Nesta quinta-feira, 23 de março de 2023, completa um ano desde que Campo Grande amanheceu sem a cobrança de parquímetros da empresa Flexpark, no Centro da cidade. O fim da cobrança se deu após a não renovação do contrato de concessão entre a empresa e a prefeitura. Um ano depois, a Capital ainda vive a incerteza sobre a volta da cobrança, consumidores passam raiva sem achar vagas ocupadas por carros que “moram” nas ruas e donos de estacionamentos privados comemoram aumento de até 50% no movimento.

Donos de estacionamentos comemoram o aumento no movimento nos últimos 12 meses. Bruno Mathias, de 25 anos, trabalha num estacionamento localizado na Rua Dom Aquino. O espaço, que ocupa quase uma quadra, não parou de receber carros e motos durante a visita do Jornal Midiamax.

Segundo Mathias, a procura aumentou em 50% desde que a Flexpark encerrou suas atividades na Capital. “Teve bastante aumento porque na Dom Aquino, logo pela manhã, como já não tem que pagar parquímetro, o pessoal que trabalha no centro já lota a rua. Então, os clientes que vêm para o centro não acham vaga na rua e, mesmo que queiram, não conseguem. Daí vêm para o estacionamento privativo porque é mais fácil e mais seguro para evitar batidas no carro”, explica.

Questionado se a contratação de nova empresa influenciaria no movimento do estacionamento, Bruno explica que o retorno do parquímetro seria uma concorrência. No entanto, “quem opta pela segurança acaba vindo nos estacionamentos privativos. Quem estaciona para ir numa loja rapidinho vai preferir o parquímetro”, diz.

Carros passam o dia nas vagas

Para todos os entrevistados desta reportagem, a falta de vagas logo pela manhã é o principal problema do Centro. Isso porque todas as vagas das ruas ficam ocupadas por funcionários do próprio comércio. Dessa forma, os carros ‘dormem’ nas ruas e são apenas retirados quando as lojas fecham.

Maria Alves de Queiroz é a mais nova dona de estacionamento no centro da cidade. Há quatro meses na região, ela explica que muitas vezes os locais privativos não conseguem suprir a demanda de clientes do Centro.

Maria Alves de Queiroz
Maria Alves de Queiroz (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

“Por não ter a Flexpark, a pessoa que deixava o carro estacionado como mensalista foi para as ruas para deixar o carro na frente dos seus trabalhos. A Flexpark ajudava ao mesmo tempo em que atrapalhava porque não dá conta de estacionar todo mundo nos estacionamentos. Então, quando a pessoa pensa se vai estacionar na rua ou no estacionamento, onde tem mais segurança, quem tem zelo pelo carro prefere o estacionamento”, opina.

Motorista fica ‘rodando’ ou paga para estacionar

Na região central, os estacionamentos visitados pela equipe de reportagem variam de R$ 6 a cada 30 minutos para carro, R$ 3 para moto. Já em outro ponto, o valor cobrado é de R$ 5 até 30 min e até 1 hora a R$ 6.

Enquanto isso, outro estacionamento privativo cobra R$ 5 a hora para moto, R$ 8 para carro e R$ 10 para caminhonete. Todos os estabelecimentos funcionam de segunda a sábado.

Pela dificuldade para estacionar nas vagas das ruas, principalmente porque os espaços são ocupados por funcionários do comércio, tem cliente que afirma preferir pagar para estacionar do que ficar ‘rodando’ para achar vaga.

Além disso, segundo empresária que possui casa de sucos na região, a prefeitura precisaria organizar novas vagas caso contratasse empresa para administrar parquímetros. “Vai precisar colocar vaga para idoso e cadeirante em toda rua”, diz.

A poucos metros dali, na Rua Barão do Rio Branco, o Jornal Midiamax flagrou duas caçambas de lixo ocupando espaço da vaga de idoso, por exemplo, o que diminui ainda mais as opções de estacionamento do público prioritário.

caçambas de lixo
Caçambas de lixo ocupam vagas de idosos no centro (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Cliente vai embora pela dificuldade de estacionar

Sebastião Mathias é gerente de estacionamento na Barão do Rio Branco há sete anos e afirma que a saída da Flexpark reduziu a procura de clientes mensalistas. Além disso, o comércio sai prejudicado pela dificuldade dos clientes na hora de estacionar os seus carros.  

