Recusa de moradores e falta de recenseadores fazem MS ser 5º estado mais atrasado no Censo 2022
IBGE tem dificuldades para contratar profissionais no Estado e preenche somente 60% das vagas
Priscilla Peres –
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Enquanto bolivianos vão às ruas pedindo a realização do Censo Demográfico, no Mato Grosso do Sul a situação é bem diferente. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) enfrenta uma série de dificuldades, que vão de omissão a humilhações, para concluir a pesquisa.
Mato Grosso do Sul é o 5º estado do país com menor percentual da população recenseada até 31 de outubro. Das 2.524 vagas abertas para contratação de recenseadores no Estado, o máximo preenchido foi de 60% e esta é a principal grande dificuldade enfrentada pelo IBGE em MS.
Coordenador Operacional do Censo em MS, Alex de Almeida Uchoas, explica que, atualmente, há 1.497 recenseadores trabalhando no Estado e oito vagas estão abertas. “Essa é nossa maior dificuldade hoje. Não passamos de 60% das vagas abertas preenchidas e aliado a isso temos muitos que desistem por diversos fatores, que vão desde dificuldades no pagamento até humilhações enfrentadas na rua”, conta.
Dificuldade na contratação de recenseadores
Mato Grosso do Sul abriu 2.524 postos para recenseadores no Censo 2022, mas nunca conseguiu preencher mais de 60% das vagas. Em algumas cidades, a situação é tão crítica que o IBGE desistiu de contratar pessoas e envia recenseadores de municípios vizinhos para realizar o trabalho.
A equipe do IBGE elenca possíveis explicações para o cenário. A primeira é que o Estado tem a terceira menor taxa de desocupação do país, ou seja, o nível de desemprego é baixo. A segunda é que o salário do recenseador é composto inteiramente de produtividade, o que antes era apontado como estímulo para o trabalho.
Ainda assim, considerando carga horária de 40 horas semanais, o valor médio de salário chega a dois salários mínimos. A grande questão é que essas horas não são no horário normal de expediente, pois é preciso de horários alternativos para encontrar as pessoas em casa.
“Hoje o IBGE avalia que talvez não seja o melhor modelo de contratação diante do atual cenário de mão de obra. Para o próximo Censo essa questão deve ser estudada mais profundamente”, afirma Uchoas, que ainda explica que no início do Censo 2022 houve problemas no pagamento que também pioraram a situação.
Coordenador de Divulgação do Censo 2022, Fernando Gallina destaca que com as redes sociais este é um problema que forma uma espécie de ‘má fama’ e dificulta novas contratações. “No início o IBGE teve problemas, mas a maioria por erros nas informações bancárias dos próprios recenseadores. Devido ao grande volume de contratações no país houve falhas, que foram superadas”.
Condomínios dificultam realização do Censo 2022
O acesso a moradores de condomínios tem se tornado uma dificuldade cada vez maior para o IBGE. Cientes da realidade principalmente de Campo Grande, o IBGE MS mapeou todos os condomínios da Capital e falou com um por um, seis meses antes do início do Censo 2022. Ainda assim, os problemas persistiram.
“O que a gente tem sentido, principalmente pela reclamação dos recenseadores, é uma recusa muito maior. São vários motivos, que vão desde segurança, até a polarização política do país, dificultam ainda mais a realização do Censo em MS”, afirma Uchoas.
Entre os problemas enfrentados com condomínios está a dificuldade na liberação do recenseador, o horário liberado e o acesso ao morador. Em um caso específico, houve um condomínio que deliberou em assembleia que não deixaria os recenseadores entrarem.
Diante de tantas situações, junto com a Advocacia Geral da União, o IBGE criou uma ordem de acesso aos condomínios, no caso específico de negativa do síndico ou administradora. “Para se ter uma ideia da quantidade de dificuldades que o recenseador tem para realizar seu trabalho”, relata Uchoas.
Desprezo e humilhações fazem recenseadores desistir do trabalho
No Censo 2022, o IBGE em MS tem se deparado com problemas que vão desde a falta de interpretação de texto por parte dos moradores notificados por carta de que o IBGE esteve ali, até Fake News rodando no WhatsApp de que responder ao Censo forjaria o resultado da eleição.
Mas as situações mais graves são as que envolvem desprezo e agressões verbais aos recenseadores, de forma como nunca havia sido registrado no Brasil. Uchoas afirma que diversos recenseadores desistiram do trabalho após serem maltratados pela população.
“Isso nunca foi uma reclamação formal como hoje. Vários se desligaram por isso. No geral, há uma despreocupação com a realização do censo. Tivemos casos de recenseador sendo maltratado, xingado, ignorados, principalmente em bairros de alto padrão e de classe média”, diz Uchoas.
Já Gallina explica que sempre houve problemas, mas tem algumas mudanças no perfil da população que devem ser consideradas neste ano. “A gente tem uma evolução da sociedade que levou as pessoas a ficar com muito medo e desprezo pelo outro. Hoje o nível de individualismo é mais alto, o que explica a questão dos condomínios, onde as pessoas estão bastante despreocupadas com o trabalho do IBGE, que vai gerar dados que vai beneficiar essas mesmas pessoas”, finaliza.
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