Em semana de volta às aulas, alunos lidam com ansiedade e mudança de rotina em MS

Parte das escolas privadas retomam aulas nesta segunda-feira (30)

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(Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Com parte das escolas privadas de Campo Grande e Mato Grosso do Sul retomando as aulas nesta semana e as públicas às vésperas da volta dos alunos, pais e responsáveis precisam lidar com a ansiedade dos pequenos e ajustar a rotina, que muda totalmente com as atividades escolares. Medo do desconhecido nos primeiros dias na escola, dificuldades da nova rotina e se a criança irá se adaptar são algumas das preocupações. 

Nas escolas municipais de Campo Grande, as aulas voltam no dia 8 de fevereiro, já na rede estadual, o retorno está marcado para o dia 23 de fevereiro. Nas escolas privadas, muitas retornaram às atividades nesta segunda-feira (30), e a maioria retoma as aulas até o fim da semana.

Diante de tanta novidade, a orientação de especialistas é sempre conversar com a criança, seja para explicar o que ela encontrará na escola, ou para entender o que acontece no dia a dia, se gosta das aulas ou se tem dificuldades para se adaptar à rotina. 

“Os pais podem facilitar o retorno às aulas estabelecendo uma rotina para as crianças, com horário para a alimentação, sono e banho, que foi perdida durante as férias. Estabelecendo essa rotina deixa a criança mais segura, menos ansiosa e vai ser mais tranquilo a volta às aulas”, explica a coordenadora pedagógica da Escola Sesc Horto, Arlete Tavares.

Primeira vez na escola

Geralmente, a fase que tem mais dificuldades na adaptação é a educação infantil, ou seja, as crianças que vão pela primeira vez à escola e que estão mais ligadas afetivamente à família. 

A dica de ouro nesses casos é a confiança dos pais na escola, ou seja, que o filho estará seguro, e transmitir esse sentimento para a criança, conversando sobre o que vai acontecer, que ele criará novos amigos, terá uma professora e que se houver qualquer problema a escola irá avisar os pais. 

“A escola sozinha não consegue atingir o objetivo. Ela precisa da família e o objetivo da escola é o sucesso no aprendizado da criança e que ela seja feliz”, explica a coordenadora pedagógica. 

Além dos pequenos, a mudança de escola para os mais velhos também pode gerar preocupações. Vou gostar da nova escola? Será que as pessoas serão legais? Vou me adaptar ao ritmo das aulas? São algumas das perguntas que podem causar ansiedade.

A psicóloga clínica, Ediane Palhano, recomenda que os pais busquem conversar com os filhos ao invés de deduzir. 

“A gente esquece que fazer uso da palavra pode fazer mágica na nossa vida. Então como você se sente filho com relação à mudança de escola? Em cima dessa resposta, a gente pode pensar em possibilidades de ajuda. Supor que o filho vai sofrer na adaptação escolar pode ser bastante desastroso”, afirma a profissional. 

A psicóloga explica que é normal o surgimento de sintomas de ansiedade na mudança de escolas, por exemplo, como irritabilidade, agitação de braço, aumento de suor, tremor das mãos e dificuldades para dormir. 

“Todos nós, na verdade, nos reconhecemos nesses sintomas diante do novo e isso não é ruim. Em certa medida até traz uma proteção para nós, em que a gente age com um pouco mais de cautela”, garante Ediane. 

Porém, o quadro se torna preocupante em casos de persistência dos sintomas e comece trazer prejuízos na vida do estudante. Nesses casos, a recomendação é procurar um psicólogo que possa ajudar a criança.

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Aulas da rede municipal voltam em 8 de fevereiro. (Foto: Arquivo, Midiamax)

“Por quanto tempo esses sintomas estão persistindo ao ponto de trazer prejuízo para sua vida diária? O ponto de virada é saber se isso persiste. Caso os sintomas persistam, aí a gente deve procurar um profissional, um psicólogo. Às vezes a criança ou adolescente não precisa nem fazer terapia, mas ele pode ser acolhido nesse primeiro momento por um profissional, que vai dar vazão e desmanchar esses sintomas de ansiedade”, ela elucida. 