“Os estacionamentos das ruas ficaram praticamente para os funcionários de loja que chegam cedinho e ocupam todas as vagas o dia inteiro. Antes para mim era melhor porque não compensava a pessoa deixar o carro o dia inteiro na rua pagando a hora, então os funcionários procuravam o estacionamento. Hoje não, os funcionários ficam o dia todo, não pagam mais e o cliente rotativo que vai ao centro para comprar não consegue vaga”, explica.

estacionamento privativo
Estacionamento privativo é alternativa (Foto: Nathalia Alcântara/Midiamax)

O homem ainda afirma que tem expectativa com o possível retorno dos parquímetros na Capital para voltar a movimentar mais o centro.

“Essa pessoa que fica o dia inteiro tira a vaga do usuário que precisaria estacionar para comprar na loja dela e, muitas vezes, o usuário fica com raiva porque não acha vaga e vai embora. Muitas vezes o cliente vai comprar em outros lugares, como nos bairros”.

Dessa forma, o retorno da cobrança dos parquímetros resultaria no equilíbrio de distribuição de vagas, segundo Sebastião.

Parquímetros voltarão em Campo Grande?

Essa é uma das principais dúvidas entre consumidores e motoristas de Campo Grande. Em fevereiro, o secretário da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos), Odilon Junior, disse ao Jornal Midiamax que o município analisa um novo termo de referência para contratar a empresa responsável pelos parquímetros no Centro da cidade e a previsão é que nova licitação seja aberta até o fim do primeiro semestre de 2023.

Na época, o secretário ainda disse que a Agereg, a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e a Sugepe (Subsecretaria de Gestão e Projetos Estratégicos da Prefeitura Municipal) participaram de reunião para debater termo que serviria de referência para nova empresa.

Em resposta a novo questionamento da reportagem, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que a licitação está em fase de “modelagem econômico-financeira”, e não precisou quando o certame deve ser publicado.

Concessão encerrada

A Flexpark foi uma empresa que ofereceu serviços de estacionamento rotativo na região Central de Campo Grande para ordenar o trânsito na região. Na época, o valor cobrado por hora era de R$ 2,50 e serviço funcionava de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Aos sábados, parquímetro era de 8h às 13h. 

O último dia de operação da Flexpark foi em 22 de março de 2022. A partir do dia 23 do mesmo mês, os quadriláteros da Avenida Fernando Correa da Costa a Avenida Mato Grosso e Avenida Calógeras à Rua Padre João Crippa ficaram sem cobrança nos parquímetros.

O encerramento das atividades da Flexpark foi um período conturbado na Capital. No ano passado, o Jornal Midiamax publicou reportagem sobre ação movida na Justiça pela Agetran (Agência Municipal de Trânsito) contra a Metropark Administração Ltda sobre a cobrança de R$ 237 mil referentes ao repasse que a Flexpark devia à prefeitura desde janeiro de 2022. Em menos de três meses, a empresa teve receita de R$ 807 mil com a exploração do serviço de estacionamento.

Conforme estabelecido em contrato firmado em 2012, mensalmente a Flexpark repassava à Agetran 28,5% da arrecadação da renda bruta obtida com a venda de créditos usados por motoristas para estacionar nas ruas da Capital.

De janeiro a março de 2022, último mês de operação da empresa, a Flexpark acumulou ganhos de R$ 807,7 mil que renderiam repasse de R$ 237.124,30 ao município. A dívida, contudo, demorou para ser paga. “A Agetran informa que o valor desta ação já foi pago pela Flexpark”, informou a prefeitura de Campo Grande.

Motoristas precisaram ser restituídos

Consumidores que pagaram a tarifa da Flexpark de forma antecipada e não conseguiram utilizar o serviço, devido ao encerramento, também precisaram ter seus créditos restituídos pela organização.

Em 2022, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) firmou TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com a Metro Park Administração Ltda., para a restituição de valores aos consumidores que pagaram tarifa.

No TAC, o Promotor de Justiça Luiz Eduardo Lemos de Almeida, titular da 43ª Promotoria de Justiça de Campo Grande, considerou que vários usuários-consumidores pagaram antecipadamente a tarifa pública pelo serviço de estacionamento rotativo, com aquisição prévia de créditos, mas o serviço não lhes foi prestado em razão do término do prazo de vigência do contrato de concessão nº 26/2002.

O início do pagamento foi em 20 de julho do mesmo até 20 de outubro do mesmo ano.

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(Foto: Arquivo / Midiamax)