Situação crítica: Incêndios consomem quase 1 quilômetro do Pantanal por hora

Com ventos a 50 km/h, a propagação do fogo é mais rápida em áreas de vegetação seca, agravando ainda mais a situação

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Fogo no Pantanal (Divulgação)

O céu de Mato Grosso do Sul amanheceu coberto por fumaça devido aos incêndios florestais que afetam o Pantanal. Nas últimas 24 horas, o fogo avançou 21 km, percorrendo cerca de 1 km por hora, conforme levantamento do CPA (Centro de Proteção Ambiental) do Corpo de Bombeiros Militar de MS.

Em meio à situação crítica do bioma, o Centro de Proteção Ambiental, responsável pelo comando e gerenciamento das operações de incêndio florestal no Estado, monitora os focos de calor por imagens de satélite 24 horas por dia, buscando criar estratégias efetivas para prevenção e combate ao fogo.

A tenente-coronel Tatiane Inoue, chefe do CPA, explica que quando um foco de calor é detectado, o Corpo de Bombeiros Militar entra em contato com o proprietário da área afetada e, se necessário, direciona militares para extinguir os focos.

“O foco de calor não necessariamente indica um incêndio, mas pode haver probabilidade de fogo, por isso continuamos monitorando as áreas de risco”, enfatiza.

Painel de monitoramento de focos de calor (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Nas últimas 48 horas, Mato Grosso do Sul registrou 323 focos de incêndio, conforme dados do programa queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A região conhecida como Parque Estadual do Rio Negro, ao norte do Estado, é uma das mais críticas do bioma.

“Agora há um grande incêndio nessa área, e equipes estão há dias envolvidas no combate. Em 24 horas, o incêndio avançou 21 km devido às condições atmosféricas extremas. Na terça-feira (14), a sensação térmica atingiu 46°C, criando condições para incêndios severos”, destaca a tenente-coronel.

Com ventos a 50 km/h, a propagação do fogo é mais rápida em áreas de vegetação seca, tornando a situação ainda mais crítica. De acordo com o CPA, os baixos índices de umidade relativa do ar, variando entre 10% e 20% em Mato Grosso do Sul, também contribuem para o avanço das chamas.

Céu amanheceu coberto por fumaça

Fumaça em Campo Grande
Fumaça em Campo Grande (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Tatiane Inoue explica que a cortina de fumaça que cobriu o céu do Estado é resultado dos ventos registrados no norte de MS, que dispersam a fumaça dos incêndios.

“Com essa onda de calor e a ausência de chuvas, a situação pode se complicar ainda mais na região do Pantanal. Enfrentamos 12 grandes incêndios em um período sem chuvas”, ressalta a chefe do CPA.

Dados do Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites da Universidade Federal do Rio de Janeiro) apontam que até a segunda-feira (13), o fogo havia consumido 489.950 hectares do bioma em Mato Grosso do Sul, cerca de 6,7% do território.

Cinco cidades estão em situação de emergência

Pantanal
Fogo que atingiu a região pantaneira (Divulgação)

Os incêndios no Pantanal têm gerado preocupações entre autoridades do Estado e entidades ambientais, que temem um novo desastre, semelhante ao ocorrido em 2020, quando 26% do território foram consumidos pelas chamas. Na terça-feira (14), o governo de Mato Grosso do Sul decretou estado de emergência em cinco municípios.

Conforme o decreto publicado no DOE (Diário Oficial do Estado), as cidades de Corumbá, Ladário, Miranda, Aquidauana e Porto Murtinho encontram-se em situação de emergência por 90 dias devido aos incêndios florestais que atingem parques, áreas de proteção ambiental e áreas de preservação permanente.

Em um mês os focos ativos saltaram de 495 em outubro para 1.197 em novembro, segundo o programa Queimadas. Presidente do Instituto Homem Pantaneiro, Coronel Ângelo Rabelo destaca que ainda não foi contabilizada a dimensão exata da área afetada, mas alguns locais tiveram perda total da biodiversidade.

“É difícil avaliar a dimensão do que representa esse fogo sequenciado de 2019 e 2020, mas algumas perdas são irreparáveis. Em alguns lugares, há uma dificuldade de restauração e até a perda total da capacidade de resiliência”, explica.

Em um ano, área queimada subiu 95% no Pantanal

Dados do boletim de monitoramento de incêndios florestais de Mato Grosso do Sul, elaborado pelo Cemtec, indicam que, no período de 1º de janeiro a 12 de novembro de 2023, houve uma redução de 8,7% na área queimada do bioma Cerrado em território sul-mato-grossense, enquanto o bioma Pantanal registrou um aumento de 95,8% em comparação ao ano de 2022.

Entre os municípios com os maiores focos de calor no Pantanal, destacam-se Corumbá (74,8%), Aquidauana (12,8%) e Porto Murtinho (10%), conforme dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Pantanal
Ação de combate ao fogo (Divulgação)

Para prevenir novos desastres, uma das medidas implementadas pelo governo do Estado foi a plataforma Sifau (Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas), que poderá antecipar em até cinco dias os riscos de queimadas descontroladas em regiões como o Pantanal.

O sistema poderá tanto gerenciar a emissão de licenças de queimada controlada com mais eficiência como terá condições de melhor planejar intervenções em incêndios de grandes proporções. É o que ocorre em diferentes regiões do Pantanal nesta época do ano, por exemplo. Com os dados em mãos, será possível definir com antecipação a mobilização de aparato para enfrentar as chamas.

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