Vítima de predação histórica, jacaré do pantanal ainda resiste à caça ilegal: ‘Querem a cauda’
Documentário lançado em MS fala sobre a atuação de quadrilhas neste tipo de crime e importância do consumo seguro
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Animal símbolo do pantanal, o jacaré também é lembrado por ser vítima da caça ilegal na região. Interessados principalmente na cauda, caçadores e quadrilhas especializadas neste tipo de crime saem em busca do animal silvestre, causando “desequilíbrio” em um período de 8 a 10 anos para que a natureza reponha este animal em todo o seu ciclo reprodutivo.
Documentário divulgado pelo CRMV-MS (Conselho Regional de Medicina Veterinária), nessa segunda-feira (17), busca combater a caça predatória e também mostrar a importância dos zootecnistas e médicos veterinários, os quais atuam para trazer mais segurança para a população, desde o monitoramento até o consumo seguro.
“Isso tudo nasceu quando fomos participar do resgate da fauna, em incêndios recentes ocorridos no pantanal. Nós vimos muitos jacarés boiando, em que tiraram somente a cauda, que é a parte nobre do animal e onde tem mais carne. O resto, descartavam tudo. Nós identificamos essa questão, discutimos com a Comissão de Animais Silvestres do conselho e aí nasceu a vontade de produzir o documentário”, afirmou ao Midiamax o presidente do CRMV-MS, Rodrigo Piva.
Na época, o conselho atuou no monitoramento da fauna na serra do amolar, além de realizar o transporte de muitos animais feridos até o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande.
“A intenção também é mostrar para a população a importância dos nossos profissionais, parte do nosso trabalho, do processo que fazemos parte, garantindo um alimento seguro na mesa da população. O médico veterinário e zootecnista atua em toda a produção da cadeia animal e, no caso do jacaré, nossa atenção é em relação ao abate clandestino. Antes do consumo, de maneira segura, estes animais devem passar pelas mãos do veterinário. Fazemos parte da inspeção, da tecnologia e questões ambientais”, explicou Piva.
No documentário, ao longo dos 12 minutos, é possível ver como o jacaré, qualificado como um “predador ágil, forte e perigoso”, desenvolveu estratégias de adaptação, sendo ele “um dos símbolos do pantanal” e um animal de “pele tão bonita e carne exótica”. Na década de 80, inclusive, foi um período da presença devastadora de grandes quadrilhas especializadas na caça ilegal destes animais na região.
Milhões de jacarés foram mortos de forma irregular
Ainda segundo o documentário, não existe um levantamento oficial, mas, a estimativa é que 2 milhões de animais foram capturados e mortos nessa época, de forma irregular. Décadas depois, a caça ilegal ainda é uma ameaça, não apenas para a retirada do couro, mas o consumo da carne exótica, uma iguaria na culinária.
“Uma das principais vítimas da predação, pela caça, aqui no nosso estado, é justamente o jacaré do pantanal. Ainda se propaga muito o consumo da carne, do animal abatido na natureza, então, quando a gente fala em produção de animais silvestres para o consumo humano, você abre um leque de opções, inclusive da sanidade, dos animais produzidos e também da questão da saúde pública, então, quando você vem pra produção, onde você tem o monitoramento sanitário destes animais, com o veterinário, o zootecnista, o biólogo presentes nas produções, você garanta a qualidade dessa carne para o consumo humano”, ressaltou a professora Paula Helena, médica veterinária e conselheira do CRMV-MS.
Produção de forma legalizada
O que muitos não sabem é que a produção dessa carne pode ser feita de forma legalizada, seguindo todas as medidas sanitárias e ambientais. É o caso do criatório na fazenda Caimasul, em Corumbá, localizado no pantanal sul-mato-grossense. Citado no documentário, o local possui cativeiros de forma legal e sustentável, desde 2013, mantendo o ciclo completo de cria, recria, engorda e abate.
“A caça ilegal proporciona um desequilíbrio muito clássico, é muito visível isso aí, porque a partir do momento que um caçador mata um animal, faz um mau uso do animal, o animal então, sem controle sanitário, faz mau proveito da carne. Normalmente pegam a cauda e é o que usam para alimentação e a reposição desse indivíduo, na natureza, vai ser muito longa. Vai demorar pelo menos de 8 a 10 anos para termos outro indivíduo, produzindo mais filhotes no pantanal”, explicou o médico veterinário e responsável técnico da Caimasul, Eduardo Borges.
Quem quiser assistir ao documentário na íntegra pode acessar o link: https://youtu.be/SHG55A7nCZk
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