Saiba como lidar em acidentes domésticos e aplicar os primeiros socorros em situações de vida ou morte
Especialista em urgência e emergência elencou os mitos mais frequentes e explicou como agir em afogamentos, queimaduras, cortes e outras circunstâncias de risco
Ranziel Oliveira –
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Queimadura, afogamentos, desmaios ou convulsões, os acidentes domésticos são figuras recorrentes no cotidiano dos campo-grandenses. Entretanto, saber aplicar os primeiros socorros em momentos de risco pode ser crucial para evitar uma tragédia maior, e até a morte.
O fisioterapeuta, enfermeiro, professor universitário e especialista em urgência e emergência, André Luiz Hoffmann, de 44 anos, desvendou os mitos mais comuns em relação ao primeiro atendimento em acidentes caseiros, e explicou como agir nesses momentos de crise.
Afogamentos
A primeira recomendação é se preocupar com a prevenção, em casa ou em eventos de família. “Antes de acontecer o melhor caminho é fazer a prevenção. Instale um cercado em volta da piscina. A pessoa que está responsável pela criança tem que ficar monitorando ela a uma distância segura de um braço, a todo momento. Se tem piscina em casa, incentive a criança a fazer aulas de natação. Em churrascos, o ideal é que alguém do convívio — que esteja sóbrio — fique prestando atenção só na criança”, detalhou.
Caso as orientações não sejam seguidas a chance de tragédias acontecerem é maior. Nesse caso, agir rápido é um grande divisor de águas. “Tire a pessoa da água o mais rápido possível. Verifique se ela responde e chame o socorro imediatamente. Se ela estiver inconsciente, é provável que a própria equipe de regulação dos Bombeiros instrua os primeiros atendimentos por telefone”, disse ele.
Queimaduras
São várias as formas de se queimar em casa: acender a churrasqueira com álcool, água quente, ferro de passar, queimaduras elétricas e outros. Porém, medidas simples podem evitar uma complicação maior no futuro.
“Pare o agente que está causando a queimadura e evite questões caseiras: não coloque pasta de dente, óleo ou café. Não coloque nada, fórmulas caseiras acabam complicando a cicatrização. Aplique água fria e gelada em abundância no local, e observe a extensão da queimadura. Se mais de 10% do corpo estiver queimado e geralmente se for de 2º grau para cima (quando formam bolhas) é recomendado buscar apoio médico. O mesmo vale se for de 1º grau, caso a dor ou vermelhidão aumente depois de 20 minutos”, explicou Hoffmann.
O especialista também desvendou o mito da pasta de dente e outras medidas caseiras para queimaduras, e explicou o porquê não devem ser usadas. “As pessoas acabam formando uma camada em cima dos fatores de cicatrização. Essa substância pode reagir e aumentar a lesão. A pasta de dente formará uma crosta, e depois será preciso retirar ela para fazer o tratamento tópico”, detalhou.
Desmaios
No caso de desmaios, o especialista explica que o organismo pode estar reagindo por um motivo que precede o fato. “Pode ter sido causado por uma diminuição no retorno do sangue, uma hipoglicemia ou crise de ansiedade. É importante investigar o motivo e procurar auxílio médico. Mas antes da pessoa desmaiar, o corpo apresenta sintomas: palidez, falta de ar e tontura. Se você perceber que alguém está relatando isso, você deve se preparar e pedir para que ela fique em uma condição confortável, sentada ou deitada”, disse ele.
Também é extremamente importante evitar que a pessoa caia. “O outro ponto do desmaio é a queda abrupta e o risco de bater a cabeça, podem ter outras consequências. Se ela voltar e não estiver se sentindo bem, com um quadro de confusão mental, chame uma ambulância. Sempre verifique o motivo, porque o desmaio não é uma coisa normal”, detalhou.
Convulsão
A convulsão pode ser causada por uma crise epilética, bater a cabeça, alterações metabólicas e outros fatores. A primeira medida é manter o ambiente seguro para a vítima.
“Primeiro, afaste móveis ou objetos que possam ser prejudiciais e que ela possa bater. Ela está com movimentos involuntários, segure a cabeça — mas sem apertar — e espere ela ter a crise, que geralmente dura de 3 a 5 minutos. Não precisa amarrar ou segurar o corpo. Outro ponto importante é marcar o tempo e quantas crises ela teve, para repassar ao socorro. Afrouxe a roupa — não é retirar —, pois ela pode ter a sensação de se sentir sufocada quando recobrar a consciência e afaste os curiosos”, pontuou.
A salivação ou vômito são coisas que podem assustar, mas que não são empecilhos para agir. “Nesses casos, faça a lateralizarão da cabeça — deixar a cabeça de lado — para desobstruir as vias aéreas. A saliva não é contagiosa e não é preciso ter medo”, disse Hoffmann.
Entre os equívocos mais comuns, colocar a mão dentro da boca para desenrolar a língua é muito popular, mas que jamais deve ser feito. “Erroneamente as pessoas colocam coisas na boca da vítima para desenrolar a língua. Não precisa colocar nada, quem está tentando ajudar pode até perder o dedo se fizer isso. A vítima não enrola a língua e as contrações involuntárias vão passar. Quando você lateralizar a pessoa, a língua irá acabar caindo de lado, e se ela estiver vomitando ou salivando irá escorrer”, explanou.
Cortes com faca
No caso de cortes e ferimentos com facas, o recomendado é comprimir o ferimento para que o sangramento pare. “Deve ser feita a compressão direta no ferimento com um pano limpo por 10 minutos, para que ela pare de sangrar. Se for em abundância ou na dúvida, procure atendimento médico imediatamente”, explicou.
Os mitos também estão presentes em acidentes com facas e cortes em geral. “As pessoas em casa utilizam de medidas caseiras para conter o sangramento, mas de forma alguma ponha qualquer outro dispositivo na ferida. Pó de café e sal vão piorar ao invés de auxiliar. Você tem um ferimento aberto, isso pode causar um quadro infeccioso dependendo do que você colocar. Se você colocar algo no sangramento você vai ter que fazer a limpeza depois porque é um corpo estranho que está ali dentro. Os fatores que são próprios do seu organismo vão agir para ajudar a fechar essa ferida”, detalhou.
Parada cardíaca, devo agir?
Em casos de parada cardíaca, saber o que fazer e acionar o socorro pode ser um diferencial entre a vida e a morte. “A pessoa está inconsciente, será que é um desmaio ou uma parada cardiorrespiratória? Aí reforçamos, chame o atendimento de emergência. Muitas vezes, durante a ligação, a central dos Bombeiros ou Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) irá fazer perguntas a quem estiver prestando os primeiros socorros para avaliar se esse paciente só desmaiou, ou teve uma parada cardíaca. Geralmente, quando o paciente não apresenta um padrão respiratório, o leigo é orientado pela central a iniciar a massagem cardíaca, orientado por telefone até o socorro chegar”, finalizou.
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