A Rua Paca, que fica entre os bairros Mario Covas e Canguru, em Campo Grande, abrigava uma antiga . No ano passado, alguns moradores foram contemplados com o apartamento no Residencial. A desocupação no terreno deu espaço para um , matagal e escuridão. Quem já vive há anos na vizinhança reclama: ‘Com a favela era melhor'.

Nem mesmo a passagem do ex-presidente Jair Bolsonaro mudou a realidade da comunidade. Na época, a promessa rendia valorização ao entorno do conjunto habitacional, pois também há creches, escolas, postos de saúde e de segurança.

Na frente do condomínio, o trecho asfaltado recebe o nome de Rua Jundiaí, parte das ruas laterais foi asfaltada, mas a pavimentação não alcança boa parte da região. Segundo moradores, desde a entrega dos novos apartamentos, alguns acreditaram que seria uma melhoria para a região que não era notava há anos. Entretanto, as expectativas ruíram com a piora do cenário.

Vizinha do local, Sandra Regina de Souza Lindoca, de 40 anos, sofreu na pele o desespero de viver ao lado do abandono. Voltando para casa durante a noite, ela foi arrastada para o matagal por um homem. O irmão ouviu os gritos e conseguiu salvar a mulher do abuso sexual. Ela lamenta o abandono agravado depois da desocupação no terreno.

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Restos de construção no local (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

“Vivo aqui há mais de 19 anos, toda minha família mora no bairro. No fim do ano passado aconteceu isso [tentativa de abuso], foi um susto. Meu marido disse para vender a casa, mas quem vai querer comprar e ter isso do lado? Eu queria começar o ano estudando, mas como vou se quando voltar para casa vou passar por medo e o risco de morrer aí dentro?”, disse.

Ela conta que diariamente lida com invasão de insetos e animais peçonhentos. Sandra perdeu a irmã por dengue e ficou internada por três vezes após ser picada pelo mosquito. “Essa semana achei três escorpiões e dias atrás uma cobra, fora os sapos que entram pela varanda”. “A noite é um de terror”, completa o irmão, que preferiu não se identificar.

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Morador Alexandre detalha perigo na região (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Também morando próximo há 21 anos, Alexandre Cardoso dos Santos, de 45 anos, relata que a taxa de criminalidade aumentou. O matagal alto e a escuridão favorecem uso de drogas, esconderijo de bandido e lixão para entulho.

“Quando os moradores da favela estavam, eles zelavam e cuidava. A noite tinha luz na casa deles. Era tudo simples, mas era muito melhor. De manhã tem gente que entra com a caminhonete e joga lixo, falamos e acham ruim, quase batem na gente. Nem a entrega ajudou na valorização. Se pelo menos cercassem, colocasse placa para evitar. Teve uma época que todo mundo se disponibilizou em iluminar por conta própria, eu fiz a fiação, mas não adiantou nada. Continuam jogando lixo e entrando no matagal”.

A esposa, que preferiu o anonimato, já encontrou animais mortos abandonados no trecho. Sem a antiga invasão, a desordem reina. “A casa não para limpa, tem carrapato que fica na parede, sapo. Nos sentimos abandonados. Podiam ter pego esse espaço e feito mais casas ali, uma praça, algo útil. Tem muita gente que morava ali que não foi contemplado”.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande, mas não obteve retorno até a publicação desde material. O espaço segue aberto para um posicionamento.