Campo Grande gasta R$ 110 milhões em corredores à esquerda, mas novos ônibus só têm portas à direita

Corredores de ônibus acabam com trânsito nas principais ruas da cidade para favorecer empresários que descumprem contrato de concessão e ficam impunes

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Terminal em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

Nenhum dos 71 novos ônibus comprados pelo Consórcio Guaicurus para renovar parcialmente a frota de Campo Grande contará com portas dos dois lados para atender os corredores de ônibus da Capital, que espalharam o caos com a construção dos “pontões” no meio da rua alterando a dinâmica do trânsito, ao custo de R$ 110 milhões.

O Consórcio Guaicurus confirmou ao Midiamax que nenhum dos novos veículos anunciados durante coletiva de imprensa em parceria com a Prefeitura de Campo Grande terá portas à esquerda, permanecendo o modelo padrão de portas à direita.

A Capital tem 182 ônibus ‘vencidos’ prestes a completar 10 anos de idade rodando, enquanto o ideal previsto pela concessão é a troca a cada cinco anos. Os novos veículos vão renovar apenas 15% da frota atual de 450 ônibus, deixando 111 vencidos circulando.

Os ônibus com portas dos dois lados atenderiam à demanda dos corredores de ônibus, já que os “pontões” também foram construídos na pista esquerda para que a porta do ônibus não abrisse para a rua. 

Durante a implantação das estações de pré-embarque e corredor de ônibus na Rui Barbosa, no centro da Capital, os motoristas entrevistados pela reportagem apontaram que não entendiam por que os “pontões” foram instalados bem no meio da via, atrapalhando o trânsito. 

Muitos campo-grandenses ouvidos pelo Midiamax observaram que o ponto deveria ser instalado na calçada, como é de praxe, mas devido à falta de ônibus com porta dos dois lados, a população foi forçada a conviver com o caos no trânsito, o que deve ser prorrogado já que não estão previstos veículos que possam reverter o cenário.

“Eu acho essas ruas muito estreitas para fazer aquele tipo de situação ali [estação de pré-embarque], mas vamos ver como vai ser”, afirmou uma empresária na época.

Assim, Campo Grande “enterra” os R$ 110 milhões previstos desde 2014 pelo PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) Mobilidade Urbana liberados para recapeamento de vias e construção dos corredores de ônibus, a serem entregues até 2024.

Série de reportagens do Midiamax, no fim de 2022, mostraram que as obras estavam longe de serem concluídas, já que muitas obras foram abandonadas pelas empresas sob a alegação de necessidade de atualização de valores. 

“Como a gente trabalha aqui, sempre vemos acidente na esquina toda semana. Até com ônibus mesmo. O povo corre demais e, como o espaçamento das pistas está menor, ficou bem ruim”, afirmou a funcionária de uma loja na Gunter Hans. 

A avenida tinha virado um canteiro de obras inacabadas, o que ficou propício para acidentes na região. 

Portas dos dois lados resolvem caos no trânsito em outras capitais

Pelo país, outras capitais mostraram que a aquisição de ônibus com portas dos dois lados garantiram segurança aos usuários e velocidade ao transporte, a exemplo de Brasília e Curitiba.

Antes, na EPTG (Estrada Parque Taguatinga), em Brasília, a faixa funcionava de modo reverso em horários de pico. Com a nova frota de ônibus em 2020, o sentido reverso foi desativado. De acordo com a Agência Brasília, os moradores aprovaram a mudança, já que trouxe mais segurança para os passageiros. 

Segundo a Semob (Secretaria de Transporte e Mobilidade de Brasília), a aquisição dos ônibus com portas dos dois lados não acarretou custos para o governo porque foi prevista na licitação realizada em 2011.

O que diz a Prefeitura?

Em nota, a Prefeitura de Campo Grande afirma que os “pontões” foram instalados no centro da rua para não atrapalhar a passagem de pedestres nas calçadas. Confira a resposta na íntegra:

“A Agência Municipal de Trânsito informa que as estações de embarque e desembarque dos corredores do Transporte Coletivo são um dos elementos que compõem as exigências da operacionalização destes corredores e estão implantadas sobre ilhas para não obstruir as fachadas dos comércios e residências, bem como não impedir o acesso aos imóveis.

Além de não atrapalhar a caminhabilidade devido à largura insuficiente das calçadas para acomodar as estações de embarque e desembarque e impossibilitar a formação de guetos, trazendo maior segurança aos passageiros. As mesmas estão localizadas ao lado direito dos corredores, não havendo, então, necessidade de porta do lado esquerdo do ônibus.

As estações também são equipadas com iluminação, tomadas para carregar o celular e uma estrutura que permite os usuários se protegerem da chuva e do frio”, afirma.

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