Monitorar a reação das crianças

A psicóloga reforça que é importante se atentar para a idade da criança, se o comportamento corresponde àquela fase. Porém, é preciso ter em mente que cada ser humano não é exato a outro e que as expectativas e reações de cada um variam e que isso é normal. 

“Tudo depende daquele ser humaninho que está indo para a escola, às vezes a gente se surpreende com a reação dos filhos para negativo e positivo”, ela diz.

Para os pais que levarão o filho pela primeira vez na escola, a dica é para eles refletirem sobre como se sentem em relação a esse novo passo e que tentem não projetar os medos e ansiedade nas crianças. 

“Reconhecer os seus próprios sentimentos e sensações com relação a essa mudança pode ser um bom guia, um bom orientador. O que é meu nessa história toda e o que é da criança?”, reflete.

Como preparar a rotina?

Durante as férias escolares, as crianças tendem a perder a rotina de horários para dormir e almoçar, por exemplo. Retomar a disciplina pode ser um desafio tanto para os alunos, como para os pais. 

A coordenadora pedagógica Arlete orienta que os pais precisam definir horários para que uma rotina que contemple estudos, lazer e descanso seja cumprida. Assim, a criança precisa saber o horário que estará na escola, em que irá almoçar, brincar, descansar e fazer as tarefas escolares.

“Tem famílias que colocam várias atividades para a criança não ficar ociosa, isso gera um cansaço. A criança tem que ter esse momento de andar de bicicleta, pular corda, brincar e de limitar o uso das telas porque isso é muito prejudicial para criança. Esses são acordos que a família precisa fazer com a criança. Eles não podem desistir de cobrar o cumprimento da rotina”, assegura a pedagoga.

Ela pontua que estabelecer uma rotina não é um processo fácil, mas que o exemplo dos pais pode ajudar nesse processo. 

“Claro que a criança vai ser resistente porque ninguém quer ser cobrado por atividades, mas isso traz segurança. Ela não fica ansiosa porque sabe o que tem que fazer no dia a dia”, finaliza.

O ideal e o possível

A psicóloga clínica Ediane pontua que é preciso ter ciência que nem sempre dá para fazer tudo que está planejado. Em alguns momentos será preciso abrir mão do ideal para fazer o que é possível, como no caso dos estudantes em fase de vestibular que se cobram muito em horas de estudo e aprovações. 

“Às vezes, a gente tende a achar que o mais é sempre um ganho e isso não é verdade. Muitas vezes a gente abre mão de algo para ganhar algo maior ainda. Sentar e planejar uma tabela com horários pode trazer luz em uma rotina para conseguir fazer as escolhas”, ela analisa.

Um bom orientador nesses casos é definir o que é prioridade naquela fase de desenvolvimento do filho, como o que ele mais precisa aprender nessa idade? Portanto, a psicóloga reforça que a importância de sempre manter o diálogo com a criança e perguntar como se sente, se gosta ou está cansado, por exemplo. 

“O que você considera como prioridade na vida do filho naquele momento e quais são as coisas que ele mais precisa naquele momento? Por exemplo, uma criança que está entrando na primeira infância, que está começando a sua vida social, aprender a interagir com outras crianças pode ser muito mais rico e valioso ao longo da vida do que ele aprender o alfabeto, por exemplo”, finaliza. 

Quando as aulas voltam?

O ano letivo na Reme (Rede Municipal de Ensino) de Campo Grande inicia para os alunos em 8 de fevereiro. Já na rede estadual de Mato Grosso do Sul, os alunos voltam para as salas de aula oficialmente em 23 de fevereiro, após o Carnaval. 

O início das aulas na rede particular varia conforme cada unidade escolar.

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