Campo Grande registrou, nos quatro primeiros meses deste ano, 703 casos positivos de leishmaniose em animais, o que corresponde a 35% do total de coleta realizada no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses).

O número se aproxima do total registrado em 2022, que foi de 1.670 animais infectados por leishmaniose. O valor pode ser maior, já que estes dados são de tutores que encaminharam o bicho até o órgão para realizar o teste, os exames realizados em clínicas particulares não são computados nas estatísticas do CCZ.

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que quando o animal apresenta o diagnóstico de leishmaniose os tutores são orientados quanto às alternativas que possuem, como realizar o tratamento, que é feito por meio de clínicas particulares, não sendo ofertado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), ou a entrega desse animal para que seja realizada a eutanásia dele; neste caso, o proprietário do animal está ciente de todas as etapas do processo realizado pelo CCZ.

Afinal, o que é a leishmaniose?

Conforme a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a doença possui conjunto de enfermidades por protozoários do gênero Leishmania e da família Trypanosomatidae. Os diagnósticos se dividem em leishmaniose tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e leishmaniose visceral (ou calazar), que ataca órgãos internos.

A transmissão acontece quando uma fêmea infectada de flebotomíneo passa o protozoário a uma vítima sem a infecção, enquanto se alimenta de seu sangue, perigo tanto para humanos como para mamíferos e animais domésticos.

A médica veterinária e coordenadora do CCZ, Cláudia Macedo, explica que os sintomas iniciais visíveis deixam o animal com aspecto de doente: quando o animal come e não engorda, se nota o emagrecimento; pelagem espalhada pelo corpo e somada a uma escamação, como se fosse uma caspa; feridas pelo corpo, como no focinho, em volta dos olhos e nas orelhas; e crescimento exagerado das unhas.

Infecção

A infecção é feita pelo mosquito-palha, que é bem menor que o Aedes aegypti, mais difícil de perceber no ambiente. Ele tem hábitos crepusculares, ou seja, se alimenta no começo da manhã ou final da tarde, quando está mais escuro.

Diferente da dengue que se prolifera em água parada, o mosquito-palha prefere matéria orgânica. Um quintal com mais sujeira de folhas ou frutas, por exemplo, ele vai se acumular ali. Ele tem alcance de voo de 200 metros, então estar de olho em como a vizinhança está fazendo a limpeza do quintal é necessário.

Tratamento

Quando o animal faz exame e dá positivo, o tratamento é indicado por um veterinário de clínica particular. O Ministério da Saúde não preconiza o tratamento público por classificar como casos isolados.

O veterinário vai direcionar o melhor tratamento para o cão. A doença é estadiada porque é uma doença de longa duração, mas, por exemplo, se dois cães na mesma casa estão infectados, o tratamento pode ser diferente.

Eutanásia não resolve tudo

Muito desconhecimento de tutores leva à morte do animal de estimação. Desde 2021, o Governo Federal sancionou a Lei 14.228/21 que proíbe extermínio de cães e gatos considerados saudáveis. Pelo texto, só pode ser eutanasiado o animal que está em estágio de doenças infectocontagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde humana e de outros animais.

Nos humanos

A resposta imunitária é individual, cada pessoa pode apresentar uma infecção diferente. Conforme a classificação do Ministério da Saúde, nos humanos é caracterizada por febre persistente, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, anemia e redução muscular.

O diagnóstico avalia os testes sorológicos e parasitológicos do paciente. Geralmente, o positivo é tratado com o antimoniato de N-Metil Glucamina, o medicamento de primeira escolha para o tratamento e pode ser utilizado em nível ambulatorial, enquanto a Anfoterecina B Lipossomal é a única opção para pacientes que atendam a pelo casos de condições, como grávidas, bebês e pessoas com comorbidades. A prescrição pode variar segundo a apresentação da doença e a ocorrência ou não de coinfecção com HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana).

Prevenção

A umidade e material orgânico atraem o mosquito. A principal orientação é evitar ambientes propícios para proliferação do mosquito-palha, como:

  • Manter quintal limpo;
  • Uso de coleira com repelente em cães;
  • Instalar telas de malha fina nas janelas e canis;
  • Uso de repelentes;
  • Em casos de suspeitas, procure uma unidade de saúde;
  • No caso do animal, leve ao veterinário.

A ocorrência de casos na comunidade deve ser comunicada imediatamente para as autoridades de saúde pública a fim de permitir a implementação de medidas de controle e prevenção da doença.