problema é quando você quer adotar para aplacar a dor da perda do primeiro. E são processos diferentes. A gente não tem que evitar a tristeza, a gente tem que sentir e com o passar do tempo, dentro de um processo de luto saudável, a gente tende a lembrar mais com saudade do que com tristeza”, explica a psicóloga. 

Tentar ter um luto saudável foi a escolha de Anaiad Martins da Costa, de 29 anos, que relata ser tutora de animais de estimação desde pequena, tais como cachorros, gatos e papagaios. Há cerca de dois anos, porém, Anaiad perdeu uma tartaruga que viveu na família por 20 anos e que a acompanhou na infância e adolescência. 

“Ele foi doado por um amigo do meu pai. Como todo animal que temos em casa, cuidamos e criamos igual filho, cheio de mimos”, relembra.

A jovem conta que tentaram lidar da melhor maneira com o falecimento do pet. “Nós lembramos dos momentos bons e fotos como recordações”, diz.

Benefícios de ter um animal de estimação

Pesquisadores defendem que ter um gato ou cachorro em casa, por exemplo, pode trazer inúmeros benefícios para o ser humano. Aline Henriques Reis é uma das que afirma que ter um pet traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental, como ter uma rotina e sair para passeios.

Além disso, ela destaca que ter um animal de estimação gera afeto, companhia, interação social, sentimento de responsabilidade e estabelece uma rotina para o dia-a-dia.

Pretinha e Marrom.(Arquivo Pessoal)

“[Quando você tem um animal] Você se propõe a sair de casa com ele. Assim, você encontra e interage com pessoas, se obriga a sair de casa… E a gente fica muito tempo preso dentro de casa. [O pet] é uma companhia pensando em quem não mora com outras pessoas e se sente muito sozinha. A gente recebe afeto porque eles, de fato, têm um vínculo afetivo muito forte”, explica.

A pesquisadora também inclui benefícios para pessoas que têm diagnóstico grave de depressão ou tenham ideação suicida. Os pets, nesse caso, funcionam como um fator de proteção, já que eles se sentem responsáveis por cuidar do animal e pensam que com a partida não teria alguém para proteger o pet.

“Os animais têm uma questão de troca afetiva, fazem companhia, dão afeto para pessoa… É uma relação menos complexa do que uma interação humana, visto que as nossas ações com as outras pessoas geram uma repercussão. A gente tem uma disponibilidade e os animais acabam se ajustando a nossa rotina. Então é quase que uma via de mão dupla, mas que a gente recebe muito e muitas vezes não precisa se doar tanto pro animal quanto uma relação, um relacionamento amoroso ou de amizade”, explica.

Campo Grande tem enterros de graça e pagos para pets

Campo Grande tem opções no setor público e privado para enterro de animais de estimação. O CCZ (Controle do Zoonoses) fornece um canal para orientações por meio do telefone 2020-1794.

Na Capital, há duas opções gratuitas para esse serviço. A primeira é através da coleta realizada pela SOLURB, empresa concessionária de limpeza. O serviço pode ser acionado em casos de animais mortos em vias públicas ou na eventualidade da morte do pet. 

Essa ação é exclusiva para animais de pequeno porte e não atende pet shops e clínicas veterinárias. O serviço de coleta da Solurb é feito em até 24 horas úteis. 

O contato pode ser feito pelos telefones 0800-647-1005 ou WhatsApp (67) 99647-1005.

A segunda opção gratuita é por meio do CCZ, caso a pessoa não queira aguardar a coleta. O cidadão pode levar o animal ao CCZ, que funciona todos os dias, das 7h às 21h (inclusive finais de semana e feriados), sem intervalo para almoço. É necessário levar RG e CPF.

O CCZ está localizado na Avenida Senador Filinto Muler, nº 1601, na Vila Ipiranga. 

Contudo, Campo Grande também tem opções para quem quer um serviço particular, com um momento reservado para se despedir do animal. 

A Pet Pax é o primeiro crematório pet da Capital e oferece serviços para que a despedida seja um momento respeitoso, reconfortante e auxilie no processo de luto do tutor. 

De acordo com o gerente Lucas Canhete, o pacote emergencial é para o pet já em óbito e inclui:

  • Remoção 24h
  • Cremação
  • Certificado de Cremação
  • Entrega das Cinzas em Urna Padronizada
  • Sala de Despedida
  • Flores Naturais na decoração do velório (interior do cesto)
  • Café, Chá e água
  • Paramentação conforme Religião

O custo para o serviço de cremação varia conforme o peso do animal, indo de R$ 690 a R$ 1.190,00. 

“Disponibilizamos de toda uma estrutura completa para recepcionar o pet, realizar todos os procedimentos estéticos necessários e depois preparar ele para a despedida com os tutores. Temos uma sala pensada exclusivamente para acolher as famílias nesse momento, toda climatizada e com acesso integrado à área externa, televisão para apresentação de uma homenagem através de fotos do pet com os tutores e a família, além de uma equipe especializada no atendimento a esses tutores”, explica o gerente. 

Sala de despedidas da Pet Pax. (Divulgação Pet Pax)

Também há a opção do pacote preventivo, ou seja, com mensalidades a partir de R$ 52,80 (a depender do tamanho do pet) que asseguram os serviços listados acima. Além de assegurar os custos da cremação, esse pacote inclui pacote de benefícios com rede de parceiros. 

O gerente conta que os campo-grandenses ainda têm se acostumado à ideia de cremar o animal, mas o serviço tem tido aumento de procura nos últimos meses. Ele diz que, em 8 meses de operação, houve crescimento de 70% na demanda. 

“A cada dia percebemos o aumento do interesse por parte dos tutores, que buscam encerrar esse ciclo de vida do pet com a mente tranquila e o coração leve por terem feito o melhor possível até quando puderam”, ele acredita. 

Enterrar animais é crime

A Prefeitura alerta que enterrar animais é considerado crime ambiental, de acordo com a Lei Federal n. 9.605/1998. É prevista pena de reclusão de um a quatro anos, além de multa.

Enterrar animais em quintais e terrenos sem nenhum preparo pode contaminar o solo e lençóis freáticos ou poços, pois no corpo do animal em decomposição ocorre a proliferação de bactérias que podem causar danos à saúde humana e animal.

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