A quilômetros longe de casa, mães enfrentam ‘seu dia’ acompanhando filhos na UTI neonatal

A vivência inesperada em rotina no hospital frustra mães cansadas de esperar pelo calor do colo do filho

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Calor do corpo da mãe para o prematuro (Foto: Marcell Carvalho da Costa Rezende/Ilustrativa)

Dormir e acordar com saudade de casa e do conforto do lar. Essa é a sensação das mulheres que vivem a rotina de acompanhar o filho internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal. Em Campo Grande, o Dia das Mães será reservado por mais uma permanência no setor, à espera da alta do bebê.

Camila Rodrigues da Costa Ossinaga, de 23 anos, está a quilômetros de casa para ficar ao lado da pequena Isabela, que nasceu prematura de 30 semanas. A mãe precisou viajar de Corumbá para Capital de avião para a chegada da caçula, na previsão de parto urgente. Já são 15 dias em que não vê o outro filho, de dois anos.

“Estou morrendo de saudade dele, o coração fica apertado. Faço chamada de vídeo, ligação, mas queria estar apertando, com os dois em casa. A gente nunca imagina que vai estar numa UTI no Dia das Mães, mas só de saber que ela está melhorando, é um passo a mais para voltar para casa. No domingo passado fui visitar minha irmã, que mora aqui, fui de manhã e já estava louca para voltar para cá [UTI] ficar com minha filha. Não vejo a hora dela receber alta, e sei que está próximo, ela está melhor a cada dia”, descreve.

Camila e Maria contando as horas para voltar para casa (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

A corumbaense conta que viveu dias de choro e emoção. Isabela sofreu crises de apneia e início de complicação pela prematuridade, mas houve evolução para quadro estável e se aproxima a previsão da liberação médica.

“Aqui vivemos o extremo, por isso cada mãe apoia a outra. Nós oramos juntas, choramos e vivemos dias felizes. Ajudamos até crianças que a mãe parece que rejeita, que não vem visitar, fizemos até arrecadação para comprar fraldas para elas. É muito doloroso estar longe, queríamos estar com os outros filhos, mas estamos na luta e acreditamos”, disse.

Tudo por eles

O acesso é livre na UTI, segundo as mães, em qualquer hora ou dia para ter contato com o filho, mas com rigorosas regras sanitárias por prevenção à contaminação. Para “tomar um ar”, Maria Eliane do Nascimento, de 38 anos, se escorava na entrada de uma maternidade, conversando com a companheira de luta, Camila, sobre o cansaço de estar sentada em uma cadeira.

Como dito, as regras sanitárias são rigorosas; por isso, é proibido a entrada de pessoas com brincos, qualquer joia, celular, “não pode entrar com nada”, elas descrevem. Outra exigência são os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) a máscara, a touca e um jaleco. Em dias, a vaidade vai embora, a única importância ali é a vida do filho.

“A Maya nasceu com 32 semanas, mas meu parto foi induzido, com complicações por erro médico. Eu perdi muito líquido e viemos de Camapuã transferidas. Nesses dias, a família manda dinheiro, notícias, aqui só eu e ela. Tenho outros três filhos, são mais velhos e uma adolescente, mas não esperava estar aqui, ninguém espera”.

Touca sinaliza exigência de equipamentos de proteção (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

A rotina se restringe em dormir na Casa Mãe, setor onde as mulheres podem pousar para cuidar da criança, e saídas para a frente da recepção. “A saída que a gente dá é vir aqui na frente, conversar com outras mães, todas com o sonho de ir embora para casa. Sou dona de casa, não tenho emprego, mas larguei tudo para estar aqui”.

Bebê prematuro na incubadora (Foto: Marcell Carvalho da Costa Rezende/Ilustrativa)

“Estou com uma e longe das outras”

Tirar forças de onde não se sabe é a única maneira de enfrentar a luta longe da família. Edileusa Rodrigues de Oliveira, de 26 anos, acompanha a filha Isis Gabriele há 56 dias no Hospital Regional. O parto prematuro de 29 semanas obrigou mãe e filha a sair de Nova Alvorada do Sul.

“Estou extremamente ansiosa, esses últimos dias estão sendo de muito sofrimento, porque não tem uma previsão [de alta], ela está bem, já saiu da incubadora e tirou a sonda, mas quero ir para o quarto e ficar com ela. Tenho outras duas filhas, de 11 e 6 anos, a mais velha entende, mas a nova chora muito dizendo que quer ficar comigo e vir para cá. Estou com uma e longe das outras”, lamenta.

Edileusa está hospedada na casa de uma prima, no Jardim Columbia, cerca de 20 km até o hospital. As viagens resultam em despesas altas, só em corridas de carro de aplicativo são R$ 50 por dia. Apenas o marido trabalha, as crianças ficam com a babá e para ajudar, ela agiliza “bicos” para pagar as contas.

“A Isis chegou aos 2 kg em quase um mês, ela está melhorando, mas nos últimos dias minha vida está de cabeça para baixo. Depois de oito dias que tive ela, minha mãe deu entrada aqui no HR por problemas de saúde, ficou 25 dias entubada no CTI e eu tive que dividir entre ficar com minha filha e minha mãe, cuidar os horários de visita. Olha, eu pensei várias vezes em desistir de tudo, teve dias que chorei muito e não sei de onde tirei forças para estar de pé. Será um Dia das Mães muito difícil”.

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