O processo de alfabetização de crianças indígenas de Mato Grosso do Sul será feito na própria linguagem utilizada pela comunidade. Isso porque o programa Alfabetiza MS traduzirá materiais didáticos para quatro línguas de povos originários do Estado.

A ação foi tema de seminário na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) nesta quinta-feira (18). “É um programa que nós lançamos, assinamos ele em 21, implementamos no estado em 22. MS Alfabetiza é um regime de colaboração que o Estado faz com todos os municípios”, lembrou o secretário-adjunto de Educação, Edio de Castro.

Segundo o adjunto, a parceria entre o Estado e município se dá pela distribuição de material pedagógico produzido por MS. “A educação visa alfabetizar na certa, ou seja, no primeiro e no segundo ano”, afirmou.

Nestas fases, o ensino é ofertado pelas redes municipais. Assim, 60 escolas de MS participam, sendo que 30 serão premiadas pelo bom desempenho.

Alfabetiza MS Indígena

Para melhor atender as crianças indígenas, criadas em línguas originárias, o programa passou por adaptação. “Vamos transcrever todo esse material a partir deste ano, para implementar no que vem junto com eles na linguagem deles”, explicou.

Além disso, destacou que “isso vai facilitar, evidentemente, a alfabetização deles, em igualdade de condições com os que estão nas nossas redes no dia a dia”. No início, haverá tradução do material para quatro línguas.

“Esse início vai começar com quatro, Guarani, Kaiowá, Terena e Kadiwéu”, apontou. No entanto, são sete línguas originárias em MS, sendo que três estão quase extintas do território sul-mato-grossense.

Assim, a coordenadora do MS Alfabetiza, Estela Andrade, disse que estão em processo de contratação de tradutores. “As línguas ainda serão de acordo com os linguistas que nós vamos conseguir contratar para fazer tradução do material”, ressaltou.

Quando o projeto começa?

Conforme a diretora da Fadeb (Fundação de Apoio e Desenvolvimento da Educação Básica de MS), Cecília Motta, “ano que vem a será alfabetizada em duas línguas, na língua indígena e na portuguesa”.

Ela ressaltou que o projeto é o primeiro do país. “O Brasil está construindo uma alfabetização na língua portuguesa, mas no Brasil não tem apenas a língua portuguesa, temos outras línguas. E MS é o segundo estado com maior população indígena”, lembrou.

“A gente é alfabetizado na língua da gente e eles falam uma língua toda diferenciada”, disse. Sobre as três línguas que estão em processo de extinção, a diretora garantiu que haverá um trabalho de resgate.

Comunicação pela língua nativa

Na Aldeia Bananal, em Aquidauana, 90% da comunidade se comunica com a língua nativa. Anciões usam o terena na aldeia, língua que se mantém entre as crianças.

Ao Jornal Midiamax, o cacique e professor, Celio Fialho, disse que os materiais traduzidos ajudam na manutenção da língua.

“A importância da manutenção da língua é a valorização da cultura. Uma vez que a comunidade indígena ela perde sua língua, ela perde uma parte da sua cultura”, explicou.

Assim, destacou que o “trabalho dentro da Secretaria de Educação, dentro do âmbito da educação, ele é muito importante, porque lá dentro da escola além manter a cultura, valoriza”.

Secretaria de Educação Indígena

Por fim, o professor e técnico pedagógico indígena nacional, Joaquim Maná Kaxinawá, palestrou no seminário. Em entrevista, lamentou que a educação formou-se no país de forma não inclusiva. “Os povos começaram a pensar: Por que a gente só aprende conhecimento e não ensina o nosso conhecimento?”, lembrou.

Então, reforçou a importância do projeto pioneiro em MS. “De 1,3 mil povos que existia, só existem 305 povos. São estimadas 70 línguas falantes e outras já não falam mais”, lastimou a perda da cultura.

“Futuramente nós queremos que seja criada a Secretaria Especial de Educação Indígena, tanto no meu estado [Acre], quanto no MEC, quanto nos municípios. Onde tiver esses povos tem que ter essa demanda, essa instituição”, comentou.