A situação de uma casa na Rua Mário Mendes Gonçalves, no das Meninas, representa uma das mais desoladoras misérias humanas: o que a droga faz com o ser humano. Ao mesmo tempo, é fonte de conflito com os vizinhos que não suportam os transtornos que extrapolam os muros da casa. 

De um lado, uma mulher negra, magra, com os cabelos e roupas desgrenhados, vivendo em uma residência suja e que se esgueira em um buraco para entrar no imóvel. O verdadeiro proprietário da casa concretou todas as entradas depois que usuários de drogas venderam as portas e janelas e, sem banheiro, ela realiza as necessidades no quintal. 

O resultado são as duas janelas da fachada tapadas com tijolos que parecem dois olhos e devolvem o olhar dos curiosos que passam na frente e reparam na propriedade abarrotada de entulhos.

Do outro lado da história, estão os moradores que não suportam o cheiro das fezes humanas feitas no terreno, dos animais peçonhentos que saem do quintal e chegam nas casas vizinhas e do lixo acumulado propício para criadouro de mosquitos transmissores da dengue, zika, chikungunya ou leishmaniose. 

Água parada é propícia para o . (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Vizinhança teme pela saúde

Um leitor, que não quis se identificar e que mora próximo à casa em questão, conta que a irmã está grávida e foi internada recentemente em um hospital porque pegou dengue. 

A suspeita da família é que o criadouro do Aedes aegypti seja a casa que, por todo quintal, tem locais favoráveis para o , como mala jogada, marmitas, móveis estragados, roupas, garrafas e goiabas maduras que se espalham na frente do quintal. A situação degradante e de sujeiras dura cerca de quatro anos, conforme relembra o homem.

“Essa casa está cheia de coisas como televisões velhas, sofá, pneus e que traz o mosquito da dengue para o nosso lar. Nesta região que moramos tem muitos idosos, crianças e mães gestantes que passam em frente dessa residência”, relata o homem. 

O comerciante Luis dos Anjos conta que precisa fechar todas portas e janelas de casa e do estabelecimento no horário de almoço devido ao cheiro de fezes que se espalha na região, especialmente nos dias quentes. 

“É terrível, tem que fechar as portas para comer, até os clientes ficam reclamando, às vezes eles estão comendo a porção aqui e sentem o fedor”, desabafa. 

Roupas, folhas, mato e móveis se acumulam pelo quintal. (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Além disso, ele ressalta que o local é fonte de animais peçonhentos, como aranhas, que saem do quintal e chegam até os vizinhos. 

“O cara fechou tudo porque eles venderam porta, venderam janela, venderam tudo da casa. Fechou tudo com tijolo e ela cavou um buraco embaixo da casa. Até escorpião já acharam na casa”, completa.

Outra vizinha da casa, que também pediu para não ser identificada, enumera os problemas que a residência tem trazido para a região nos últimos anos, que tem lixo espalhado até pela calçada.

“Esse tempo veio cobra de lá para cá e nós matamos. Nós temos crianças. Ela [mulher que mora na casa] traz muito lixo de fora porque ela é catadora. E o pior é que lá não tem banheiro e imagina o fedor que fica? A gente tem uma mãe idosa, de 78 anos, e esses dias ela estava na UTI no hospital e a minha irmã teve que levar ela pra casa dela por causa do fedor daqui”, ela relata.

Questionados sobre o telefone ou endereço do proprietário da residência, os vizinhos informaram o endereço de um parente, mas ninguém atendeu às palmas ou chamados da equipe de reportagem. O espaço fica aberto, caso queiram se manifestar. 

Depois de entrevista, mulher foi até a goiabeira. (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Mulher afirma que vai limpar o local

A equipe de reportagem foi até a casa no e encontrou a mulher na residência. 

Questionada sobre a sujeira do local, ela afirmou que “um moço vai limpar aqui”. Além disso, acrescentou que não mora na residência, pois estava ali temporariamente depois de ter brigado com o irmão. 

“Não tem mosquito da dengue, eu viro tudinho os potes, eu junto reciclagens, eu entro no quintal e eu viro”, ela afirmou. Por fim, também disse que não leva os materiais de reciclagem para o quintal. 

O que diz a Prefeitura?

O Midiamax entrou em contato com a Prefeitura para perguntar se os proprietários da casa foram notificados pela fiscalização devido à sujeira. Confira abaixo a nota:

“Não há, no sistema de denúncias oficiais da Sesau, nenhuma reclamação relacionada a este local especificamente. É importante que toda e qualquer reclamação deve ser feita através do telefone da Ouvidoria da Sesau, pelo telefone 3314-9955, assim o munícipe possui um número de protocolo com o qual poderá acompanhar o desenrolar de sua solicitação.

Cabe ressaltar que, através da denúncia recebida por este veículo, foram acionadas as equipes da Vigilância Ambiental, Coordenadoria de Controle a Endemias Vetoriais e Serviço de Controle de Roedores, Animais Peçonhentos e Sinantrópicos que irão até o local para verificar a situação”.