Amor na terceira idade: idosos espantam solidão e contam até com ‘cupido’ em Campo Grande

Aula de dança une casais, que apostam no companheirismo para deixar a solidão de lado

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O casal Sandra Jardim Pedraza, 76 anos, e Dimas Alves da Rocha, 77 anos. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Envelhecer não deve ser sinônimo de solidão, e manter um relacionamento amoroso na terceira idade também é importante para a qualidade de vida, pois traz melhorias para a saúde física e psicológica do idoso. Sair para se divertir, namorar e conhecer novos lugares são atividades que precisam ser levadas em conta por quem está nessa fase da vida, já que muitos idosos costumam ficar mais isolados. Neste domingo (1º), é comemorado o Dia do Idoso.

Segundo a psicóloga Marilene Kovalski, a relação amorosa nesta fase é fundamental, pois favorece a retirada do foco daquilo que aflige o idoso, especialmente as doenças, limitações físicas, psíquicas, emocionais, e até mesmo a proximidade da finitude e da morte, que são causas de sofrimento para o ser humano de forma geral, e em especial os idosos.

“Os relacionamentos amorosos caminham no sentido inverso. A aposta é nos laços afetivos com os demais. Portanto, com a vida, e não com o fim. O amor favorece que a pessoa direcione sua energia, sua libido, aos cuidados pessoais e com a saúde, higiene, alimentação, etc. Com isso, se amplia as suas trocas e aposta na vida.  O ganho se torna expressivo com a saúde física, mental e social, tirando-o do isolamento, tão comum nessa fase”, explica.

O desejo de ser amado por outra pessoa é algo comum nos seres humanos, portanto laços amorosos fazem bem a qualquer um. “Estar nesse lugar de objeto amado pelo outro nesta fase, é estar pertencendo, incluindo, e saindo da posição de descartado pela civilização, como se não tivesse mais papel social”, afirma a psicóloga.

Aulas de dança contribuem para saúde física e vida amorosa

A professora de dança, Rosilene dos Santos, 54 anos, trabalha com a turma da terceira idade e conta que já uniu vários casais em suas aulas. Trabalhando há quatro anos no espaço atual, a professora vê a importância da vida amorosa na saúde física e psicológica de seus alunos.

“Eu falo para eles que o momento que tem para viver é o agora. Eles têm que viver o agora porque muitos acham que nunca vão encontrar mais ninguém. Você tem que acreditar que vai chegar alguém para você, e chega”, explica.

Rosilene é chamada carinhosamente de ‘cupida’ por suas alunas, já que ela é a responsável por ter incentivado vários relacionamentos. Segundo a professora, é perceptível a afinidade de cada um, e fica fácil de juntar os casais que começam a se interessar um pelo outro.

“Tem uns que ficam assim muito de olhinho [um no outro] e começam a conversar, e eu começo a cutucar eles. Eu vejo afinidades também, eu especulo a vida de um porquê eu estou aqui há 4 anos, e eu convivo mais com eles do que com a minha família”, afirma.

Professora de dança
A professora de dança, Rosilene dos Santos, é considera a ‘cupida’ da turma. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Romântica, Rosilene afirma que acredita no amor, mas dá a dica: o importante é ter compatibilidade nos gostos. E mais do que isso, ter companheirismo para acompanhar e incentivar o parceiro em suas atividades.

“Eles precisam gostar de fazer as mesmas coisas, gostar das mesmas coisas. Não adianta você viver à noite e a outra pessoa viver de dia. Os dois precisam viver um ao lado do outro. Por mais que não gosta, acompanha. Isso é parceria”, aponta.

A dança uniu mais um casal  

A aposentada, Sandra Jardim Pedraza, nunca quis ficar sozinha, e conheceu, aos 76 anos, uma pessoa que se encaixava com sua forma de pensar e de viver a vida. O casal se conheceu há 6 meses, na aula de dança, e logo perceberam que não conseguiam mais viver sem o outro.

“Para começar, eu nunca quis ficar sozinha, então achei uma pessoa mais ou menos da minha forma de pensar, educado e responsável, e eu me encantei com ele. A gente está junto há seis meses”, conta.

Casal terceira idade
Aos 76 anos, Sandra encontrou um parceiro que combina com seu modo de encarar a vida. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Sandra é viúva, mas acredita que ninguém deve ficar sozinho. O companheirismo e o respeito unem o casal, que adora sair para passear, viajar e frequentar os bailes da terceira idade.

“Já viajamos juntos para o Rio, fui conhecer os amigos dele lá. E gostamos de sair, ir para os bailes quando tem. No momento ainda estou na minha casa, e ele na casa dele, mas a gente pretende ficar junto, morar juntos”, comenta.

O namorado, Dimas Alves da Rocha, 77 anos, conta que Sandra fez a primeira abordagem, durante a aula de dança. Desde então, o casal começou a conversar e desenvolver a relação. “Eu estou aqui [na aula de dança] há seis meses, ela tem mais de um ano. Depois de um mês que eu estava frequentando as aulas e ela fez uma abordagem e começamos a nos falar”, explica.

Durante a entrevista, Dimas deixou claro que admira a personalidade divertida de sua amada, bem como sua animação para frequentar as festas da terceira idade. Mas o namorado também aprecia seu lado materno, capaz de equilibrar toda a família.

“Ela é baileira, baile é lei para ela. Nunca vi ela reclamar de cansaço para não ir ao baile. Para qualquer outra atividade ela reclama que está cansada. Mas eu acredito porque ela trabalha muito. Ela é matriarca da família dela e resolve tudo. Eu acho bonito o relacionamento dela com os filhos”, comenta.

Casal idosos
Dimas Alves da Rocha está feliz em seu novo relacionamento. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Em relação aos filhos, o apoio vem de ambos os lados. Dimas chegou a pedir a benção a um dos filhos de Sandra para seguir com o relacionamento, e foi bem recebido na família.

“A primeira vez que fui à casa dela, me convidaram para um jantar. Mas eu não aguentei terminar de jantar e falei: ‘Eu queria fazer um pedido para você. Pedir a benção para você. Eu e sua mãe já chegamos à conclusão de que não podemos viver longe um do outro. Queria que tivesse a sua concordância e você abençoasse a relação’. Ele disse que queria que a gente fosse feliz junto e viajasse muito”, conta.

O casal por enquanto mora em casas separadas, mas pretende, no futuro, morar juntos. “A gente quer morar juntos no futuro porque quem ama quer ficar junto, mas as coisas vão se encaminhando naturalmente”, conclui.

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